Os benefícios que investir nos pilares ambiental, social e de governança traz para as empresas
ESG (sigla que, em inglês, significa ambiental, social e governança) é um dos termos mais populares do léxico corporativo atualmente. Juntas, essas três letras resumem o conjunto de padrões que as organizações usam para medir seu impacto socioambiental e para criar uma estrutura capaz de gerenciar riscos e pressões nessas áreas.
O ESG se torna ainda mais relevante em um contexto global de enfrentamento de desafios como as mudanças climáticas, o desmatamento, o aumento da desigualdade social e a transição de uma economia linear para uma economia circular, uma vez que consumidores, colaboradores, investidores e reguladores exigem que as empresas também saibam administrar o capital natural e social e que tenham a estrutura de governança necessária para isso, define a consultoria Deloitte.
Além disso, investidores estão incorporando elementos ESG em seu processo de tomada de decisão de investimento, o que torna esses três aspectos do negócio ainda mais relevantes para ter acesso a esse tipo de capital. Vamos explorar, neste artigo, a importância do ESG para as organizações e as principais discussões sobre as oportunidades e desafios de implementar práticas sustentáveis e responsáveis nas empresas.
ESG descreve um conjunto de fatores usados para medir os impactos não financeiros de investimentos e de empresas. É um conceito que surgiu de filosofias de investimento agrupadas em torno da sustentabilidade e, posteriormente, da responsabilidade social, explicam os autores do artigo “Introduction to ESG” (Introdução ao ESG), publicado no fórum de governança corporativa da Harvard Law School.
O termo foi cunhado no relatório “Who Cares Wins”, publicado em 2004 por um conjunto de instituições financeiras a convite da Organização das Nações Unidas (ONU). Essa parceria, batizada de Unep FI, busca vincular o desenvolvimento sustentável aos resultados financeiros das empresas em todo o mundo.
Ao apresentar o conceito de ESG (fatores ambientais, sociais e de governança relacionados a uma empresa), a Unep Fi reforçava, no documento, que uma “melhor inclusão de fatores ambientais, sociais e de governança corporativa (ESG) nas decisões de investimento contribuirá, em última análise, para mercados mais estáveis e previsíveis, o que é do interesse de todos os atores”.
Nesse relatório, os autores recomendavam que as empresas implementassem princípios ESG, melhorando seus relatórios, e que investidores integrassem fatores ESG em suas análises de investimento.
Além disso, incentivavam instituições acadêmicas, escolas de negócios e outras organizações de pesquisa a contribuir com pesquisa de alto nível nesse tema, para apoiar os esforços das organizações.
Naquele momento, a Unep Fi identificava algumas questões ESG que poderiam impactar o valor de uma empresa ou de um investimento:
– Mudanças climáticas e riscos relacionados.
– Redução da geração de resíduos.
– Nova regulamentação para expandir os limites da responsabilidade ambiental das empresas.
– Pressão crescente da sociedade civil para melhorar o desempenho, a transparência e a responsabilidade, levando a riscos de reputação se não forem gerenciados adequadamente.
– Mercados emergentes para serviços ambientais e produtos ecologicamente corretos.
– Saúde e segurança no local de trabalho.
– Relações com a comunidade.
– Questões de direitos humanos nas instalações da empresa e de fornecedores.
– Relações governamentais e comunitárias em operações em países em desenvolvimento.
– Estrutura do conselho e responsabilidade.
– Práticas de contabilidade e divulgação.
– Estrutura do comitê de auditoria e independência dos auditores.
– Remuneração executiva.
– Gestão de problemas de corrupção e suborno.
Fundamentalmente, o ESG ajuda as empresas a operar de maneira mais sustentável, minimizando seu impacto ambiental, promovendo práticas de trabalho justas e éticas e garantindo uma governança transparente e responsável.
Como reflexo disso, ter bons indicadores ambientais, sociais e de governança traz benefícios como boa reputação corporativa, melhor controle na gestão, redução de riscos e até mesmo retenção de talentos, além de melhor acesso ao capital.
Leia também: “A jornada ESG nas organizações”, de Christye Cantero
Em um relatório sobre esse tema, a consultoria McKinsey aponta como o ESG cria valor para as organizações:
Além de atrair clientes com produtos e serviços mais sustentáveis, uma forte proposição de ESG ajuda as empresas a explorar novos mercados e a crescer naqueles em que já atua, especialmente quando governos ganham confiança nos indicadores e passam a dar mais acesso, aprovações e licenças, que proporcionam novas oportunidades de crescimento.
