Não basta ter eficiência energética: um data center sustentável requer uma infraestrutura adequada de tecnologia e de engenharia – saiba o que as organizações podem fazer
A adoção massiva de tecnologias digitais, como a computação em nuvem (cloud), a internet das coisas (IoT), as redes 5G e, mais recentemente, a inteligência artificial (IA), já não é mais novidade.
Há alguns anos, elas têm contribuído para diminuir custos e ampliar a segurança e a mobilidade no mundo dos negócios. Esse avanço vem chamando a atenção devido ao crescimento exponencial da capacidade de armazenamento e de processamento de dados gerados por data centers, por exemplo.
No entanto, se de um lado as organizações estão ganhando eficiência e escalabilidade graças a essa evolução, de outro as provedoras desses serviços enfrentam diversos desafios para se adequar a parâmetros mais sustentáveis.
Isso porque, embora seja vista como uma alternativa de baixo impacto ambiental para as empresas, as tecnologias digitais, quando democratizadas, demandam uma complexa cadeia de gestão de resíduos – e registram altos níveis de consumo energético.
Em dois anos, o consumo global de energia elétrica por data centers pode crescer até 1.050 terawatts-hora (TWh), que equivale ao total da demanda de energia de países como Alemanha e Japão.
Esse último item, aliás, mostra-se especialmente relevante à luz de um recente relatório, divulgado no primeiro semestre deste ano pela Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês). O documento prevê um crescimento inédito da demanda global por eletricidade, que pode mais do que duplicar até 2026, em razão do avanço dos data centers, da mineração de criptomoedas e da inteligência artificial.
A agência estima que, nos próximos dois anos, o consumo global de energia elétrica por data centers fique entre 620 e 1.050 terawatts-hora (TWh), a depender do nível da evolução tecnológica ao longo desse período. Para dar uma ideia da dimensão desse número, vale dizer que o cenário de maior crescimento equivale ao total da demanda de energia de países altamente desenvolvidos, como a Alemanha e o Japão.
Com essa conjuntura em vista – e tendo em mente que, há dois anos, os 460 TWh consumidos pelos data centers já representavam 2% de todo o uso global de eletricidade, ainda segundo a IEA –, cabe às empresas, sejam elas provedoras ou usuárias de serviços de armazenamento e processamento de dados, encontrar alternativas e soluções capazes de adequar suas operações a esse cenário alarmante e, assim, torná-las mais sustentáveis.
Nesse sentido, um dos caminhos a seguir é a busca por uma maior eficiência energética das organizações, a partir de iniciativas como:
De acordo com dados levantados pela IEA, o aumento da procura global por eletricidade, que deve ser de 3,4% até 2026, pode ser atendido por fontes energéticas renováveis, como solar, eólica e hidrelétrica.
No entanto, entre os principais obstáculos impostos ao avanço da eficiência energética na atividade dos data centers, ainda estão as medidas de climatização e manutenção da temperatura dessas instalações, que correspondem a 40% de sua demanda de eletricidade, além de exigir a disponibilidade de grandes quantidades de água.
Esse consumo crítico de água e energia, atribuído principalmente à necessidade de resfriamento dos equipamentos, tem sido contornado por grandes empresas com a transferência de seus data centers para regiões mais frias, onde são empregadas técnicas de “free cooling”, que aproveitam as baixas temperaturas do ambiente externo para manter a refrigeração das máquinas, diminuindo o uso de compressores.
Outra alternativa, menos dispendiosa e que vem sendo adotada também por companhias brasileiras, é a utilização de circuitos fechados de água, equipados com sistema de reúso para garantir uma melhor relação custo-benefício, além do reaproveitamento de recursos naturais.
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Em suma, é preciso que tanto as organizações contratantes como as fornecedoras de serviços de armazenamento e processamento de dados se comprometam com a adoção de soluções tecnológicas que levem em conta seu impacto sobre o meio ambiente. A manutenção da evolução digital só pode ser sustentável se vier acompanhada de iniciativas de mitigação e redução dos danos ambientais, conforme preconiza o conceito de Green IT (ou “TI Verde”).
Para que os data centers também se tornem genuinamente “verdes”, é necessário não só priorizar a máxima eficiência energética, mas também garantir que os demais aspectos do seu funcionamento estejam submetidos a uma infraestrutura de tecnologia e de engenharia ambientalmente responsáveis.
Desde a redução do uso de recursos naturais até o controle sobre os resíduos gerados, é preciso que as corporações estejam preparadas para responder não apenas ao mercado e à crescente pressão por operações menos poluentes e alinhadas à pauta ESG, como também às regulações locais vigentes, cada vez mais preocupadas com o impacto ambiental gerado pelo volume exponencial de dados armazenados e processados pelos data centers mundo afora.
Artigo assinado por Marcelo Bernardino, CEO da Indra e da Minsait no Brasil e conselheiro suplente da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom).