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Coluna: Ana Júlia Ghirello

3 min de leitura

Sobre joio e trigo

O que facilita a vida de uma startup é a força que nos falta em nossas empresas e em nossas vidas: o foco extremo

Colunista Ana Julia Ghirello

Ana Julia Ghirello

11 de Dezembro

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Artigo Sobre joio e trigo

Há quatro anos criamos a abeLLha para dar apoio aos empreendedores no começo da jornada: aquelas pessoas (empresários profissionais ou não), que enxergaram alguma oportunidade ou problema a ser resolvido, por meio de um novo negócio. 

Chamamos de começo de jornada, as empresas ou startups que estão no início da validação do negócio. Podem estar estruturando hipóteses a serem testadas, podem estar operando a primeira versão simplificada de seus negócios (a fase de incubação, que busca validar o produto mínimo viável - MVP) ou até — depois do entendimento de modelo de negócio mais escalável — buscando acelerar o crescimento e ganhar mercado para:

(a) começar a pagar bem as contas e crescer a margem de lucro;

ou

(b) buscar investimento para ganho de escala, onde entramos com investimento também.

Isso resume bem o que a gente faz na abeLLha. Apoiamos os empreendedores para que evoluam com solidez, nas fases que citei acima, com método, ferramentas, sessões de mentoria, conexão como mercado, capital e o que mais for necessário para descobrirmos (a gente e eles) o mais rápido possível se o negócio tem validade no mercado (pra citar palavras da moda: o famoso product-market-fit).

Mas se eu fosse escolher em definitivo uma das coisas mais importante que fazemos por eles, eu diria que é saber separar o joio do trigo: ajudar a descobrir no que focar e a operar a todo vapor nas poucas coisas que podem trazer o resultado mais relevante para o momento de cada um deles. 

Somos realmente bons em deixar pra lá o que não importa, em largar o osso, em desapegar, e virar a frota para a direção relevante (outro termo da moda: pivotar!) Expandindo o mesmo olhar para a vida, nas empresas que trabalhei e trabalho, o mesmo exercício se torna extremamente necessário.

O que facilita o foco extremo de uma startup, obviamente devido aos riscos e necessidade extrema de sobrevivência, é a força de focar que falta muitas vezes para fazermos o mesmo em nossas empresas e em nossas vidas.

Por que é que quanto mais uma empresa cresce mais se abraçam coisas que nem são assim tão relevantes? Por que a gente se pega falando sim para reuniões e projetos que “ah, não são tão relevantes mas nem tomam tanto tempo assim”. 

Por que não separamos tempo para refletir em nossas vidas pessoais sobre que projetos devemos parar, quais devemos começar e quais outros, ainda, podemos aprimorar?

Afinal, não seria o tempo nosso bem mais valioso? Não estamos, cada um de nós, vivendo tempos diferentes dos que foram e dos que virão? Por que não trazer para o dia-a-dia o hábito de analisar e agir, como faz uma startup, nas poucas coisas que realmente importam e que merecem nossa total atenção?

É clichê o paralelo vida-com-startup, porém essa reflexão tem me ajudado. O mesmo planejamento que levo para a abeLLha e para as startups que aceleramos tenho levado para a minha vida pessoal e isso mudou muita coisa pra mim. Passei a conseguir tempo pra fazer coisas que antes eu só afirmava não ter tempo. Passei a me perceber mais no processo e a ficar melhor em dizer muitos não e poucos “sims”.

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Autoria

Colunista Ana Julia Ghirello

Ana Julia Ghirello

Ana Julia Ghirello é CPO (executiva-chefe de produto) do Telecine e fundadora da abeLLha, aceleradora de startups e consultoria de metodologias ágeis em empresas estabelecidas.