Os investidores prestaram atenção aos testes de um fármaco desenvolvido por uma empresa brasileira de biotecnologia, a Recepta Biopharma, e licenciado para a norte-americana Mersana, que com ele desenvolveu um medicamento para o câncer
Por que as ações de uma empresa de biotecnologia norte-americana subiram 69% no dia 27 de maio de 2020? E qual a sua relação com o desenvolvimento científico brasileiro?
No atual contexto de pandemia, você poderia pensar que estamos falando de plataformas digitais para telemedicina ou mesmo de uma vacina, medicamento ou diagnóstico para a Covid-19. No entanto, esse evento aconteceu devido à divulgação dos resultados preliminares dos testes clínicos de um dos produtos da Mersana Therapeutics, uma nova droga para o combate do câncer de ovário.
No relatório, veio a público que os testes obtiveram resultados promissores, demonstrando a segurança e a eficácia do medicamento. No grupo de 20 pacientes habilitados para resposta ao tratamento, a taxa de controle da doença (DCR, na sigla em inglês) foi de 80%. Esse resultado significa que 16 pacientes que possuíam câncer avançado ou em metástase não mais tiveram a presença de tumor identificado, reduziram o tumor ou estabilizaram seu desenvolvimento (fonte).
Esse novo medicamento, chamado de XMT-1563, consiste na combinação de uma toxina e plataforma desenvolvidas pela Mersana com uma tecnologia de uma empresa brasileira de produção de anticorpos, a Recepta Biopharma (ReceptaBio). Em julho de 2015, essa tecnologia alcançou o status de ser a primeira licença internacional de uma droga brasileira, detendo a ReceptaBio os direitos de milestones, royalties e de comercialização no Brasil.
A Recepta Biopharma é uma empresa brasileira de biotecnologia dedicada à pesquisa e ao desenvolvimento de novos fármacos – anticorpos monoclonais e peptídeos – para serem utilizados no tratamento do câncer.
Fundada em 2006 pelo cientista e empreendedor José Fernando Perez, professor titular de Física da Universidade de São Paulo (USP) e ex-diretor científico da Fapesp, a ReceptaBio também contou com investimentos e apoio do BNDES, Finep, empresários brasileiros e do Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer. Conta também com desenvolvimento e parceria com diversos centros de pesquisa no Brasil, como o Instituto Butantan, a Faculdade de Medicina e o Instituto de Biociências da USP, bem como com a Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp).
Além do licenciamento pioneiro e resultados promissores com a Mersana, a ReceptaBio possui mais dois produtos licenciados para outra empresa americana listada na Nasdaq, a Agenus. A principal meta da Agenus para 2020 é a submissão a ensaios clínicos de novos medicamentos desenvolvidos pela ReceptaBio, que por sua vez possui direitos exclusivos de produção, desenvolvimento e comercialização para o Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Peru e Venezuela e royalties sobre as vendas líquidas.
A ReceptaBio é um exemplo de inovação de base científica que devemos estimular no Brasil. Além da ambição e audácia de procurar a solução de um problema complexo e global, a empresa possui parcerias internacionais, potencial global e um profundo conhecimento científico embarcado nos seus produtos e desenvolvimentos. Destaca-se também a composição da equipe formada por profissionais altamente qualificados, com experiências científicas e comerciais relevantes. Soma-se a esses ingredientes a política científica, tecnológica e de inovação de longo prazo promovida pelo governo, que permitiu não só a formação de capital humano, mas também de infraestrutura de pesquisa em centros de excelência.
A ReceptaBio comprova, como pode ser visto no gráfico do início deste texto, que investimentos estratégicos em ciência e inovação realizados por governos, empreendedores e grandes empresas, além de solucionar os problemas globais, podem gerar retornos exponenciais.
Para conhecer mais dessa história, recomendar ouvir a entrevista de José Fernando Perez, fundador e presidente da Recepta, no podcast Inovação com Ciência. Acesse aqui.”