fb

Diversidade e inclusão

4 min de leitura

Qual o seu sonho sobre diversidade e inclusão nas organizações?

Compromissos, mudanças, metas. O que diretores de D&I de grandes empresas querem para o futuro?

Colunista Daniele Botaro

Daniele Botaro

11 de Abril

Compartilhar:
Artigo Qual o seu sonho sobre diversidade e inclusão nas organizações?

Recentemente, tive a honra de participar da primeira reunião do Comitê de D&I (diversidade e inclusão) da Amcham Brasil. Eu e outros profissionais altamente qualificados e que ocupam a cadeira mais importante de D&I em empresas de grande relevância no mercado nacional e internacional tivemos que responder a pergunta que dá título a este artigo.

Em uma dinâmica mediada, cada participante contribuiu com sonhos e desejos do que nós, como profissionais de D&I, imaginamos que seria o mundo ideal no cenário de diversidade e inclusão nas organizações. A seguir faço uma lista do que eu interpretei sobre as contribuições do grupo.

Metas e indicadores

Muitos de nós acreditamos que metas e cotas de diversidade são o caminho mais rápido para fazer as mudanças acontecerem. Não dá para diminuir os 267 anos que levaremos para alcançar a equidade de gênero (vejam a campanha incrível do Burger King sobre isso), somente com boas intenções.

É preciso arregaçar as mangas e ter coragem de implementar processos e práticas. Mire na representatividade numérica que sua empresa gostaria de ter.

Apesar de acreditar muito nessa estratégia, eu quis levantar um ponto sobre isso. Será que as empresas têm maturidade suficiente para implementar essas metas ou cotas? Será que essa representatividade numérica fará com que as pessoas sejam realmente incluídas?

Eu ainda tenho uma visão de que estabelecer e medir indicadores de D&I como fazemos com indicadores de negócios é um passo necessário antes das metas. Se você faz reunião de “forecast de vendas” mensalmente com seu time, por que não implementar um “forecast de D&I”? Às vezes, só o fato de ter que prestar contas pode ser poderoso para mudar comportamentos.

Empresas unidas e influenciando mudanças

Me arrisco a dizer que 80% das empresas hoje fazem ou estão planejando fazer alguma ação de D&I. Porém, cada uma está seguindo uma estratégia e um caminho diferente, mesmo que todas aleguem ter o mesmo objetivo: tornar o mundo mais inclusivo.

Sendo assim, que tal se as empresas se unissem em acordos sobre indicadores e metas comuns? Será que essa pressão não seria sentida também pelas demais e isso até pressionaria o avanço de políticas públicas em prol da inclusão?

Compromisso legítimo da liderança

Uma das coisas que mais toma tempo no trabalho de D&I é a catequização da importância do tema e dos benefícios que D&I gera para os negócios. Líderes seguem firmes em continuar argumentando que isso não é prioridade, pois têm time para cuidar, cliente para atender e projetos para implementar.

Como diz Adam Grant, ninguém usaria hoje um computador com o sistema operacional Windows 95, mas muitos líderes seguem ideias lá de 1995. O dia em que pudermos focar nossa energia em construir ações conjuntas com os líderes de negócios, em vez de ter que convencê-los, aí sim andaremos mais rápido na direção da inclusão.

Diversidade precisa ser transversal

Apesar de existir uma área dedicada à inovação nas empresas, todas as áreas são cobradas por inovação. O RH precisa inovar no recrutamento, o financeiro precisa inovar e reduzir o tempo e a burocracia nos processos, administração e manutenção predial tem que inovar a cada segundo no novo modelo de trabalho híbrido.

Se todas as áreas da empresa pensam em inovação, elas também devem tratar diversidade e inclusão da mesma maneira. Precisa ser transversal.

Uma empresa deveria representar seus clientes

Vender, ter muitos clientes e escalar é o sonho de toda empresa, seja ela do tamanho e do ramo que for. Se você quer vender seu produto ou serviço para a maior quantidade possível de clientes, o quadro de colaboradores deveria representar essa audiência.

Hoje as mulheres são as tomadoras de decisão de boa parte das compras de uma família. Pessoas com deficiência estão acessando cada vez mais boas oportunidades de emprego e gastando seus salários em produtos e serviços.

Será que você continua criando produtos competitivos para consumidores e clientes tão diversos, com aquele time homogêneo que você tem? E o pós-vendas? Seu time está realmente preparado para pensar soluções inovadoras e resolver problemas? Reflita.

Diversidade não deve existir para resolver um problema

É muito comum que empresas criem as áreas de diversidade após uma situação que envolve risco à reputação de sua marca ou porque detectaram que existe um problema em determinada área da empresa. Que bom que a empresa está tomando uma atitude, mas isso não tem muito futuro.

Quando você começa algo porque realmente enxergou valor naquilo, os frutos colhidos renderão resultados muito mais produtivos. Eles encontrarão menos resistência na implementação do que quando a empresa decide fazer algo às pressas.

Que não exista mais a área de diversidade e inclusão

É isso mesmo que você leu. Entre os mais de 20 profissionais seniores de diversidade e inclusão de grandes empresas, foi unânime o desejo de que a área D&I não exista mais.

Quando atingirmos esse nível de equidade de oportunidades e justiça, aí sim o sonho estará realizado e D&I deixará de ser necessária. Até lá, voltamos no passo nº 1 e seguimos na jornada.

Compartilhar:

Colunista

Colunista Daniele Botaro

Daniele Botaro

Head de diversidade e inclusão da Oracle para a América Latina, ela também é embaixadora da Gaia+. Foi empreendedora, e sócia-diretora, da Impulso Beta, consultoria especializada em programas de diversidade.

Artigos relacionados

Imagem de capa O que o "dinheiro inteligente" diz sobre CEOs negros

Diversidade e inclusão

22 Março | 2024

O que o "dinheiro inteligente" diz sobre CEOs negros

Nos EUA, investidores institucionais já respondem mais positivamente à nomeação de CEOs negros do que o mercado de ações mais amplo e até aumentam suas posições acionárias. Será que isso será realidade um dia no Brasil?

Curtis L. Wesley II, Hermann A. Ndofor, Enrica N. Ruggs e Derek R. Avery

7 min de leitura

Imagem de capa Nudges pró-diversidadeAssinante

Diversidade e inclusão

01 Fevereiro | 2024

Nudges pró-diversidade

Pesquisas mostram que, para alterações mais profundas no ambiente de trabalho, times que optam por começar pelo treinamento individual antes do coletivo têm melhores resultados

Paola Cecchi Dimeglio