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Tecnologia e inovação

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Como o blockchain pode combater pandemias - parte 2

Prós e contras do uso da tecnologia na segurança e vigilância global da saúde

Colunista Tatiana Revoredo

Tatiana Revoredo

25 de Julho

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Artigo Como o blockchain pode combater pandemias - parte 2

No artigo anterior, falamos sobre os objetivos da agenda global de saúde e do blockchain como arquitetura ideal para transferência de dados de saúde. Também vimos as vantagens e limitações do uso dessa tecnologia em um sistema global de saúde.

Neste segundo artigo, vamos comentar sobre os sistemas de vigilância, os desafios do sistema global de saúde, a segurança e a importância do blockchain para uma vigilância de doenças em tempo real.

Sistemas de vigilância de doenças

A vigilância é feita para doenças infecciosas e doenças transmissíveis crônicas por todos os sistemas nacionais de saúde. De acordo com as prioridades nacionais, as doenças sob vigilância, que podem ser diferentes em cada país, devem cumprir o relatório de infecções listadas no Regulamento Sanitário Internacional da OMS.

Sistemas eficazes de vigilância e resposta a doenças são necessários para o controle de doenças infecciosas e a prevenção da propagação de epidemias. Se alguém contrair covid-19, por exemplo, é importante alertar os departamentos de saúde locais e as agências de saúde para identificar o contaminante.

Ao garantir um sistema de vigilância laboratorial confiável e ativo que forneça alertas precoces sobre a transmissão futura de epidemias, podemos ter um bom controle de doenças e estratégias eficazes de prevenção. Isso ajuda bastante na adoção de políticas de combate ao surto epidêmico.

Qualquer ameaça de doença infecciosa em qualquer parte do globo pode espalhar-se facilmente. A globalização não apenas aproximou pessoas umas das outras, mas também dos animais, aumentando assim a chance de transmissão de doenças entre animais e humanos, como a gripe suína.

Nesse quadro, a vigilância de doenças infecciosas é um processo contínuo, complexo e atualmente ineficiente, pois envolve um grande número de agências independentes que devem se reportar a um sistema de informações "centralizado" em nível nacional. Além disso, ainda é um grande desafio manter o fluxo de informações oportuno e preciso, pois há uma falta de incentivos para a equipe envolvida.

No que diz respeito à vigilância da saúde pública, uma plataforma blockchain pode ajudar as agências a gerenciar registros médicos com mais eficiência durante uma pandemia. Também poderia ajudar a rastrear informações para emergências de saúde pública em andamento, como uso indevido de analgésicos.

Diferentemente de um banco de dados tradicional, que é mantido por uma parte "centralizada", a tecnologia blockchain possibilita a transferência de valor (no caso, registros de dados como pesquisas de saúde, monitoramento de pacientes etc.) entre uma rede distribuída de computadores de alcance global. Quando usadas em uma iniciativa de saúde pública, essas redes peer-to-peer podem automatizar o compartilhamento e armazenamento seguro de registros médicos para as agências de saúde nacionais, estaduais e locais.

Bem por isso, o blockchain pode e deve ser usado para fornecer vigilância de doenças em tempo real, ajudando na reconciliação de dados que ajudam não só a identificar possíveis surtos ou ataques biológicos, mas a embasar os alertas imediatos para intervenção.

Baixas massivas podem ser evitadas se medidas preventivas, tratamentos com antibióticos e medidas de controle de doenças forem instituídas imediatamente. Não se pode esquecer que a falta de detecção oportuna tem sido repetidamente demonstrada na vigilância convencional de doenças em saúde pública, em que relatórios e análises de dados são reportados na maioria das vezes de modo “manual”.

No sistema atual, o médico solitário é cego para os casos observados em hospitais próximos, portanto não tem conhecimento de informações valiosas que, de outra forma, poderiam levá-lo a considerar outras doenças.

Segurança e agenda global da saúde

A segurança global da saúde (GHS) é uma responsabilidade compartilhada que não pode ser alcançada por um único ator ou governo e precisa da colaboração multissetorial de vários departamentos de saúde, segurança, meio ambiente e agricultura. Ebola, febre amarela, cólera, gripe aviária, nipah, zika, e coronavírus, são algumas das recentes infecções reemergentes.

A chave para o sucesso de tais ameaças é garantir um sistema robusto de vigilância de doenças em tempo real que compartilhe as informações instantaneamente, garantindo prevenção, detecção e resposta adequadas. A Agenda Global de Segurança em Saúde (GHSA), por sua vez, lançada em 2014, tem como objetivo abordar ameaças globais à saúde pública, fortalecer os sistemas, detectar e responder rápida e efetivamente às ameaças de doenças infecciosas e elevar a segurança global em saúde.

A GHSA é fruto de uma parceria de vários países com organizações internacionais, como Organização Mundial de Saúde (OMS), Organização para Agricultura e Alimentação (FAO) e a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).

A aplicação da tecnologia blockchain pode ser a chave para o alcance de um sistema de vigilância de saúde ideal, como já comprovado na Estônia. Lá, toda a infraestrutura de saúde pública é operada via blockchain. Isto é, a interação de cada paciente estoniano com qualquer participante da rede de saúde é registrada em uma rede blockchain, que preserva a segurança das informações e disponibiliza o acesso apenas a indivíduos e entidades autorizadas.

É claro que blockchain não é capaz de solucionar todos os problemas da saúde, mas seu uso num sistema global de saúde pode torná-lo mais barato, seguro, transparente, antifraude e interoperável. Além disso tudo, poderia auxiliar na identificação precoce de ameaças à saúde pública em tempo hábil.

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Colunista Tatiana Revoredo

Tatiana Revoredo

Tatiana Revoredo é LinkedIn Top Voice em Tecnologia e Inovação. Especialista em aplicações de negócios Blockchain pelo MIT Sloan School of Management, em Inteligência Artificial pelo MIT CSAIL, em estratégia de negócios em Inteligência Artificial pelo MIT Sloan School of Management e em Cyber-Risk Mitigation pela Harvard University. Estrategista Blockchain pela Saïd Business School, University of Oxford. Professora do curso Blockchain para negócios no Insper. Autora de três livros “Blockchain- Tudo o Que Você Precisa Saber”, “Bitcoin, CBDC, Stablecoins e DeFi”, e “Cryptocurrencies in the International Scenario”.

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