É hora de jogar fora pesos-mortos como os nossos vieses e preconceitos – e ativamente investir na diversidade. Para inovar, desaprender o velho é até mais fundamental que aprender o novo
“The illiterate of the 21st century will not be those who cannot read and write, but those who cannot learn, unlearn, and relearn.” Alvin Toffler
Por que você está lendo essa revista? Certamente está buscando conhecimento e esperando aprender algo novo. Em uma era cada vez mais inflada de informações por todos os lados, o maior desafio cerebral que temos hoje é o de sobreviver a essa enxurrada de conteúdo que nos bombardeia todos os dias.
Inovação tem sido a palavra de ordem desse mundo. Empresas não sobrevivem, governos não se sustentam, escolas não atraem e até relacionamentos que não se reinventam acabam . A questão é: estamos tão focados em acumular informações para ter novas ideias que nos esquecemos de dedicar atenção a fazer uma limpeza naquilo que se torna obstáculo para que o novo possa chegar.
MBAs, especializações, summits e mais summits em busca de aprendizado. Falamos tanto em aprender, que só de mencionar o conceito DESAPRENDER pode parecer insanidade. Mas você já se perguntou quantas vezes teve que se reinventar e deixar de fazer algo da maneira que sempre foi feito, mesmo dando resultados, para criar algo realmente novo e de valor? Quando falamos de desaprender ainda temos que pensar como reaprender a nos comportar diferente, mas isso é assunto para outro artigo.
> Se entrasse um leão no lugar onde você está, qual seria sua reação? E qual seria a reação de um bebê de 10 meses?
Gosto de pensar que recebemos uma mochila quando nascemos e nela vamos colocando o que surge em nosso caminho: comentários, observações, conceitos e crenças que estabelecemos como nossas verdades, de acordo com as experiências que vivenciamos. Por exemplo, se entrasse um leão no lugar onde você está nesse momento, qual seria sua primeira reação? Vamos supor que esteja em um escritório de uma agência de propaganda. Você pensaria calmamente “Ah, deve ser um leão treinado que veio para a campanha da marca tal e, por isso, continuarei aqui tranquilamente lendo minha revista”? Provavelmente não. Em nossas mochilas há vários episódios que nos ensinaram que leões são ferozes e atacam humanos, seja nos livros de biologia, em documentários na TV ou, até mesmo, em filmes infantis. Mas eu te pergunto: qual seria a reação de um bebê de 10 meses de idade que estivesse na sala? A chance de o bebê ir até o leão para brincar com ele é muito grande, pois em sua mochila ele ainda não tem guardado nenhum pré-conceito que conecte o leão à uma situação de perigo.
Essa situação nos mostra que nossos pré-conceitos (que hoje recebem nas empresas o nome chique de “vieses inconscientes”) foram e continuam sendo importantíssimos para nos manterem sãos e salvos. Agora, será que todos eles deveriam ser mantidos? Em nossas mochilas, guardamos imagens de homens saindo à rua para trabalhar e construir suas carreiras e mulheres ficando em casa com filhos e afazeres domésticos. Não colocamos na nossa mochila histórias de pessoas com deficiência que iam à escola conosco ou que trabalhavam ao nosso lado nas empresas. Não colocamos em nossa mochila, professores e líderes negros ou LGBT+ ou mulheres ocupando posições de liderança, enquanto seus maridos podem escolher estar com seus filhos.
Desaprender isso tudo é muito difícil e não há MBA que nos ajude. Já vi milhares de anúncios de especialização em gestão disso e daquilo, mas nunca vi um para nos ajudar a ser uma pessoa melhor. Não que sejamos maus por termos vieses inconscientes. Isso só nos mostra que somos humanos. Por isso, sempre digo em treinamentos que o primeiro passo é aceitar que todos temos nossos _unconscious biases_ e preconceitos. Uma vez feito isso (de preferência diante do espelho) está na hora de abrir nossas mochilas e entendermos quais são os nossos e como queremos lidar com eles.
Não adianta dizer que não é homofóbico ou homofóbica e argumentar que tem até amigos gays. Ou que não é machista e que tem até uma mulher em seu time. Ou dizer que não teria problema em ter negros no seu time, mas eles não se candidatam às vagas. Quando repetimos essas frases estamos dizendo que somos pessoas boas e que demos o “check” nessa atividade da nossa lista. Quando falo em sermos melhores pessoas, estou falando em ativamente ter diversidade e proporcionar a inclusão desses grupos na sua empresa. Respeitar é imprescindível, mas valorizar e criar oportunidades é dar um passo a mais.
> Não adianta dizer que não teria problema em ter negros no seu time, mas eles não se candidatam às vagas
A solução criada pelo professor Vijay Govindarajan conhecida como “estratégia das três caixas” defende que, para grandes inovadores criarem o futuro ,é necessário gerir o presente e seletivamente esquecer algumas coisas do passado. Minha intenção nesse espaço será sempre a de convidá-los a abrirem suas mochilas, mentes e corações para o futuro, deixando no passado tudo aquilo que hoje não faz mais sentido.
Você quer criar o futuro? Comece pela sua mochila.