Estudo estima que o uso dessas tecnologias deve aumentar 20% este ano
Possibilitar a criação de aplicações com mais agilidade, estimulando o processo de transformação digital e aumentando a competitividade até em empresas que não possuem vasta estrutura tecnológica são alguns dos benefícios das soluções low-code, ou no-code. Essa abordagem de desenvolvimento de software requer pouca ou nenhuma codificação para construir aplicativos e processos, e essa facilidade tem impulsionado sua adoção em todo o mundo.
Não à toa, o Gartner projeta que, até 2024, o desenvolvimento de aplicativos low-code representará mais de 65% da atividade de desenvolvimento de aplicativos e 75% das grandes organizações já estarão usando alguma dessas ferramentas. Ainda de acordo com a consultoria, o mercado mundial de tecnologias de desenvolvimento de low-code deve atingir US$ 26,9 bilhões este ano – um aumento de 20% em relação a 2022.
As vantagens para as áreas de suporte ao cliente final são significativas. Para Varsha Mehta, especialista sênior de pesquisa do Gartner “equipar tanto os profissionais desenvolvedores de TI quanto os de outras áreas com ferramentas de baixo código permite que as organizações alcancem o nível de competência digital e velocidade de entrega necessários para o ambiente atual”.
Por serem mais intuitivas e amigáveis, essas soluções com pouco ou nenhum código permitem que, por exemplo, agentes de suporte resolvam problemas dos clientes de forma mais ágil sem o envolvimento de técnicos. Assim, promovem eficiência no atendimento aos clientes ao otimizar fluxos de trabalho e automatizar e personalizar processos. “E isso se reflete diretamente na satisfação do cliente e em uma melhor experiência com a marca”, observa Luiz Jardim, gerente de produtos na Liferay, empresa desenvolvedora de plataformas de experiências digitais.
Um dos pontos fortes das tecnologias simplificadas de low-code é a pouca quantidade de códigos necessários para construir uma aplicação. Afinal, é possível criar aplicativos e sistemas com menos codificação manual por meio do uso de interfaces visuais e ferramentas de arrastar e soltar. Isso gera menos tempo para desenvolver workflows de aprovação de conteúdo, pedidos de compra ou processos de integração e projetos web, como landing pages, sites corporativos, portais, e-commerce… “Esse dinamismo é vantagem competitiva, pois permite que a empresa responda rapidamente a qualquer mudança de cenário”, comenta Jardim. Se, por exemplo, algo está impactando negativamente a experiência digital de uma marca, é possível responder instantaneamente. Se, por outro lado, há uma oportunidade percebida, é possível aproveitar o momento com um curto time to market.
Ainda, quem faz a interface com a solução tecnológica não precisa de background nessa área. Para a professora Andrea Paiva, diretora do Pós-Tech do Centro Universitário FIAP, essas plataformas estão promovendo uma verdadeira democratização da tecnologia da informação ao empoderar o usuário e possibilitar o desenvolvimento sem o uso de códigos complexos. “Códigos complexos sempre foram de domínio dos programadores experientes e sempre existiu uma grande dificuldade no momento de o cliente interno explicar a demanda para a área de TI. Muitas metodologias surgiram justamente para fazer essa ‘tradução’ das necessidades do negócio para os profissionais mais técnicos”. Mas com low-code, essa barreira diminui muito ao passo que o usuário pode desenvolver um MVP sem código ou com pouquíssimo código e mostrar exatamente o que o negócio precisa.
Empoderados pelas características intuitivas e flexíveis, os agentes são capazes de desenvolver soluções de baixo código para atender às necessidades de suas unidades de negócios, criando novas funcionalidades e permitindo maior customização a cada demanda atendida. “Isso, antes, era impensável”, comenta Jardim.
Essa capacidade de resposta à mudança proporciona às empresas maior flexibilidade, grande capacidade de readequação no dia a dia e melhorias contínuas nos processos. E também gera outra vantagem competitiva: libera as equipes de TI para dedicarem mais tempo e recursos para se concentrarem em iniciativas mais estratégicas.
Hoje, em média, 41% dos funcionários de fora dos departamentos de TI personalizam, criam tecnologias ou soluções de dados em low-code. O Gartner prevê que, até 2026, os usuários de negócios – que não fazem parte dos departamentos de TI formais – representarão pelo menos 80% da base de usuários de ferramentas de low-code. Isso significa que, ao usufruir dessas facilidades, as empresas conseguem tirar seus profissionais de TI das atividades repetitivas do desenvolvimento e os destacar para grandes projetos que exigem tempo e foco, ou seja, onde eles são tecnicamente mais necessários.
Ao automatizar o que é básico, as companhias conseguem otimizar os processos de negócio reduzindo tarefas manuais – e, consequentemente, o erro humano. Segundo o Gartner, o interesse na hiperautomação cresce em resposta à ampliação da lacuna de habilidades e ao aumento das pressões econômicas. Por isso, prevê que os gastos em tecnologias de software que possibilitam a hiperautomação alcançarão US$ 720 bilhões em 2023.
Jardim explica que há outra vantagem competitiva intrínseca à maior automação. “É possível criar sistemas de autoatendimento mais apurados à realidade do cliente. Ele passa a utilizar menos o suporte pois o procura só nas ocasiões em que o atendimento humano é realmente necessário. As filas diminuem e a experiência digital se sofistica”, observa.
Dessa forma, além de melhorar o desempenho dos processos internos, as soluções low-code têm um impacto direto na otimização da experiência do cliente e usuários. Some a isso o fato dessas plataformas facilitarem a integração com sistemas legados, proporcionando respostas mais rápidas já que todas as informações dos clientes ficam centralizadas em um único local.
O custo com manutenção também merece menção, pois como um serviço terceirizado, o custo fica com a plataforma. “A empresa que usa um sistema low-code se beneficia das manutenções e atualizações constantes da provedora e não precisa se preocupar com esse assunto”, simplifica Jardim.
Na opinião de Paiva, da FIAP, o principal ponto que está revolucionando a forma de inovar nas empresas é o empoderamento de equipes de negócio, que conseguem sem experiência técnica profunda participar ativamente do desenvolvimento de aplicativos. Isso faz das plataformas low-code aliadas de empresas de qualquer porte, mas sobretudo das pequenas empresas e startups por serem soluções fáceis e financeiramente acessíveis.
Ao liberar as equipes do trabalho manual, é possível potencializar a inovação. “Com ciclos mais ágeis, as equipes conseguem trabalhar estrategicamente, entregar novos recursos tecnológicos com rapidez, permitindo correções mais assertivas e adaptação às mudanças do mercado de forma eficiente”, corrobora Thiago Veras, gerente técnico principal do CESAR. Ele acrescenta que essas soluções também permitem a integração com tecnologias emergentes como inteligência artificial e IoT, abrindo espaço para as empresas adotarem rapidamente inovações disruptivas.
Jardim elenca ainda outra característica aceleradora de inovação advinda das soluções low-code: os testes e simulações de novas ideias e conceitos com diferentes stakeholders antes de investir recursos significativos nelas. “A discussão é mais rica e dinâmica, pois dela podem participar pessoas não-técnicas que dão inputs valiosos. Ao validar as melhores ideias investe-se, aí sim, nos códigos extras que são realmente específicos daquele negócio”, explica o especialista.
Muito além de uma tendência tecnológica, as aplicações low-code estão transformando a maneira como as empresas abordam o desenvolvimento de aplicativos e sistemas digitais, resultando em experiências digitais mais ágeis, personalizadas e eficientes tanto para as empresas como para os consumidores.”