Uma boa e diversa rede de contatos é bom não só para carreira, mas também para a inovação dentro das empresas e a difusão de práticas mais responsáveis
O sociólogo francês Dominique Wolton afirma que comunicar é conviver, e talvez por isso a comunicação permaneça como um dos principais desafios nas organizações. Em seu livro “Informar não é comunicar”, ele destaca que a comunicação vai além da simples transmissão de informações; ela exige elementos adicionais, como intenção e sensibilidade, para realmente estabelecer conexões e entendimento entre as pessoas.
Quando conheci a trajetória de Martha Leonardis, que liderou a área de responsabilidade social de um dos principais bancos de investimentos do país por mais de uma década, fiquei intrigada com os caminhos pouco convencionais que a tornaram a profissional que é hoje. Advogada de formação, ela mergulhou no setor financeiro e, recentemente, iniciou uma nova jornada como empreendedora.
Ao longo dessa trajetória, Leonardis sempre reforçou a importância dos relacionamentos como motores de oportunidades, destacando o papel da tecnologia para potencializar essas conexões. Com o advento das redes sociais e comunidades profissionais, a forma de se conectar e identificar tendências e necessidades de mercado se transformou, criando novas possibilidades para líderes e organizações.
No campo de ESG (em português, ambiental, social e governança), os relacionamentos tornam-se ainda mais estratégicos, assumindo um papel essencial no avanço de práticas responsáveis. Leonardis destaca que a construção de redes voltadas para a sustentabilidade e a responsabilidade social vai muito além dos benefícios financeiros imediatos. Para ela, essas conexões devem criar impactos sociais e ambientais positivos, fortalecendo a reputação e a legitimidade da organização diante de uma base diversificada de stakeholders.
Adam Grant, pesquisador e professor da The Wharton School of the University of Pennsylvania (EUA), explora essa ideia em seu livro Dar e Receber, no qual argumenta que os indivíduos mais bem-sucedidos em diversas carreiras são os chamados “doadores” — pessoas que cultivam uma rede com um genuíno interesse de apoiar seus colegas. Os doadores têm o hábito de ajudar sem esperar benefícios imediatos, e, ao fazê-lo, não apenas alcançam o sucesso, mas também criam um ambiente onde os outros podem prosperar, promovendo uma cultura de colaboração e sucesso compartilhado.
Furar bolhas: D&I como motor de inovação
Recentemente, em uma conversa com Leonardis, falamos sobre como a observação de uma necessidade específica do bancos de investimentos onde atuava tornou sua atuação cada vez mais estratégica. Quando eventos corporativos ainda não eram tão comuns, ela viu a oportunidade de se aproximar dos clientes e gerar mais negócios.
Para ter sucesso, furar bolhas é essencial. Isso significa não apenas romper com as barreiras tradicionais do networking, mas também abraçar a diversidade e a inclusão como motores de inovação.
No Brasil, um país marcado pela diversidade, o contato com perspectivas variadas não só enriquece o debate, mas também impulsiona a criação de soluções mais inovadoras e sustentáveis. A inclusão de perfis distintos em sua rede de contatos permitiu que Leonardis desenvolvesse novas oportunidades de negócios e fortalecesse a cultura de inovação na organização.
Segundo uma pesquisa da McKinsey, empresas com equipes diversas têm 39% mais chances de superar seus concorrentes em termos de rentabilidade. Essa evidência reforça a ideia de que redes diversificadas são cruciais para os negócios e a inovação.
Os três ativos mais valiosos que podem alavancar carreiras e negócios são o tempo, o conhecimento e o dinheiro. No entanto, nem todos têm acesso imediato ao conhecimento ou aos recursos financeiros necessários para expandir, o que torna a habilidade de se relacionar um fator crucial.
A flexibilidade e a visão de longo prazo, focando em negócios sustentáveis, são elementos essenciais nesse processo. Em vez de esgotar as relações durante uma negociação, é fundamental enxergar cada interação como um investimento. Esse entendimento contribui para a construção de organizações que não apenas retêm talentos e solidificam sua reputação, mas também se destacam no mercado.
Na era da tecnologia e de práticas de ESG, a capacidade de construir e gerenciar uma rede de contatos diversificada tornou-se uma alavanca estratégica para a inovação em gestão. Ao criar conexões que atravessam diferentes setores, regiões e culturas, líderes acessam um leque mais amplo de insights e práticas que alimentam a inovação contínua.
O historiador israelense Yuval Noah Harari, em seu último livro, Nexus: Uma Breve História das Redes de Informação, da Idade da Pedra à Inteligência Artificial, avalia como o fluxo de informações moldou as interações sociais no mundo em que vivemos. O autor traz uma perspectiva em que as informações cultivadas dentro de relacionamentos são particularmente valiosas, porque tendem a ser mais precisas, relevantes e confiáveis.
É possível concluir que um olhar atento e uma rede de contatos bem cultivada são peças-chave para antecipar tendências e responder rapidamente a mudanças, transformando informação em ação. Mesclar bons relacionamentos e diversidade define o sucesso individual e também pode moldar o futuro mercadológico.