Análise de dados permite que agricultores produzam de maneira mais inteligente, econômica e ambientalmente sustentável
O agronegócio é o motor econômico do Brasil. Em 2020, o setor foi responsável por 26,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Só a produção das 64 principais culturas agrícolas do país gerou R$ 470,5 bilhões – um crescimento de 30,4% em relação a 2019, de acordo com a última pesquisa de Produção Agrícola Municipal (PAM) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O avanço foi puxado pela soja, que tem o Brasil como o quarto maior produtor e exportador global.
A capacidade produtiva brasileira, no entanto, tem sido severamente afetada pelo clima. Lavouras de soja e milho, por exemplo, registraram queda de produtividade em razão da estiagem iniciada no Rio Grande do Sul em novembro de 2019 – e que mesmo hoje, dois anos depois, ainda prejudica algumas regiões do estado gaúcho.
No Centro-Oeste, a mudança no regime de chuvas e o aumento da temperatura já afetam 28% das áreas agrícolas, segundo um estudo publicado em novembro na revista científica Nature Climate Change. Em razão da perda de produtividade, os agricultores têm usado áreas maiores de terra, além de mais recursos naturais para tentar alcançar o rendimento dos anos anteriores.
Mas a produtividade não se revela apenas pela produção ou pelo rendimento financeiro. Ao menos conceitualmente. Hoje, práticas em prol da conservação ambiental são tão importantes na economia quanto o lucro. Por essas e outras razões a tecnologia ficou o pé de vez no setor. É o caso da agricultura de precisão.
Também conhecida como agricultura 4.0, a agricultura de precisão constitui um conjunto de ferramentas e tecnologias que subsidiam o produtor com profundo conhecimento sobre a área cultivada. Seu potencial é enorme. Estudos mostram que a tecnologia é capaz de aumentar o rendimento em até 67%. No fim das contas, a solução é ideal para uma produção mais inteligente, econômica e ambientalmente sustentável.
O aumento da eficiência no campo passa pelo cruzamento de informações das lavouras. Os dados advêm de softwares de mapeamento e análise de tempo, solo e colheita. Há também drones de sensoriamento remoto, geolocalizadores e outros equipamentos e ajustam a aplicação de fertilizantes e produtos químicos. Todas essas tecnologias otimizam o uso do solo e, consequentemente, permitem produzir mais em um espaço menor. Esse conjunto de soluções pode ser entendido como agricultura de precisão.
Contudo, antes do produtor adotar a agricultura de precisão em sua propriedade, é importante observar uma série de fatores – para que as ferramentas, de fato, agregarem valor aos produtos. De acordo com um estudo realizado pela SAS, os pilares do digital farming são:
– Fonte certa: Dados de qualidade definem o sucesso da agricultura de precisão. Sem isso, os algoritmos de uma ferramenta podem deixar de indicar que uma área específica precisa de mais fertilizante, por exemplo. Uma forma de solucionar o problema é usar coordenadas exatas.
– Avaliação certa: Para serem úteis e compreensíveis, os dados precisam ser integrados e agregados da forma adequada. Ou seja, as informações sobre tempo, solo e variedade precisam ser compiladas e comparadas às de anos anteriores e interpretadas por agrônomos qualificados e que conhecem os objetivos da produção. Isso permite uma visualização realista das condições de uma lavoura.
– Época certa: A análise do histórico de dados por meio de forecasting e machine learning é capaz de identificar o momento adequado para o plantio de uma cultura, que varia de acordo com as condições geográficas e climáticas de uma região. Assim, as tecnologias ajudam a prevenir a perda de produtividade.Lugar certo: Não adianta ter dados de qualidade se não estão disponíveis offline nem são facilmente acessados em locais com conexão de internet lenta. As ferramentas de digital farming devem estar adaptadas para o uso em smartphones e tablets e contar com carregamento ágil e usabilidade intuitiva. Ao mesmo tempo, os dados precisam estar seguros em nuvens de armazenamento.
Mais da metade dos agricultores ouvidos pelo estudo A mente do agricultor brasileiro na era digital, realizado pela consultoria McKinsey & Company, usam ou estão dispostos a usar pelo menos uma tecnologia de agricultura de precisão em suas operações. Ao mesmo tempo, existem produtores que seguem resistentes à tecnologia, mesmo conhecendo suas vantagens.
A explicação está nos custos de implantação e na falta de expertise para utilizar todo o potencial dos equipamentos, além da escassez de profissionais qualificados. Se os agricultores investirem nessas culturas, porém, são grandes as chances de colherem melhores resultados para o negócio. E também para o planeta.
O Fórum: Data Science é uma coprodução de MIT Sloan Review Brasil e SAS.“