Aswath Damodaran, professor de finanças da NYU, é mais conhecido pelo cognome “pai do valuation” por ter escrito os textos mais atuais sobre como calcular o valor de mercado de uma empresa (você pode assinar sua newsletter gratuitamente), publicou em agosto último um livro diferente: The Corporate Life Cycle: Business, investment, and management implications. Trata do ciclo de vida das empresas, um tema que embora diferente tem forte parentesco com avaliação de empresas. Toda empresa passa por 6 etapas à medida em que o tempo passa. Embora todas passem pelas seis fases, cada empresa pode passar mais ou menos tempo em cada etapa. As analogias com o envelhecimento humano são eloquentes e absolutamente válidas:
Startups. Seu fluxo de caixa é negativo e, como o fundador não quer abrir mão de controle, ele se endivida muito. Exigem muita atenção. A taxa de mortalidade é bastante alta.
Adolescentes. Como seus contra-partes humanos, fazem coisas que ninguém entende. Algumas enxergam tendências antes da concorrência (Apple) e abandonam sem dó suas partes menos bem sucedidas. Outras sucumbem nessa fase, muitas vezes compradas por outras empresas mais, digamos, maduras.
Jovens. Ainda precisam de muita atenção. Mas seu fluxo de caixa é fortemente positivo, o que alimenta novos produtos/serviços. Como o conjunto necessário de habilidades é diferente, sócios-fundadores vão para o conselho de administração (ou deveriam ir), e gestores profissionais são trazidos a bordo remunerados com um pacote de ações.
Adultas. As margens nelas são estáveis. Mas a inovação começa a estagnar. Atraem outro tipo de investidor, um tipo que privilegia previsibilidade (Shell).
Na meia-idade. As margens começam a cair. Começa a fase das aquisições, que encontra seu auge na fase subsequente.
Idosas. Na velhice, algumas empresas fazem aquisições de outras menores para “comprar” juventude e fazer a alegria de consultores e banqueiros de investimento. A maioria nega aos quatro ventos que envelheceu (vide Nike, Starbucks e Unilever), na vã tentativa de não espantar os acionistas. A maioria dos conglomerados idosos, contudo, destrói valor – as partes valem mais que o todo. E em alguns casos, os líderes começam a se desentender (Disney), adicionando advogados aos consultores e banqueiros de investimentos.
Damodaran, em sua habitual mordacidade, diz que as empresas das ultimas duas categorias se comportam igualzinho como humanos fazem com cirurgiões plásticos…
Ele não nega que:
Algumas empresas contêm têm diferentes idades em diferentes partes (como a GE) e são muito hábeis em comprar/vender partes de si, o que acaba adiando a velhice.
As exceções existem, mas, obviamente, são poucas, ou não se chamariam exceções (como Amazon e Nokia). O que as caracteriza é uma reinvenção permanente.
Aqui há uma lição valiosa para quem está procurando emprego: cada “idade” de empresa demanda um perfil diferente de profissional. Então, sempre descubra em que fase está a empresa em que você vai fazer entrevistas!
Se você não tem tempo (e/ou dinheiro) para o livro do Damodaran, ouça o podcast dele com Martin Reeves do BCG Henderson Institute – dura apenas 26 minutos.
E para quem quiser saber mais ainda, o Santa Fe Institute, think tank dedicado ao estudo da complexidade, tem importantes descobertas recentes sobre envelhecimento de empresas. Aproveito para destacar o livro Scale: The universal laws of life, growth, and death in organisms, cities, and companies, de Geoffrey West, um dos pesquisadores do SFI.
Coach, headhunter, mediador e board member, Augusto Dias Carneiro é sócio da Zaitech Consultoria. É autor do livro Guia de Sobrevivência na Selva Empresarial. O lançamento de sua próxima obra, O Livro das Ideias: Inovação e Empreendedorismo, está previsto para dezembro de 2024.