Embora ainda precisemos ganhar escala, iniciativas educacionais promissoras surgem para ajudar as empresas a enfrentar a lacuna de profissionais para a era digital
> A educação é baseada em Newton – disciplinas, organização hierárquica, os professores dizendo o que tem de ser ensinado. Mas ela tem de se basear em Darwin.” > Silvio Meira
Segundo o indicador de comércio exterior da Fundação Getulio Vargas, o Icomex, a participação das commodities agropecuárias e minerais nas exportações brasileiras vem aumentando significativamente. Em 2001, de janeiro a setembro, as commodities responderam por 37,4% dos embarques de janeiro a setembro em receita; em 2021, foram 69,7% do todo. Nas mesmas duas décadas em que boa parte dos mercados globais, na esteira da internet, aprofundou-se na era do conhecimento, a economia do Brasil se primarizou. E a projeção dos pesquisadores da FGV é que, ao menos no médio prazo, isso se mantenha, com as commodities sendo mais que 60% dessa balança.Há uma razão circunstancial para isso – a alta de preço das commodities –, mas a estrutural importa mais. Geralmente, é traduzida em infraestrutura deficiente e tributos demais, mas a mão de obra não qualificada tem impacto enorme na conta. “A economia passou a depender de gente que detenha competências e habilidades para dar conta da estratégia e da execução dos processos de criação, entrega e captura de valor nas organizações”, explica o especialista em inovação e transformação digital Silvio Meira, professor extraordinário da Cesar School e cofundador da The Digital Strategy Company. Não temos essas pessoas em quantidade suficiente. Meira vai além: “Após décadas tentando atrair capital para criar e desenvolver negócios, corremos o risco de passar décadas tentando atrair gente para criar, desenvolver e até manter os negócios”. As empresas não vêm formando pessoas e o ensino superior tem sido “disfuncional, isolado das demandas da economia e sociedade”.Faz algum tempo que há procura por profissionais de tecnologia no Brasil. Em 1993, por exemplo, foi fundada em São Paulo a Fiap, uma faculdade de informática e administração que prometia atender a esse tipo de necessidade. Porém, mais recentemente, a demanda se agudizou e os esforços para atender a ela começaram a crescer, muitos dos quais partindo de atores do mundo dos negócios e não da educação. Um exemplo é a criação da Link School of Business, fundada por Álvaro Schocair, que tem no currículo iniciativas de empreendedorismo e de investimento em diferentes segmentos – a Link se posiciona como a primeira faculdade de empreendedorismo do Brasil. Outro exemplo é a compra, pela XP Investimentos, de um instituto de ensino superior a distância, o IGTI, no fim do ano passado, com a meta de que tenha1 milhão de alunos em cinco anos.Mais importante do que a entrada de atores de fora da área de ensino para acelerar a redução do gap de profissionais é o fato de que alguns desses atores se organizam para hackear a educação, propondo uma evolução permanente em resposta ao contexto em constante mudança.