Indivíduos, comunidades e empresas não podem fugir ao seu papel protagonista no uso ético e responsável da inteligência artificial
Poucas experiências são mais humanas do que a curiosidade e o medo do novo. Frente ao qual, devemos tomar uma decisão de continuar e explorar o desconhecido ou nos deixar paralisar e nos perguntar “e se”. E numa situação assim, o que você faria?
É natural ter desconfiança na inteligência artificial (IA). Porém, é preciso reconhecer que ela é uma extensão da capacidade humana. Já dizia McLuhan em seu revolucionário livro Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem (no título original, Understanding Media), sobre como a tecnologia que criamos é reflexo de nossas capacidades.
Por exemplo, um médico oncologista pode fornecer tratamentos mais precisos e eficazes aos seus pacientes se puder contar com o apoio da IA para manter-se atualizado. Manter-se informado é crucial, especialmente na área médica, onde o conhecimento avança rapidamente.
Segundo a American Clinical and Climatological Association, a produção de conhecimento médico dobra a cada 73 dias. Isso significa que, para acompanhar esse ritmo, um médico precisaria estudar 167 horas por semana. No entanto, a semana possui apenas 168 horas, o que torna essa tarefa humanamente impossível. Nesse contexto, a IA pode desempenhar um papel fundamental ao filtrar e sintetizar informações relevantes, permitindo que os médicos se mantenham atualizados de forma mais eficiente e eficaz.
Naturalmente, a IA causa um estranhamento, assim como todas as tecnologias que estão na fase de expansão para a sociedade. Basta lembrar do momento em que um dos primeiros filmes foi exibido no cinema: “A Chegada do Trem na Estação”, filme francês de 1895, apresentava 50 segundos da entrada de um comboio puxado por uma locomotiva a vapor. O público, que ainda não entendia o que estava acontecendo, acabou se deixando levar pelo medo. O resultado: pessoas correndo para não serem atropeladas. Como dizia a Lei de Amara, “nossa tendência é superestimar o efeito da tecnologia no curto prazo e subestimá-lo no longo prazo”.
E ao superestimar ou subestimar a tecnologia, é onde nos deparamos com inverdades e suposições, o que pode ser altamente perigoso, afinal uma suposição é o berço de uma convicção, e a convicção, como já dizia Nietzsche, “é a inimiga mais poderosa da verdade”, mais do que a própria mentira. A IA é a novidade que desafia a compreensão e nos convida a explorar o emocionante mundo do desconhecido e suas infinitas possibilidades. Para garantir que isso aconteça de forma benéfica para todos, é essencial termos regras claras de funcionamento, seguir padrões rigorosos da indústria e adotar essa tecnologia com confiança. Somente assim, podemos integrá-la em nossas vidas de maneira segura e responsável.
Acredito firmemente que a única saída para garantir um futuro positivo com a IA é por meio do protagonismo humano e da educação. Não estamos reféns de uma inovação, estamos novamente diante da necessidade de nos adaptarmos para construir um estilo de vida com mais tempo para atividades que demandam criatividade e empatia, características exclusivamente humanas que continuam sendo o que nos torna insubstituíveis.
Nesse sentido, é crucial que a humanidade assuma um papel proativo e responsável no desenvolvimento e na utilização da inteligência artificial (IA). Além de indivíduos e comunidades, as empresas desempenham um papel fundamental nessa jornada, assumindo um papel protagonista no uso ético e responsável da IA.
Isso implica integrar práticas responsáveis em todas as etapas do ciclo de vida da IA, desde o design até a implementação e seu uso. Para alcançar esse objetivo, é essencial contar com equipes diversas e multidisciplinares, que possam trazer diferentes perspectivas e experiências para o processo. A adoção da IA demanda uma mudança cultural de todos, e esse caminho se vê facilitado em um ambiente diverso.
Em resumo, diante da dualidade de encarar a inteligência artificial como uma ameaça incompreensível ou uma aliada inspiradora, é vital reconhecer que essa é uma questão eminentemente humana. Ao invés de ceder ao medo do desconhecido, devemos unir forças como sociedade, encarar os desafios e aproveitar as oportunidades que a IA oferece para melhorar nossas vidas.
Para garantir um desenvolvimento seguro e produtivo da IA, é crucial implementar ferramentas de governança e compliance. O objetivo é assegurar que os benefícios superem amplamente quaisquer potenciais riscos, resultado de investimentos em educação e compreensão dessa tecnologia. Nesse contexto, compreender o desconhecido significa impulsionar o progresso humano. Portanto, ao invés de gerar divisões, a IA pode ser um catalisador de união, nos motivando a alcançar novos níveis de avanço e bem-estar coletivo.
Diante do cenário desafiador da inteligência artificial, somos convidados a uma reflexão profunda sobre nosso papel ativo na construção de um futuro melhor. Como podemos garantir que a IA se torne uma força positiva e transformadora em nossas vidas e na sociedade?
Acredito que o caminho passa por uma governança consistente como base para criação de relacões de confiança e construção de uma IA ética e responsável. Nesse contexto, com protagonismo, colaboração e comprometimento, podemos alcançar um mundo onde a inteligência artificial seja uma aliada inspiradora. Portanto, é hora de nos unirmos, compartilharmos ideias e trabalharmos em conjunto para tornar essa visão uma realidade.
Este é um chamado para a ação coletiva, onde cada um de nós tem o poder e a responsabilidade de moldar o caminho da IA em direção a um futuro mais promissor.
N. da E.: O título desta coluna brinca com a sigla inglesa de inteligência artificial, que é AI em vez de IA, referente a “artificial intelligence”.
2 Trackbacks and Pingbacks