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As empresas no futuro do trabalho

Falamos muito das pessoas físicas ao projetar as tendências nessa área, mas as empresas têm um papel fundamental; elas precisam entender os drivers da mudança e se adaptar a eles, pois (alerta de spoiler!) continuarão a depender de seres humanos

Luís Rasquilha
29 de julho de 2024
As empresas no futuro do trabalho
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É recorrente o questionamento do futuro das empresas onde atuamos: qual sua relevância, existência, perenidade etc. Também é chover no molhado olharmos para as maiores empresas de três ou quatro décadas atrás e para as grandes de hoje, e constatarmos que quem domina os mercados atualmente nem existia há 30 anos. 

Você pode estar cansado de ouvir falar de Uber, Netflix, Spotify, WhatsApp, Instagram, Facebook, Google, Apple, Facebook, mas saiba que estes são os exemplos mais visíveis e midiáticos das transformações que o mundo empresarial enfrenta regularmente e que têm dado força à assim designada 4ª revolução industrial. 

A PwC fez, em 2014, um interessante estudo sobre o perfil dominante das empresas no futuro tendo publicado uma atualização recentemente no final de 2018; o BCG publicou vários papers sobre como devemos analisar o futuro empresarial; a McKinsey tem dedicado bastante atenção às competências e aos perfis do futuro do trabalho; o World Economic Forum é referência nessas pesquisas; várias empresas de consultoria têm dedicado tempo ao tema.

Lynda Gratton, autora de _A Mudança: o Futuro do Trabalho Já Chegou_, sistematizou em cinco grandes drivers, ou forças de mudança, aquilo que as empresas precisam considerar em seus futuros se quiserem sobreviver.

A força tecnológica vem em primeiro lugar e parece ter sido a lógica mais acertada, uma vez que é encarada como um dos principais alicerces do mundo atual e do mundo que virá. Ainda que nem todas as pessoas tenham acesso à tecnologia, o número de pessoas ligadas virtualmente tem crescido significativamente desde há poucos anos. Estima-se que, em 2025, 5 bilhões de pessoas (para um total de 8 bilhões de pessoas no planeta) estejam conectadas, uma vez que se está a criar uma consciencialização e familiarização globais com a internet. Muito em breve, todos nós estaremos interligados e comunicaremos via internet, partilhando todo o tipo de informações, com grande relevo no que respeita às empresas, que trabalharão quase a 100 % via mundo virtual. Locais como salas de reuniões ou empresas físicas poderão mesmo deixar de existir. 

A segunda força é a da globalização. Essa força é a mais poderosa e a mais abrangente de todas, pois de certo modo, compreende todas as outras. É devido à globalização que tudo o resto acontece: que a tecnologia evolui, se expande e chega a mais pessoas; que os parâmetros e as necessidades da sociedade se alteram e, o mundo avança. E a chamada “globalização digital” está em forte ascensão uma vez que permite maior colaboração e compartilhamento de tudo.

A terceira força é a da demografia e longevidade. Essa força “está relacionada com quem está tendo bebês e com o tempo que esses bebês vão viver. Está relacionada com o número de pessoas que trabalham e durante quanto tempo. Está relacionada com as cinco gerações e como vão amar-se e possivelmente, odiar-se umas às outras. Começámos o século 20 com 2 bilhões de pessoas e em 2011 chegámos a 7 bilhões. Prevê-se um crescimento exponencial da população mundial e um aumento da expectativa de vida que se aproxima dos 100 anos. Mais gente, durando mais tempo. 

A quarta força é a força da sociedade e como é que a sua estrutura pode ser fortemente alterada. Embora a nossa essência e os nossos valores enquanto seres humanos se mantenham inalterados, os meios que usamos para atingirmos determinados fins modificaram-se. Os indígenas das tribos continuam a pescar como antigamente, mas atualmente usam um celular para comunicar com as mulheres que ficam nas habitações. 

Como este, existem muitos outros exemplos que ilustram esta continuidade de padrões e valores, aos quais se adicionou um pouco de tecnologia. A multidão (crowd) está se organizando para colaborar em todas as áreas na busca de melhores soluções para os problemas do mundo, exigindo mais das marcas, das empresas e instituições públicas. É normal pedir ajuda ao grupo para decidir sobre onde comprar algo ou sobre qual marca comprar e qual evitar. Empresas estão perdendo e ganhando negócios por via da atividade colaborativa da multidão.

