Nesta coluna, escrita em conjunto com Antonio Grandini, Luís Rasquilha enxerga a aceleração deste “novo normal” com a covid-19, definindo as dez maneiras como isso acontece
De repente, tudo mudou! Não esperávamos que seríamos atingidos por algo que estava acontecendo tão longe, tão rápido! e aí, tudo aquilo que era normal… é normal trabalharmos, é normal fazermos reunião, e irmos para escola estudar, ir ao shopping e ao cinema, ao mercado e sairmos para comer fora, é normal…é normal, até o momento em que não é mais, e criaram as tais das barreiras não farmacológicas, que restringem basicamente o convívio social, que é exatamente o que nos diferencia como seres humanos, a relação humana, deixou de ser normal e passou a ser um problema!
Parece enredo de filme isso, hein!?
E então, tudo aquilo que tratávamos como conveniência, supérfluo, aquelas coisas de nerds e caras que gostam de tecnologia, dos millennials, tipo, usar tecnologia para tudo, isso sim, passou a ser do interesse de todos, aqueles que negavam e recusavam a tecnologia como se fosse algo de outro mundo, diferente do seu, sempre achando isso tudo muito confuso, e confundindo transformação digital com redes sociais e a fazer internet banking, isso sim, isso sim, passou a ser o novo normal.
Agora, dentro deste novo normal, onde estamos “”convidados”” a ficar dentro de casa, tudo começou a ficar mais acessível, à distancia que estamos do celular, tudo converge para ele, e de lá́, pronto…podemos acessar o mundo, para fazermos compras, de comida, a remédio, irmos a shows e cinemas, através dos canais de streaming ou usando realidade virtual, falando com nossas assistentes virtuais, usando IA: “Alexia, como está a bolsa?…Bolsa não, Alexa, toca música clássica (para acalmar!), agenda um evento com o Fulano, liga para Cicrano”, nos mantemos conectados aos sites de noticias do mundo através da internet, vamos ao banco pelos aplicativos, movimentamos tudo, usando os aplicativos de entrega, hoje eu vi no youtube, um drone, levando o cachorrinho passear na rua, e o dono, controlando da varanda de casa…?!?!
As pessoas continuam a conviver através das mídias sociais, redes colaborativas unem funcionários de empresas que deixaram de se reunir em um único endereço e passaram a trabalhar virtualmente em vários locais, enfim…
Com mais de 30 anos de vida profissional, nunca vivemos uma experiência transformadora como esta que estamos experimentando agora, para vivermos o nosso novo normal.
Nunca tivemos a oportunidade de enxergar de forma tão clara o significado do termo MUVUCA (meaningful, universal, volatile, uncertain, complex, ambiguous) aplicado na prática como junto ao fenômeno de propagação da covid-19.
Jamais em tempos de paz tivemos tão claro, um propósito único para a humanidade, que é o combate ao vírus, a universalização e globalização de um problema como este nunca foi sentido de forma tão enfática como agora, com todos os esforços no sentido de evitarmos a propagação da doença, o Mundo escancarou volatilidade e incertezas, econômicas com o mercados financeiros derretendo, cadeias de suprimento paralisadas, e sendo pulverizado por teorias de conspiração, e a complexidade e ambiguidade da natureza humana nunca ficou tão evidente, em discussões sobre a seriedade ou não do problema, se sub ou superestimo o problema, não é torcida de futebol, é serio!
Na dúvida, superestime! Para cuidar de si e dos seus!
Sempre, em palestras, debates, apresentações, temos a oportunidade de dizer que todas as revoluções industriais pelas quais a humanidade passou, foram, respostas da própria sociedade para atender as demandas especificas que nós, seres humanos, estávamos criando, dentro dos diversos contextos pelos quais passamos.
Na era agrícola, onde a terra era o principal elemento de anseio, éramos divididos entre aristocratas e plebeus, tivemos a primeira revolução industrial com a aplicação do vapor na substituição dos animais, na era industrial que tínhamos a divisão entre o proletariado e o mundo capitalista, com a definição das classes sociais, tivemos a segunda e terceira revolução industrial, indo do uso da energia elétrica e das linhas de montagens, totalmente manuais no inicio, à sua completa automação, que evoluiu nos anos 1980 e 1990.