A implementação eficaz de ESG pode reduzir despesas operacionais, como os custos de matéria-prima e de consumo de água e de energia.
Uma proposta de valor externa consistente pode aliviar a pressão regulatória e reduzir o risco de ações governamentais adversas contra as organizações – ou até mesmo trazer apoio do governo para suas operações.
Investir em ESG é um fator de atração e retenção de talentos e de aumento de motivação, por trazer ao trabalho um senso de propósito – e, com isso, elevando a produtividade.
Bons indicadores de ESG ajudam a melhorar o retorno dos investimentos ao alocar capital para oportunidades mais promissoras e sustentáveis (como energias renováveis, redução de resíduos e sistemas de filtragem). Também pode evitar investimentos que não valham a pena devido a problemas ambientais de longo prazo.
Além disso, o ESG é ainda mais importante para organizações brasileiras que fazem negócios na Europa. Afinal, as novas normas da União Europeia para relatórios de sustentabilidade – reunidas no European Sustainability Reporting Standards (ESRS) –, obrigatórias para grandes empresas europeias a partir de 1º de janeiro de 2024, “oportunamente se aplicarão também a empresas internacionais”, ressaltam Brian Tomlinson e Lucy Godshall em artigo publicado na MIT Sloan Management Review.
“Dessa forma, pretendem compelir as empresas a considerar não apenas os lucros convencionais, mas também o impacto que têm no mundo”, escrevem os autores. “Isso significa que as empresas terão de lidar com externalidades antes ignoradas e avaliar o valor que estão gerando ou destruindo, não apenas para si mesmas, mas também para aqueles afetados por suas atividades.”
A letra E da sigla ESG corresponde à palavra meio ambiente em inglês. Ela resume os critérios ambientais relacionados à operação de uma empresa, como a energia e outros recursos naturais consumidos, o tipo de resíduos que descarta e qual é a consequência de suas atividades para o meio ambiente – especialmente em relação às emissões de gases poluentes que impactam o cenário das mudanças climáticas.
Leia também: “O futuro das regulações ambientais”, de Sandra Regina da Silva
Ter boas práticas na área de meio ambiente pode não só reduzir os custos operacionais da empresa (com água e energia, por exemplo), mas também evitar a perda de clientes e de fornecedores por causa de má gestão da sustentabilidade, que passa uma imagem de que os produtos e serviços da organização são prejudiciais ao meio ambiente, aponta o relatório da McKinsey.
A consultoria ressalta, também, que investir no pilar de meio ambiente é uma maneira de planejar como gerar menos resíduos desnecessários (e economizar no descarte e no tratamento desses resíduos) e gastar menos com embalagens, por exemplo.
Considerando que os indicadores ESG nasceram de uma demanda por investimentos mais éticos, eles continuam sendo importantes nas decisões de fundos e de investidores. Segundo o estudo global sobre ESG realizado pela Harvard Law School em 2022, o meio ambiente é o que mais atrai interesse dos investidores – especialmente a preocupação com as mudanças climáticas.
Esse estudo mostra que, em todo o mundo, investidores alocaram 47% de seus investimentos em ESG em iniciativas relacionadas ao meio ambiente em 2022 – um leve aumento em relação a 2021, quando essa porcentagem foi de 44%. Outros 27% foram investidos em ações de governança, e 25% tiveram como destino iniciativas sociais.
Avançando na sigla ESG, o S trata do aspecto social, ou seja, os relacionamentos internos e externos na organização. Internamente, os critérios sociais se aplicam à qualidade do ambiente de trabalho, aos salários e benefícios, à diversidade e inclusão, à justiça racial e à equidade salarial.
Externamente, o S engloba direitos humanos, relações com comunidades do entorno, privacidade e proteção de dados dos clientes, gestão da cadeia de suprimentos e outras questões de capital humano e justiça social.
“A sociedade está exigindo que as empresas, tanto públicas como privadas, atendam a um propósito social. Para prosperar ao longo do tempo, toda empresa deve não apenas entregar desempenho financeiro, mas também mostrar como contribui positivamente para a sociedade”, define Larry Fink, CEO do fundo BlackRock, em uma carta endereçada a executivos chefes das organizações.
Dentro de casa, priorizar o bem-estar dos colaboradores é um fator que contribui para o impacto social positivo das organizações, aponta Denise Turco em um artigo publicado na MIT Sloan Management Review. Segundo a autora, isso engloba aspectos como equilíbrio entre vida pessoal e profissional, desenvolvimento da carreira e benefícios.
