“Não adianta torturar os números”, diziam meus professores de jornalismo, lá no início dos anos 1990. Naquele momento, os principais jornais batiam muito na tecla de que era preciso embasar o noticiário com dados e estatísticas, para tornar as informações o mais objetivas possível. Mas os professores, ciosos da ética e críticos à prática atropelada do jornalismo diário, não se cansavam de nos lembrar que os números exigem interpretação, já que sua aparente objetividade também pode gerar distorções. No jornalismo e na empresa, não adianta torturar os números até que eles confessem, como prega o aforismo, de autor desconhecido.
Lembrei disso editando o Report especial desta edição, que trata de indicadores-chave de desempenho – os famosos KPIs.
Assim como na hora de escrever notícias, definir essas métricas também pode facilmente se tornar um processo distorcido, ainda que por razões distintas. Acontece que é muito mais fácil a liderança querer impor à organização os KPIs que considera mais adequados, definindo-os de cima para baixo, do que deixar que esse processo seja como deve ser – bottom-up, orientado por dados.
Não à toa David Kiron inicia seu artigo pedindo desculpas a Peter Drucker. Segundo ele, não basta mais definir o que medir para saber o que pode ser melhorado, como dizia o pai da administração moderna; no século 21, o modo como definimos o que medir é que nos diz como podemos melhorar o desempenho nessa área. Isso porque, nestes tempos marcados pela incerteza, os KPIs definitivamente mudaram de função – do controle para o aprendizado. Sendo assim, o uso de dados e a aplicação de inteligência artificial modificam para sempre a maneira como descobrimos nossos novos indicadores-chave de desempenho – já que ficou necessário revisá-los periodicamente para que se alinhem com as mudanças frequentes na estratégia organizacional. Também falamos da relação entre KPIs e transformação digital e do sonho (utópico?) de encontrar um único KPI, um que seja matador.
No Report Brasil, a seção dedicada a autores brasileiros, trazemos uma discussão muito importante nas empresas: usar ou não plataformas low-code/no code? Houve um tempo em que as empresas julgavam que ter tecnologia proprietária era o único caminho para o sucesso na economia digital. Será? Em tempos em que se debate se há, ou não, uma bolha no universo das startups, essa discussão pragmática parece ter ficado ainda mais pertinente do que normalmente seria.
Nesses tempos de hackers e vazamentos surpreendentes, o pragmatismo nos pede ainda um artigo sobre as tecnologias PET, que garantem mais segurança mesmo com o compartilhamento de informações. E para não dizer que ignoramos o hype do metaverso, também ele é tratado no Report Brasil, em respeito a todo o interesse que vem despertando, mas igualmente com pragmatismo e cuidado – afinal, de modismos explosivos o universo tecnológico está cheio.
É possível que o leitor nos questione por falarmos tanto de tecnologias e dados e cibersegurança e KPIs movidos a inteligência artificial quando a dura realidade é que faltam profissionais para fazer tudo isso.
Pois temos um artigo pragmático também sobre esse assunto: se o problema é a escassez de talentos, Ravin Jesuthasan e John W. Boudreau propõem dividir cargos em tarefas e redistribuí-las.
Até as reflexões propostas nesta revista têm um viés claro de praticidade. Uma delas diz respeito ao desafio de lidar com nossos colaboradores neste mundo tão cheio de propósito e de ativismos, uma dor que muitos líderes vêm sentindo no Brasil.
Outra é um novo questionamento da inteligência artificial, ante o reconhecimento de que nos é cada vez mais útil: devemos mesmo deixar que ela pense por nós? Boa leitura!
A 11ª edição da MIT Sloan Management Review Brasil tem como tema principal os indicadores-chave de desempenho
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