Amory Lovins, o grande pesquisador do think tank Rocky Mountain Institute, talvez passe um dia para a história como o “pai do capitalismo natural”. Tive o prazer de conhecê-lo quando veio ao Brasil e o admiro. Seu artigo desta edição propõe cinco estratégias para a descarbonização de setores nos quais não se vê solução no fim do túnel – Carlos de Mathias Martins, investidor e empreendedor na área de energia, calcula que principalmente duas delas podem ter impacto no Brasil, se vencerem os devidos obstáculos. Eu gosto também das estratégias cujo impacto local é menos provável na visão de Mathias, como a de redesenhar, ilustrada pelo caça da Lockheed Martin (feito no âmbito do programa Skunk Works), que tinha cerca de 95% de fibra de carbono em sua composição. É o tipo de estratégia que só vira realidade se for sonhada antes.
O Report especial desta revista, sobre a transição para negócios sustentáveis que também sejam lucrativos, tem a ver com sonho, uma palavra inexistente no mundo corporativo brasileiro até há pouco. Lembro-me de o especialista em empreendedorismo Fernando Dolabela comentar que uma das causas do nosso sucesso limitado em termos globais era o fato de que tradicionalmente não se perguntava às crianças brasileiras quais eram seus sonhos. Se alguém usava essa terminologia, era para coisas como viajar, constituir família, ter casa própria, nada relacionado com a vida profissional. Incluir “sonho” no vernáculo foi uma das grandes coisas que o trio Ambev, com seu “sonho grande”, fez pelo Brasil. (Outra foi mostrar que dá para sair do cercadinho doméstico e vencer.) Agora, temos as pessoas de 18 mil startups sonhando, algumas virando unicórnio, a Embraer fazendo carro voador.Nosso convite é para o leitor sonhar com a grande transição rumo a negócios sustentáveis.