Ouça o podcast “Diversidade por design faz melhores empresas”, com Grazi Mendes
Outro ponto importante, segundo o artigo, é colocar em prática uma política de diversidade, equidade e inclusão (DEI) que realmente faça os colaboradores se sentirem acolhidos e respeitados no ambiente corporativo. Dessa forma, as empresas avançam também em reputação e reconhecimento da sociedade e na retenção de talentos.
Na pesquisa “Diversidade, Equidade e Inclusão nas Organizações”, realizada pela Deloitte em 2023, 90% das empresas disseram que as práticas de DEI aumentam a retenção de profissionais – e 94% afirmaram que elas melhoram a qualidade da força de trabalho.
Governança corporativa (também chamada de pilar econômico do ESG) é o conjunto de processos, costumes, políticas, leis, regulamentos e instituições que regulam a maneira como uma organização é administrada – levando em conta os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais stakeholders.
Esse sistema de gestão também considera os riscos e impactos negativos da tomada de decisão para entender como evitá-los ou mitigá-los. Por isso, uma maneira efetiva de promover a boa governança é implementar mecanismos de controle interno.
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Os pilares ambiental e social em geral são a parte mais visível das políticas ESG. Mas, em um artigo escrito para a MIT Sloan Management Review, Paulo César Teixeira propõe inverter essa ordem e priorizar a governança – a última letra da sigla – como uma maneira de assegurar a perpetuidade do negócio.
Ele define a governança como o cadinho que reúne a cultura, o propósito e os valores de uma organização. Por isso, seu papel é como o do guard-rail das estradas ou das pistas de Fórmula 1: proteger a empresa em caso de intempéries e “choques”, amortizando, com resiliência, esses impactos. Sem eles, essas crises poderiam tirar a empresa de seu rumo e causar danos graves.
A governança corporativa, portanto, constrói os alicerces para que o propósito inicial da empresa se sustente. Estruturar regras e controles evita conflitos nas relações com stakeholders e no ambiente organizacional, o que permite a sustentabilidade do negócio em longo prazo.
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Ao fortalecer a governança, as empresas demonstram seu compromisso com a sustentabilidade e a responsabilidade social, além de se posicionarem de forma mais competitiva no mercado. Daí sua importância para a longevidade do negócio, para a construção de credibilidade e para o fortalecimento do relacionamento com stakeholders e com a sociedade.
Para que o ESG de uma organização seja reconhecido, ela deve adotar práticas responsáveis em todos os três pilares: ambiental, social e de governança. Isso se aplica tanto às suas operações quanto à sua estratégia de negócios.
Além disso, será necessário monitorar seu desempenho com uma frequência determinada para mostrar, a stakeholders e investidores, relatórios que atestem seu comprometimento com essas práticas responsáveis.
Não existe um consenso internacional sobre critérios de ESG para uma organização, mas os autores de um artigo publicado no fórum de governança corporativa da Harvard Law School sugerem alguns frameworks e índices como referência.
Entre os principais frameworks internacionais estão os padrões da Global Reporting Initiative, os padrões do Sustainability Accounting Standards Board (SASB), os Princípios para Investimento Responsável da Organização das Nações Unidas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Em um artigo escrito para a MIT Sloan Management Review, Denise Turco menciona um estudo da consultoria norte-americana Russell Reynolds Associates que afirma que as organizações avançam mais facilmente no campo do ESG quando os líderes da área de sustentabilidade são mais próximos do CEO – mas que apenas 20% dos CSOs (executivos chefe de sustentabilidade) reportam seus planos diretamente aos CEOs.
A autora ressalta que as principais barreiras à adoção da agenda ESG no Brasil são a falta de conhecimento e de comprometimento da liderança – especialmente porque muitos líderes ainda esperam resultados imediatos, muitas vezes por pressão de investidores com foco de curto prazo. “Esses desafios reforçam a importância de um apoio top-down para acelerar a maturidade em ESG nas organizações”, escreve Turco.
Para ela, “as lideranças precisam abraçar o tema com uma abordagem estratégica e holística, estabelecer metas, métricas e planos de ação”. Outros passos importantes são desenvolver uma cultura forte de sustentabilidade e investir na educação sobre o tema.
As práticas ESG ajudam as organizações a operar de maneira sustentável e responsável. Para saber mais sobre como liderar o caminho para o ESG, confira nosso ebook “Negócios sustentáveis: descubra como tornar a sua empresa mais competitiva com a agenda ESG”. Esse material, desenvolvido em parceria com o 2W Ecobank, oferece insights e estratégias para integrar práticas ESG nas empresas.
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