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Liderança

4 min de leitura

Equidade e potencialidades da liderança feminina

A maior riqueza que a mulher oferece ao mundo corporativo não está nas suas características específicas, mas naquilo que ela promove em equipes plurais

Colunista Margareth Goldenberg

Margareth Goldenberg

30 de Agosto

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Artigo Equidade e potencialidades da liderança feminina

“Quem sabe mais, o homem ou a mulher?”. A frase se refere a um antigo programa de TV, dos anos 1990, que colocava dois times um contra o outro. As equipes respondiam perguntas sobre temas diversos, reforçando alguns estereótipos sexuais e de gênero que, infelizmente, perduram até hoje.

Temas como a capacidade e a competência das mulheres, se são ou não melhores do que os homens, aparecem às vezes nas discussões sobre gênero e negócios de forma subliminar, nas entrelinhas. Pessoalmente, não gosto de dividir habilidades, endereçar esta ou aquela à mulher ou ao homem, porque o que faz um time ser diferenciado é a pluralidade. Ou seja, o equilíbrio entre os gêneros, as raças, orientação sexual, backgrounds, vivências, grupos sociais distintos e diversidade cognitiva.

No entanto, existem alguns aspectos que merecem uma análise mais aprofundada sobre as competências das mulheres, especialmente nos cargos de liderança. Se focarmos nas lideranças e nos desafios impostos pela covid-19, por exemplo, podemos conferir um estudo da Associação Americana de Psicologia que concluiu que estados norte-americanos governados por mulheres tiveram menos mortes pela doença.

Outro recorte destaca que a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Arden, e as governantes de Taiwan e Blangadesh, tiveram lideranças efetivas no combate ao coronavírus. Elas foram mais firmes nas ações de contenção, como quarentenas, testes e uso de máscaras.

Contudo, para enriquecer o debate, vamos ampliar nossa perspectiva: se os países liderados por mulheres estão administrando a pandemia de maneira eficaz porque a eleição de mulheres reflete sociedades onde há uma maior presença de mulheres em muitas posições de poder, em todos os setores?

A realidade brasileira

Uma pesquisa realizada pelo economista Raphael Bruce, do Insper, em parceria com seus colegas da Universidade de São Paulo e da Universitat de Barcelona, revelou que se metade dos 5.568 municípios brasileiros fossem liderados por mulheres, o País teria, provavelmente, 15% de mortes a menos do total acumulado ao longo da pandemia.

No entanto, a realidade é outra: só 13% das prefeituras são comandadas por elas que, aliás, fizeram um bom trabalho. O estudo indicou que, nessas cidades, o número de óbitos foi 43,7% menor se comparado com cidades lideradas por homens. O índice de hospitalização também apresentou uma redução média de 30,4%, na mesma comparação.

Voltando para o contexto corporativo, um estudo do FMI apontou que as mulheres são menos de 2% dos CEOs nas instituições financeiras e menos de 20% nos conselhos executivos. Só que as instituições lideradas por elas apresentaram mais estabilidade e resiliência nos tempos de crise.

Um maior envolvimento das mulheres resulta em uma perspectiva mais ampla da crise e abre caminho para o desenvolvimento de soluções mais ricas e completas do que se tivessem sido imaginadas por um grupo homogêneo.

Nos países estudados, ou em empresas, o poder é aprimorado pela natureza complementar dos gêneros. E esse é o valor agregado na gestão de negócios, tão estudado e comprovado, que indica que as empresas com um equilíbrio de gênero mais equitativo, principalmente em posições executivas, tenham melhor desempenho financeiro.

Nós, mulheres, somos mais empáticas e colaborativas. Também aprendemos a ser flexíveis, por conta das responsabilidades que assumimos nas nossas vidas – mães, parceiras, donas de casa, executivas, trabalhadoras, estudantes. Assim, nos times geridos por nós, existe mais diálogo e cooperação. Contudo, vale ressaltar que ser multitarefas não é algo que considero saudável. Vejo esse comportamento pelo olhar da imposição social que diz respeito mais sobre uma necessidade de sobreviver do que competência nata.

Além disso, nós, mulheres, temos a capacidade de nos adaptar ao novo, à mudança, porque a resiliência é outra característica feminina. Nossa história, durante séculos, tem nos ensinado a usar as dificuldades como alavanca para seguir em frente. Claro que existem exceções, como em tudo na vida, mas somos guerreiras, empáticas, solidárias e criativas.

Diferenças que geram equidade

No entanto, acredito que a maior riqueza que a mulher possui para oferecer ao mundo corporativo não está nas suas características específicas, mas naquilo que ela consegue promover quando trabalha com os homens, em equilíbrio.

As líderes de estados e cidades que citamos no início deste artigo não atuam sozinhas. Elas estão cercadas por suas equipes e, com certeza, contam com homens para ajudá-las a pensar e a tomar decisões. Esse, talvez, seja o aspecto mais significativo do ser mulher: garantimos espaços para as diferentes falas. Por isso, somos promotoras da diversidade e equidade. Não queremos “tomar” o lugar dos homens. Queremos atuar juntos. Não somos melhores ou piores do que eles, mas temos um valor inestimável para a prosperidade das sociedades e, consequentemente, dos negócios.

Ainda estamos longe da unanimidade sobre a nossa importância e o nosso papel, mas já avançamos bastante e, para a tristeza dos que não nos valorizam, o nosso sucesso é um caminho sem volta.

Tem mais: maternidade nas organizações

Na nossa próxima conversa, vamos refletir sobre maternidade e vida profissional. Tem empresa contratando gestantes para liderar equipes e organizações que continuam excluindo mães dos seus times, sinal de que precisamos falar mais sobre isso. Se você tem algum comentário a respeito, compartilhe aqui.

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Autoria

Colunista Margareth Goldenberg

Margareth Goldenberg

Psicóloga e psicopedagoga, especialista em direitos humanos e mundo corporativo. Há 27 anos atua nos temas de responsabilidade social, educação, diversidade e equidade de gênero em grandes corporações. Gestora Executiva do Movimento Mulher 360 e CEO na Goldenberg Responsabilidade Social e Diversidade, atua ainda como consultora estratégica e tática em diversidade e inclusão em várias empresas como Santander, Vivo, Roche, Eurofarma, Magazine Luiza, Globo, Suzano, Raia Drogasil, Fiat Chrysler, Gol , DPSP e Comgás, dentre outras.

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