Empresas apostam na circularidade para ir além da sustentabilidade e aplicar tecnologias disruptivas na criação de modelos de negócio regenerativos
Ser sustentável não é mais suficiente para negócios que desejam criar impactos profundos na sociedade e no planeta. Segundo uma pesquisa realizada em 2019, nos Estados Unidos, quase 80% dos consumidores do país preferem investir em marcas tidas como regenerativas a marcas sustentáveis.
O estudo realizado pela ReGenFriends, plataforma global que promove práticas regenerativas de negócios, apontou que os norte-americanos entendem ainda o termo “sustentável” como uma característica passiva das empresas – a sociedade, portanto, espera mais das organizações em questões de ação. Mas como as companhias podem elevar o patamar de produção sustentável à produção regeneradora? A resposta está na circularidade.
Baseada na retroalimentação, a economia circular incentiva a redução do descarte de poluentes e outros produtos na camada terrestre por meio da geração de novas aplicações como, por exemplo, plásticos que lotam oceanos e rios pelo País que são transformados em matéria-prima para o desenvolvimento de um diferente tipo de asfalto.
Esse não é um conceito estranho aos brasileiros. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), mais de três quartos das indústrias nacionais (76,4%) já adotam práticas de circularidade, ainda que elas não saibam – na época do levantamento da CNI, em 2019, 70% dos participantes disseram que o conceito de economia circular era desconhecido.
O estudo mostrou também que 73% dos empresários consultados acreditam que deve haver cooperação e responsabilidade compartilhada entre governo, empreendedores e consumidores; outros 60% entendem que a circularidade pode gerar empregos.
Práticas sustentáveis como a reciclagem de materiais e a logística reversa são consideradas os primeiros passos para que as empresas brasileiras explorem todo o potencial da economia circular. De acordo com 72,4% dos empresários entrevistados, a economia circular funciona também como uma estratégia de fidelização de clientes.
Ainda segundo a CNI, 43,7% daqueles negócios que adotaram práticas de circularidade o fizeram devido à busca por maior eficiência operacional. Na sequência, outros 22,6% tiveram como razão a criação de oportunidades. Porém, entre os motivos listados, a redução de custos ainda é o mais apontado por 75,9% dos entrevistados. O estudo da CNI demonstra que a indústria brasileira atua da seguinte maneira:
– Otimização de processos: 56,5%- Insumos circulares: 37,1%- Recuperação de recursos: 24,1%- Extensão da vida do produto: 22,9%- Produto como serviço: 20%- Virtualização: 16,5%- Compartilhamento: 15,9%- Não desenvolvem atividades de economia circular: 17,1%
No entanto, iniciativas bem-sucedidas nesse campo dependem de modelos de negócios com abordagens inovadoras. Só assim será possível transformar ou substituir os modelos existentes e construir oportunidades valiosas para todos os atores da cadeia.
Segundo a Accenture, em seu estudo Como estimular a economia circular, modelos de negócio circulares podem ser entendidos de cinco formas – entradas circulares, produtos como serviço, extensão de uso do produto, recuperação de recursos e plataformas de compartilhamento –, exemplificados no diagrama abaixo:
Para que modelos circulares como esses sejam implementados, tecnologias da indústria 4.0 são determinantes por sua concepção disruptiva. Categorizadas em três modelos, digital, físico e biológico, 27 tecnologias foram identificadas para que organizações possam aplicá-las em suas transformações.
No caso do modelo digital, estão sob o guarda-chuva tecnologias baseadas em ciências da computação, eletrônica e comunicação, isto é, tecnologias que se apoiam em informação e conectividade. É o caso de: inteligência artificial, internet das coisas (IoT), machine learning, cloud/edge, sistemas de visão, blockchain, big data analytics, comunicação M2M, dispositivos mobile, âncora digital e digital twin.
O blockchain, por exemplo, tem auxiliado organizações no rastreio e codificação de embalagens plásticas. A partir de uma espécie de passaporte digital, as empresas conseguem acompanhar a trajetória do produto por toda a cadeia de suprimentos. Já a IoT possibilita que negócios monitorem e estendam a vida útil de produtos a partir de manutenções remotas, atualizações e soluções baseadas em serviços.
O modelo físico apropria-se de tecnologias baseadas em propriedades básicas de materiais, energia, forças da natureza e suas interações, como robótica, nanotecnologia, impressão 3D, armazenamento e captação de energia, marcadores físicos, captura de carbono, AR/VR, spectometria e ciência dos materiais. Por fim, o modelo biológico, ainda muito dependente de intensos investimentos em P&D, baseia-se em tecnologias como bioenergia, materiais biológicos, engenharia genética, engenharia celular, marcação de DNA e hidroponia e aeroponia.
De acordo com o estudo Como estimular a economia circular, da Accenture, há oito passos que as empresas devem tomar na aplicação de práticas regenerativas e/ou circulares:
1. Reavaliar o portfólio de produtos para mudanças nos padrões de demanda e considerar oportunidades e riscos associados às estratégias de negócios.
2. Calibrar o foco de investimentos de capital, aumentando investimentos em produtos incluídos na circularidade. Desenvolver estratégias de redução/saída de longo prazo.
3. Desenvolver sistematicamente capacidades circulares em toda a empresa.
4. Reorganizar seu negócio – organizações estabelecidas que apostam em sólidos modelos de negócios lineares têm dificuldade para modificar suas operações para abordagens mais circulares.
5. Capturar oportunidades de compromissos voluntários feitos por companhias e indústrias.
6. Testar e redefinir modelos de negócios existentes.
7. Construir confiança com consumidores com estratégias de comunicação.
8. Elaborar estratégias de mensuração e comunicação de impactos positivos gerados pelas iniciativas circulares.
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