Funcionários devem deixar de ser meros “passageiros” da empresa e se tornarem “pilotos”
A ideia de que as empresas precisam manifestar o seu propósito é um fato cada vez mais presente nas discussões corporativas e nas reuniões de conselho. É também algo que consumidores e empregados esperam.
No entanto, empresas que têm um propósito claro e expresso parecem não conseguir conviver com essa filosofia. Afinal, escrever, publicar e comunicar não é o suficiente.
Muita coisa precisa acontecer para que a gestão por metas passe a ser efetivamente uma gestão por propósito. Além disso, filosofia não anula objetivos. Não é que a gestão por propósito faça com que as metas deixem de existir ou de ser necessárias.
A jornada ao capitalismo consciente não é uma simples troca de uma forma de gestão por outra, mas uma atualização da gestão para gerenciar polaridades. O que seriam essas polaridades? No caso dos negócios, gerenciar o resultado financeiro de curto prazo com a geração de valor de longo prazo, por exemplo.
Imagine o processo de se preparar para uma maratona. É preciso fazer exercícios físicos, mas o excesso deles pode causar lesões, então precisamos equilibrar o treino com o repouso. Por outro lado, o excesso de repouso pode causar atrofia. Assim, só exercício ou só repouso causam danos maiores quando o objetivo é correr uma maratona. É o equilíbrio entre as polaridades de exercitar e descansar que me permite alcançar objetivos mais robustos.
Pense como seriam os impactos da polaridade entre objetivos de curto e longo prazo, resultados financeiros e geração de valor usando o modelo compartilhado. (Fonte: “Gestão de Polaridades”, de Barry Johnson)
Com a clareza da polaridade, podemos dizer que gestão por propósito não é abandonar metas, mas equilibrar metas com novos indicadores. E, além disso, com mudança de comportamento de nossas equipes.
Colaboradores devem deixar de ser “passageiros”. Diferentemente de uma gestão por metas, em que poucos ganham bônus por alcançar objetivos estabelecidos e o resto da equipe espera ordens para agir, na gestão por propósito todos têm que conhecer e entender o painel de controle.
Como seria isso? Muitos já se depararam com uma “nova” luz que acende no painel do carro e não entendem o que está acontecendo. Na gestão por propósito, as coisas funcionam como uma equipe de Fórmula 1. Há um piloto dirigindo o carro, mas um time acompanha todos os indicadores do carro, mandando instruções a cada trecho da pista.
Agora começamos a entender a diferença de comportamento necessária para passar da gestão por metas para a gestão por propósito. Mas isso é apenas o primeiro passo.Depois, é preciso entender quais são os novos indicadores necessários para ajudar uma organização a alcançar seus objetivos. Nesses novos indicadores, vamos ter um foco maior em comportamentos e ações anteriores ao fato que gera a contribuição para a meta numérica financeira, seja venda, custo, EBITDA, margem etc.
As contribuições passam a vir de todos os colaboradores e às vezes até de stakeholders externos da organização. Os indicadores para a gestão por propósito são evolutivos, assim como o propósito em si.
O terceiro passo na implementação de uma gestão por propósito é a forma de tomar decisões na organização. Muitas avançam nessa ideia, mas, no final do dia, seguem tomando decisões de investimento, promoção, contratação, compensação em metas. Isso acaba sendo a grande causa de uma organização falhar na implementação da gestão por propósito.
Em suma, para ter sucesso na implementação da gestão por propósito você precisa:1. Não abandonar as metas2. Expandir os indicadores3. Mudar o comportamento dos colaboradores de passageiros a motoristas4. Atualizar o processo de tomada de decisão em linha com o propósito da organização
Cada um desses passos tem o seu desafio específico, pois não existe um passo a passo específico. Sempre vai depender do nível de maturidade da organização e de seus colaboradores.
No livro Capitalismo Consciente – Guia Prático (Editora Voo) temos uma série de ferramentas que ajudam uma organização a iniciar a sua transformação. Um passo significativo nesse “upgrade” de gestão é alinhar todos os colaboradores a essa ideia e convidá-los a participar do desenho dos indicadores complementares às metas e também no desenho do treinamento para a mudança de comportamento.
Depois dessa fundação, é necessário um trabalho com a liderança para que os sinais na tomada de decisão corroborem com a mudança. As duas partes dessa transformação podem ser fortalecidas e aceleradas com a participação de profissionais qualificados e certificados nessa abordagem.
Nos últimos sete anos, trabalhamos para formar mais de 800 profissionais qualificados – consultores capitalistas conscientes presentes em 21 países, que têm contribuído para acelerar essa transformação e ajudar muitas empresas a avançar de forma robusta. Os resultados são surpreendentes. Temos evidência disso quando comparamos as empresas de capital aberto que praticam essa filosofia com o desempenho médio do mercado (medido pela variação do índice S&P 500). Essa variação de desempenho chega a ser até 7 vezes acima da média de mercado para as empresas que praticam gestão por propósito.”