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Liderança

4 min de leitura

Como liderar negócios melhores para o mundo

As empresas e seus líderes precisam assumir uma postura mais ética e moral

Colunista Thomas Eckschmidt

Thomas Eckschmidt

23 de Maio

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Artigo Como liderar negócios melhores para o mundo

Recentemente, vimos uma atividade intensa nas redes sociais sobre um certo sanduíche de picanha que não continha nenhuma picanha, apenas um molho sabor picanha. A polêmica foi tão grande que o produto foi retirado dos cardápios. Logo depois, uma concorrente foi proibida de vender um sanduíche sabor costela porque ele não é feito de costela. Ambas alegaram que a descrição dos produtos estava clara e disponível aos consumidores.

Dias mais tarde, uma centenária empresa de produtos alimentícios se viu em situação semelhante, quando consumidores começaram a denunciar nas redes que ela estava vendendo “mistura láctea condensada de leite, soro de leite e amido” em uma embalagem muito parecida com a de seu tradicional leite condensado. A descrição do produto está na caixinha, mais uma vez dentro da lei, mas a semelhança pegou muita gente desprevenida.

Como será que foi o processo de desenvolvimento desses exemplos? Será que aqueles que criaram esses produtos são consumidores apaixonados ou apenas felizes com seus bônus financeiros?

Muitas perguntas surgem de atitudes do tipo. O que está claro é que isso é resultado do comportamento que os líderes dessas empresas têm.

Quando o departamento de desenvolvimento propõe um novo produto, o marketing aprova, o jurídico revisa, a comunicação organiza o lançamento, a cadeia produtiva se prepara para abastecer, as equipes de compras adquirem insumos e embalagens. Todos os envolvidos em um produto que engana e confunde o consumidor desavisado estão repetindo comportamentos e vivendo as expectativas do presidente ou CEO da empresa.

O que isso diz dos líderes?

O argumento “estamos cumprindo a lei” não serve mais. Não é o suficiente para um mundo transparente, para um mundo onde as empresas e seus líderes precisam assumir uma postura mais ética, mais moral, que não se resume apenas a cumprir a lei.

Ser mais eficiente já foi um diferencial. Ser net positive (não criar impacto negativo nas diversas dimensões de negócio) já é uma realidade. Hoje esperamos que as organizações sejam regenerativas.

Uma empresa que engana seus clientes está pronta para enganar seus funcionários, seus fornecedores, suas comunidades do entorno, os governos e os acionistas. A repercussão nas redes sociais coloca as empresas que agem focando no resultado a qualquer custo em situações delicadas. Hoje, o ativo de maior valor de uma organização é a sua reputação, então por que arriscar tão alto? O que leva um presidente de uma organização a fazer isso? Correr esse risco?

O tempo médio de um líder em posição de CEO ou presidente de uma grande empresa era de oito anos em 2016. Em 2020, caiu para 6,9 anos. O compromisso desses CEOs e presidentes é menor do que o das comunidades do entorno (não vão desaparecer), dos funcionários (o emprego é a sua única fonte de renda), dos fornecedores (que querem seguir crescendo com a empresa). Mas talvez não dos investidores, que querem ganhar mais dinheiro.

Veja Herb Kelleher, um dos fundadores da Southwest Airlines, uma empresa de aviação civil dos Estados Unidos que nunca apresentou um ano de prejuízo e nunca demitiu funcionários em massa. Ele foi conselheiro jurídico de 1966 até 1982 e CEO de 1982 até 2001. Será que esse compromisso de longo prazo tem alguma relação com 30 anos sem prejuízo em um setor em que grande parte das companhias aéreas já passou por uma recuperação judicial?

Kelleher, morto em 2019, foi um líder exemplar na forma de cuidar de suas equipes. Uma empresa que nunca cobrou para despachar malas e que tem um propósito “liberdade de voar” que é vivido e expressado em todas as suas relações e dimensões de negócios. O amor é um valor presente na Southwest Airlines – inclusive o código da empresa na bolsa de valores americana é LUV.

O que você está construindo para criar um mundo melhor?

Certo dia, estava colhendo mudas de uma árvore chamada pau-ferro. Minha filha de sete anos me ajudava. Do nada ela quis saber o nome da árvore. Mostrei um pau-ferro adulto, provavelmente de mais de 50 anos. Aí ela me perguntou por que eu estava plantando essa árvore se provavelmente não a veria daquele tamanho. Porque nem sempre plantamos árvores para fazer sombra para nós, algumas vão fazer sombra para aqueles que seguirão por nosso caminho.

Para aqueles líderes, CEOs e presidentes que estão colhendo tudo que veem pelo caminho, que ainda vivem no século passado, com a mentalidade de escassez, faço um convite para refletir:

  1. Quanto é o suficiente? Lembrando que o saldo de sua conta corrente pode crescer infinitamente, mas quanto você realmente precisa acumular? Quanto é suficiente?
  2. Como as pessoas vão se lembrar de você? Como aquele que criou o produto que enganava os outros e levou tudo o que podia? Ou alguém que criou um legado?
  3. Você vai ser lembrado pelas árvores que plantou ou como alguém que derrubou todas as árvores pelo caminho?

Fica aqui o convite para você repensar a sua jornada de liderança, honrar aqueles que contribuíram para o seu sucesso, pavimentar o caminho para os próximos e refletir sobre o quanto é suficiente para você.

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Autoria

Colunista Thomas Eckschmidt

Thomas Eckschmidt

Cofundador e ex-diretor geral do movimento do capitalismo consciente no Brasil, Thomas Eckschmidt é autor de Conscious Capitalism Field Guide e outros livros práticos para implementar os fundamentos de um capitalismo mais consciente. É ainda cofundador e CEO da Conscious Business Journey, uma rede de consultores com o propósito de acelerar a transformação para um ecossistema de negócios conscientes e atua como conselheiro em diversas empresas.Em seu site www.CBActivator.cc, Thomas disponibiliza um e-book sobre como ativar a consciência da sua organização. Ele encabeça o podcast Capitalista.Consciente, encontrado nos principais tocadores.

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