E agora, na era da informação e do conhecimento, onde o humano e o digital disputam sua posição, e a customização em massa passou a ser o nome do jogo, a I40 trouxe a realidade da quarta revolução industrial para dar as respostas que precisamos no contexto em que o consumo é determinado pela relação que temos com a transformação digital, definindo assim, o mundo MUVUCA que vivemos.
Com a pandemia que vivenciamos, temos a certeza de que certos elementos que viabilizam a implantação da indústria 4.0, ou I40, passam a ter papel importantíssimo como alavancadores para reduzir o tempo de acharmos soluções e para nos ajudar a mitigar os efeitos nefastos que esta situação está trazendo para a humanidade, conforme demonstrado no infográfico abaixo, e que passamos a explorar a seguir:
A I40 fará com que as empresas se tornem mais inteligentes e que, com a análise de seus dados, possam cada vez mais se antecipar aos problemas e prever em tempo justo, quais ações preditivas ela precisa tomar, em seu processo decisório como um todo, e potencializar sua capacidade de entregar resultado.
A tecnologia ajuda a gerar os dados e a transformá-los em informação, e as informações, transformam-se em conhecimento, que ajudam a otimizar os negócios, mas neste caso, a tecnologia de fato, ajuda a salvar vidas e atua como um recurso chave que viabiliza o atendimento de metas, até pouco tempo atrás, inimagináveis.
Do outro lado, sabemos que toda inovação só́ faz sentido se ela puder ser útil e fazer algo que ajude as pessoas, criadas por pessoas, para as pessoas, mas muitas lições ficam deste processo, reafirmarmos os aprendizados, e perguntar se construir um hospital em dez dias é inovação, ou se é o novo normal, não será́ tão estranho talvez, como possa soar agora.
Junto com as inovações, vem as ondas tecnológicas e com elas os ciclos econômicos, que cada vez mais serão curtos, rápidos e disruptivos, como a tecnologia, nos dando a certeza de que não estamos vivenciando a crise, e sim, a crise da vez, só́ esperando a próxima, mas de que este cenário faz parte de um contexto que passa a ser parte do “novo”” normal, e isto consequentemente nos provoca a sair da zona de conforto, alterando a forma como nos relacionamos e nos comportamos, em função da necessidade de adaptação, já́ que como dizia Darwin “…não são os mais fortes que sobrevivem e sim os que mais rapidamente se adaptam…””
A I40 traz um comportamento desejado, esperado, e este é determinado pela necessidade de que centremos nossos esforços e soluções na flexibilidade, agilidade, colaboração, cooperação e co-criação com as plataformas de inovação aberta casa vez mais presentes em nosso ecossistema…quando passamos por estes aspectos a impressão que nos dá é de que devemos então ser algo muito parecido com o que as startups são, e aí destacamos um engano que cometemos frequentemente: não temos que nos transformar em startups, porque isso não é possível; devemos, isto sim, aprender a trabalhar como e com elas.
Só dessa maneira podemos criar soluções disruptivas e entender que construir um hospital em dez dias não deveria ser visto como exceção, mas sim como o novo normal, o errado é demorar anos, e para isso um ambiente regulado no sentido de que viabilizemos as condições de aprendermos, testarmos, experimentamos, é essencial, pois quando enfrentarmos o que estamos enfrentando agora por exemplo, já́ estaremos tomados por uma forma de pensar mais condizente com a realidade dos dias em que vivemos.
Concluindo, de uma coisa temos certeza: não sairemos desta situação em que nos encontramos como nela entramos. E, como somos otimistas de plantão, temos certeza de que sairemos bem melhores e mais evoluídos, principalmente como seres humanos.
Vamos entender que o cisne negro, ou da cor que for, vem para propor mudanças e disrupção. E é exatamente este o mundo que vivemos agora; além de recuperarmos, vivermos e consolidarmos muitos valores humanos, que fomos deixando para trás ao longo dos anos, temos de questionar se a nossa relação com o trabalho, com o capital e com nossa família é a melhor que podemos ter. Temos também de entender que a tecnologia faz parte de nossas conquistas, nos ajuda e é uma resposta às nossas próprias necessidades, essencial para passarmos por este 2020 que já́ ocupa um lugar especial na história da humanidade.
A I40 é nossa aliada; ela nos dará́ a condição necessária para que possamos fazer aquilo que naturalmente fomos criados para fazer: sermos humanos! Basta que acreditemos e trabalhemos muito neste sentido.
* Este texto foi escrito em parceria com Antonio Grandini, VP da Unidade de 4.0 da Inova Consulting.”