Muitos gestores não prestavam atenção aos chamados “problemas perversos”, ou “mal postos”, focando só os “problemas domados”, “bem-postos”. Isso, até a pandemia. Agora, eles revisam suas premissas e, por conta disso, espera-se ver nas organizações a ascensão dos designers, os profissionais mais aptos a lidar com isso
Quando falamos em inovação e em gestão, existe sempre um aparente paradoxo: ao mesmo tempo que é clara a necessidade de inovar para aumentar a competitividade, se entende que o gerenciamento dessa mesma inovação será tão complexo e custoso quanto o nível de disrupção adotado no processo.
Nesse sentido, se compreendemos que o resultado da inovação se categoriza no modo de uma escala (do incremental ao disruptivo) e o gerenciamento de instituições sempre tem como princípio uma racionalidade econômica em busca do menor custo, é compreensível que em várias empresas os processos inovativos sejam mais aplicados em sua forma incremental. Até mesmo que se busque a construção de um discurso que privilegie novas modalidades de otimização e eficiência na produção industrial, numa abordagem muito semelhante às noções mais “seguras”” dentro do Pós-fordismo.
Se, no mercado, um ambiente por mais fluido e volátil que seja ainda é controlado, se discute como podemos dar passos cautelosos para uma inovação sustentada. Às vezes, a Realidade (com R maiúsculo) se impõe de formas bruscas, que nos jogam fora dessa zona de conforto gerencial. É assim com a crise climática, apesar dos eventuais negacionistas e, principalmente, foi assim com a chegada do Coronavírus.
Por meio de uma mudança anteriormente inconcebível nas nossas vidas enquanto indivíduos (isolamento forçado, mudanças de hábitos radicais…) e transformações nas empresas que, até recentemente, seriam impensáveis (mudanças em massa para home-office, pivotagem de modelos de negócios até então “seguros”), chegamos a esta nova realidade que deixa claro que o mundo não será mais o mesmo no pós-Covid-19.
Se ações foram tomadas pensando em sobrevivência nesse momento de instabilidade, também se torna necessária a reflexão de como lidar com fenômenos assim, de extrema complexidade e imprevisibilidade, que venham a acontecer no futuro.
Um dos modos de se preparar é entender o que chamamos acima de Real (com o R maiúsculo) como um elemento dentro da nossa realidade que é tão estranho ao nosso dia-a-dia que faz com que essa realidade não faça sentido para nós, logo, ela é evitada e nos passa despercebida.
Se, em conjunto com a computação, usamos de biologia e epidemiologia para prever e tratar novas pandemias, é com o design e por meio desse conceito de Real, tomado emprestado da psicanálise, que tratamos das possíveis novas emergências que estão por vir, para além das pandemias.
Na história do design, a definição desse tipo de problema – que nos escapa da realidade de tão complexos – é conhecido pelo termo Wicked Problems. Essa grande categoria, criada pela necessidade de entender a natureza dos problemas que levam ao fracasso de iniciativas importantes para a sociedade, é designada no termo em inglês traduzido livremente como “”problemas perversos” ou problemas mal-postos em contraponto aos “”problemas domados””, até então tratados pelas ciências.
Tais problemas domados se entendem como problemas bem definidos. Bons exemplos são a resolução de uma equação, a análise de uma nova estrutura molecular e o xeque-mate por um enxadrista em 5 movimentos.
Já os problemas mal-postos têm certas características, mapeadas no artigo seminal _Dilemmas in a general theory of planning,_ de Rittel e Webber, publicado em 1973. Eles apontam como em vários casos algumas dessas características que se repetem:
As reflexões sobre essa nova classe de problemas, iniciadas por Rittel e Webber, foram revisitadas e atualizadas por Buchanan e Burge e McCall, entre muitos outros. Vários desses pesquisadores apontam a demanda para sua solução de uma gestão que apresente uma abordagem profissional, demandando uma visão de “rede” no lugar de “caixas”.
Em meio a esse cenário, ocorre uma expansão da atuação dos _designers_ nesse papel de gestão de times de inovação. Tendo como diferencial em seu perfil a capacidade de aprender com outras disciplinas e atuar como articulador de conhecimentos e atividades em equipes multidisciplinares, buscam a partir de novos olhares, a construção de uma inovação disruptiva, totalmente voltada para o Real. Portanto, para enfrentar os problemas mal-postos de hoje e do futuro, um bom caminho é começar a fortalecer o papel dos designers dentro das organizações.