Empresariar nesse ambiente exigirá a excelência na gestão dos negócios
Há tempos discutem-se estratégias para o comércio exterior brasileiro. As ideias, monotonamente, se repetem em todas as discussões, sem que haja qualquer esforço consequente entre os formuladores de políticas econômicas. O problema ironicamente fica para o empresariado.
Entre as estratégias presentes no cardápio das soluções possíveis para a expansão das exportações nacionais estão três, já tradicionais e bem conhecidas. A primeira, e mais óbvia, refere-se à agregação de valor dos produtos exportados, envolvendo maiores graus de industrialização dos produtos. A segunda, refere-se à diversificação dos mercados, evitando a perigosa concentração de nossas vendas em poucos países. Hoje o mercado asiático, com ênfase nas importações chinesas, esconde um risco quase incomensurável. Por fim, a diversificação da pauta de exportação, ampliando o leque de produtos exportados, como uma nova vertente de crescimento da balança comercial.
Adicionalmente, discutia-se, desde sempre, a necessidade de o Brasil construir suas marcas no exterior. O grande exemplo da ocasião era o café que, exportado em grande quantidade, nunca havia sido contemplado pelo esforço empresarial para construção de uma marca brasileira própria. A ideia subjacente era a de que essa marca poderia, contando com o reconhecimento do mercado internacional, ter seus preços privilegiados em relação à concorrência. Também se cogitou da participação brasileira nos sistemas de distribuição dos países desenvolvidos. Lojas de varejo ou iniciativas conjuntas dos exportadores no estabelecimento distribuidores-atacadistas poderiam ampliar as margens do produtor nacional.
Sem prejuízo do longo tempo em que essas estratégias foram cogitadas, elas fazem muito sentido no momento atual. Entretanto poderiam vir acompanhadas de um pensamento econômico mais contemporâneo, que considerasse os impactos da pandemia, ampliados pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Dada a estrutura que o comércio internacional assumiu, com a fragmentação dos mercados e da produção, e com a ampliação das trocas intergrupos, dentro ou fora de suas cadeias produtivas, as estratégias de internacionalização das empresas nacionais, e de suas inserções nestas cadeias, devem ser definitivamente implementadas. Estas cadeias avaliam neste instante a relocalização de alguns de seus elos em decorrência de problemas geopolíticos e de seus impactos na segurança de seus suprimentos.
A segurança torna-se tão relevante nesta relocalização, quanto às avaliações dos custos de produção e transportes. Uma oportunidade nova e atraente para as empresas nacionais dispostas a assumir os riscos da internacionalização. Vale lembrar que para isso são exigidas certificações de produtos e processos, investimentos em tecnologia, hedge para seus ativos e passivos, disposição para prática de preços a partir das economias de escala e, sobretudo, a excelência na prestação de serviços complementares. De alguns anos para cá, o comércio exterior conta com um percentual não desprezível de serviços, de toda a natureza.
Os desafios são grandes e os riscos serão multiplicados. Empresariar neste ambiente exigirá a excelência na gestão dos negócios. O passado não pode ser esquecido, mas apenas o futuro trará a formação de riquezas. O novo governo, como os que o antecederam, terá dificuldade de entender tudo isso e de construir alternativas para apoiar o esforço empresarial.