Como o uso de dados, tecnologia e novas estruturas financeiras está desencadeando uma revolução financeira para um setor carente de recursos
Internacionalmente, não resta qualquer dúvida: o Brasil é o celeiro do mundo. Somados ao clima favorável e solo fértil, qualidades como pioneirismo, inovação e desenvolvimento de tecnologia de ponta levaram o Brasil à posição de líder global na produção e exportação de alimentos e matérias primas de origem animal e vegetal.
Apesar da revolução agrícola e tecnológica implementada, enfrentamos há décadas um desafio que, por muitas vezes, pareceu insuperável: a falta de recursos financeiros para o agronegócio. Ainda hoje, no século 21, temos um setor altamente dependente de financiamentos públicos e privados insuficientes, forçosamente complementado por agentes não-financeiros – especialmente tradings, revendas e indústrias químicas. Trata-se de característica única, não adotada em qualquer outro mercado desenvolvido do mundo: são as nossas “jabuticabas financeiras”.
No entanto, uma revolução financeira está se desencadeando no setor.
Alavancado pelo uso de novas tecnologias, especialmente melhor tratamento de dados e uso de inteligência artificial, o setor de crédito em geral vem se modernizando e novos agentes, especialmente as fintechs, começam a se consolidar como os novos intermediadores permitindo a pulverização de recursos na sociedade.
No agronegócio, o cenário não é diferente. A soma das novas ferramentas financeiras apoiadas em tecnologia, somadas ao uso de mecanismos inovadores para acompanhamento remoto do desenvolvimento e produtividade das lavouras (especialmente por meio de satélite) em todos os seus estágios, assim como uso e distribuição de insumos, oferece uma base de dados sem precedentes.
Enquanto um credor financeiro há 10 ou 20 anos disponibilizava recursos no início da safra com base em informações limitadas e recursos extremamente restritos de acompanhamento, a tecnologia de monitoramento atual permite o acompanhamento em tempo real, como dados precisos e detalhados sobre variáveis como produtividade de áreas, variações climáticas, correto uso e aplicação de insumos, entre outros.
Da mesma forma, tradings e fornecedores de insumos que mantém relação comercial com produtores possuem também diversas ferramentas para análise mais detalhada de clientes, correto uso de seus produtos e sua real efetividade. A tecnologia deve alavancar maiores avanços, em tempos mais curtos. No mundo da análise, concessão e monitoramento de crédito para produção agrícola, estamos agora em outro patamar.
É importante destacar, no entanto, que a revolução não se dá apenas nas pontas fornecedoras e/ou credoras das relações. Os produtores rurais, independentemente de tamanho, cultura ou região, que sempre foram vanguardistas na produção rural, têm também demonstrado grande facilidade para adaptação e uso de novas tecnologias para diversos aspectos administrativos, especialmente aqueles envolvendo novas alternativas de financiamento.
Nesse contexto, ferramentas como assinaturas eletrônicas ou digitais – cuja segurança jurídica vem sendo reiterada e fortalecida pelos legisladores – têm se tornado regra no campo. Problemas simples muitas vezes decorrentes da dificuldade em se obter maiores dados sobre produtores rurais, ou mesmo o simples desafio de obter assinaturas em regiões remotas decorrentes de nossa grande área agrícola, vem sendo superadas pela tecnologia.
Com efeito, um número muito maior de produtores passou a ter acesso a novas fontes de recursos, seja por meio das fintechs de crédito ou, especialmente, estruturas de securitização. A redução de custos operacionais e novas ferramentas de monitoramento trazidas pelas novas tecnologias vêm reduzindo substancialmente os custos envolvidos, tornando tais estruturas cada vez mais atrativas.
O resultado? Operações estruturadas, especialmente aquelas voltadas à securitização, têm se ampliado e ganhado cada vez mais espaço, fornecendo vultuosos – e valiosos – recursos destinados ao setor. Emissões de certificados de recebíveis do agronegócio e fundos de investimento em direitos creditórios voltados ao agro vêm batendo recordes em número de operações e volume nos últimos anos. Gradualmente vamos nos aproximando dos mercados mais avançados, como o norte-americano e europeu, onde o mercado de capitais é utilizado como forma de direcionar recursos para o setor.
Assim como os desenvolvimentos produtivos, que uma vez identificados não permitem retrocessos, temos aqui um caminho de mão única para o setor. A utilização de novas estruturas financeiras, apoiadas nos desenvolvimento tecnológico e uso das mais sofisticadas operações estruturadas, já são uma realidade e tendem, nos próximos anos, a se consolidar ainda mais. Como em qualquer setor, aqueles que não se atualizarem perderão espaço para os agentes que tomarem a liderança na adoção das melhores – e mais modernas – práticas.
Diferente de um cenário de “soma zero”, temos aqui uma realidade onde todos se beneficiam. Ganham os produtores, como novos recursos a custos mais baixos. Ganham financiadores e fornecedores, com novas alternativas e maior segurança. Ganha o setor, com maior oferta de recursos, tão almejados por muitos anos. Ganha o Brasil, com um setor já pujante obtendo melhores ferramentas para competir com seus concorrentes em escala mundial.”