A última das forças é a dos recursos energéticos. A luta dos governos a fim de proteger e até monopolizar as energias vai, por um lado, provocar escassez de recursos e, por outro, reforçar a premissa e a consciência da preservação e bom uso das energias, que deverá resultar numa divisão justa dos recursos por toda a população mundial. A questão da ecossustentabilidade foca-se cada vez mais na perenidade saudável do negócio além da mera preocupação com o planeta e meio ambiente. (O que faz todo o sentido para os negócios, uma vez que sem planeta não teremos negócios perenes.)

Para complementar essa realidade o crescimento das gerações e a mudança comportamental dos milênios têm alterado significativamente a lógica do trabalho. Desmaterialização, trabalho por projetos, squads multitarefa, home office, virtualização e mobile são palavras comuns nos modernos ambientes de trabalho onde as regras da 2ª revolução industrial (da cadeia de valor sequencial onde cada um atua no seu quadrado para ajudar a construir um todo) estão sendo revistas adotando-se novas formas de atuar inspiradas no mundo conectado da 4ª revolução industrial.

RESULTADOS?

Quais são as grandes mudanças resultantes dessas forças? (Você sabe de algumas, mas é importante repeti-las juntas, para que integrem um todo, sejam introjetadas e sistematizadas.)

  • Os negócios são cada vez mais flexíveis, ágeis na mudança e principalmente inspirados e orientados pelas necessidades dos clientes.
  • A tecnologia é o grande propulsor da mudança, tirando empregos puramente operacionais e abrindo espaço para a criatividade e produção intelectual.
  • Mais do que puro resultado financeiro as empresas precisam garantir uma perenidade saudável pela sua relevante intervenção no ecossistema.
  • Novas profissões estão surgindo diariamente desafiando as regras vigentes.
  • Novos líderes emergem, pessoas comuns, ditas normais que se afirmam pela sua capacidade de antever, criar e principalmente executar.
  • O desafio da execução supera o da criação.

O QUE FAZER?

Impossível acompanhar tudo isso, especialmente no Brasil? De modo algum. Veja o que as empresas e gestores podem/devem fazer com todas essas informações em mãos:

  • Atualizar/ajustar os conteúdos de treinamento, quer nas universidades, quer nas empresas, para uma maior adequação às necessidades efetivas das funções do futuro, conseguindo com isso profissionais com melhores performances e empresas com melhores resultados pode significar a diferença entre sucesso e insucesso.
  • A estruturação e gestão de equipes por líderes com forte orientação ao trabalho prático (mão na massa) e com experiências alargadas de conhecimento, considerando principalmente experiências internacionais devem ser prioridade na forma de atuar nos mercados.
  • O baixo reconhecimento de ídolos/ícones inspiradores pela geração mais nova abre espaço para um modelo mais flexível de trabalho e de evolução, onde cada um pode criar e compartilhar novas formas de atuação nas empresas, em vez de apenas de tentar replicar modelos de quem já alcançou o sucesso. Isto permite que as empresas possam desenvolver políticas mais eficazes de engajamento e gestão de projetos através da maior autonomia das suas equipes.
  • Os ambientes colaborativos com foco em experiências e relacionamento motivam o crescimento profissional e individual de cada um e fortalecem o vínculo com a empresa, pelo que devem ser considerados, na estratégia de gestão de talento, momentos de interação e compartilhamento de experiências e opiniões entre todos.
  • A visão de longo prazo das empresas, principalmente considerando o papel de cada um nessa visão com clara definição sobre o desenvolvimento da carreira, constitui um fator decisivo de retenção pelo que, deve ser considerado na estratégia empresarial com a mesma importância que a gestão de clientes ou o cumprimento das metas de resultado operacional, por exemplo.

Esses insights extraídos da pesquisa _Carreiras em Transformação_, publicado em 2017 pela Inova Consulting e pela Page Personnel. Crédito da imagem: Shutterstock”

Luís Rasquilha
CEO da Inova TrendsInnovation Ecosystem e professor da Fundação Dom Cabral (FDC), Hospital Albert Einstein e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP).

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