
Cinco estratégias para aproveitar melhor os ventos favoráveis – e contornar desafios como a confiança digital fluida
O Brasil é uma potência digital. Com uma média de 9 horas e 13 minutos diários na internet por brasileiro – das quais 3 horas e 37 minutos são dedicadas às redes sociais –, o País figura entre os campeões globais de engajamento digital. Mas não é apenas a conectividade que impressiona: há também um alto grau de confiança na mídia social, em influenciadores e celebridades. E é aí que reside um dos maiores desafios para os líderes responsáveis por marcas e empresas que operam neste mercado.
A hiperconectividade associada à hiperconfiança cria um ecossistema dinâmico, mas volátil. Enquanto nos Estados Unidos e na Europa consumidores mantêm um grau de ceticismo mais elevado sobre o que veem e leem online, no Brasil, a linha entre entretenimento, influência e credibilidade é tênue. O que um influenciador diz muitas vezes tem mais peso do que um estudo acadêmico ou um comunicado oficial de uma empresa.
A pesquisa Consumer Pulse 2025, da Bain & Company, reflete esse fenômeno: os brasileiros estão cada vez mais digitalmente influenciados e, ao mesmo tempo, menos fiéis às marcas tradicionais. Metade dos consumidores brasileiros já experimentou uma nova marca nos últimos meses, e 47% da geração Z trocou sua marca habitual por outra recomendada online. Esse comportamento, impulsionado pela influência digital, representa tanto uma oportunidade quanto um risco para as empresas.
Nós, líderes, aprendemos que a confiança tradicionalmente se constrói com base em consistência e reputação; só que, no ambiente digital brasileiro, isso é um pouco diferente: ela pode ser construída – ou destruída – em questão de minutos. Uma hashtag pode impulsionar vendas ou provocar boicotes maciços. Um review pode alavancar um produto ou selar seu destino.
Essa confiança, no entanto, é fluida. Se por um lado há grande predisposição para acreditar e seguir recomendações de influenciadores e conteúdos patrocinados, por outro, essa lealdade é frágil. O brasileiro confia rapidamente, mas também abandona rapidamente. Isso se reflete na experimentação constante de novas marcas e na ascensão meteórica de algumas empresas no ambiente digital – muitas vezes seguidas de quedas igualmente rápidas.
Diante desse cenário, marcas que tentam replicar estratégias tradicionais correm o risco de se perder. O jogo exige autenticidade e um domínio preciso da dinâmica digital.
No Brasil, viralizar pode ser bênção ou maldição. A velocidade com que conteúdos ganham tração nas redes sociais cria um efeito dominó. O problema é que o volume de desinformação e a superficialidade das interações dificultam a construção de relações duradouras entre marcas e consumidores.
Isso explica por que muitas empresas falham quando apostam apenas em influenciadores como sua principal estratégia de marketing digital. No curto prazo, o impacto pode ser positivo, mas sem uma narrativa de marca consistente e uma proposta de valor autêntica, a marca corre o risco de se tornar apenas mais um ruído no feed.
Além disso, há o risco de associação equivocada. Um influenciador pode impulsionar uma marca, mas também pode arrastá-la para polêmicas inesperadas. Uma opinião controversa, uma atitude questionável – e, de repente, a empresa se vê obrigada a administrar uma crise de imagem que nunca planejou.
Dado esse contexto, como empresas e marcas podem se posicionar de forma estratégica no Brasil? Algumas abordagens-chave incluem:
O Brasil é um laboratório vivo para o marketing digital. A hiperconectividade do país combinada com seu alto grau de confiança nas redes sociais cria um cenário único, onde marcas podem crescer exponencialmente – ou desaparecer da noite para o dia.
Para navegar nesse ecossistema, não basta estar presente no digital. É preciso entender como as pessoas interagem, (des)confiam e tomam decisões. O jogo não é apenas de alcance, mas de autenticidade, consistência e agilidade. Marcas que souberem construir relações baseadas em transparência, proximidade e propósito terão não apenas consumidores – e sim verdadeiros guardiões. No Brasil, os líderes podem conseguir muito mais do que vender um produto; podem conquistar corações e mentes em um feed lotado de ruídos. Só que vencer aí significa conquistar e manter a confiança.