Em estudo inédito sobre o ecossistema de tecnologias de RH no país, MIT SMR BR apresenta as principais expectativas, aplicações, gargalos e benefícios observados na adoção de soluções de HCM
Com a aceleração da transformação digital, integrar processos e facilitar a jornada dos colaboradores tornaram-se aspectos essenciais para o desenvolvimento das estratégias de marcas empregadoras — além de um diferencial competitivo relevante para atingir os objetivos de negócio. Mas, se por um lado, a tecnologia na gestão de pessoas trouxe novas oportunidades, de outro, trouxe também desafios.
A fim de traçar um panorama abrangente sobre o ecossistema de tecnologias de RH no país, a MIT Sloan Management Review Brasil desenvolveu o Human Capital Management Solutions Report. O estudo, realizado em mais de 140 organizações brasileiras, revela as principais expectativas, aplicações, gargalos e benefícios observados na adoção de soluções de Human Capital Management (HCM).
O conceito de human capital management (HCM) gira em torno do conjunto de estratégias e ferramentas ligadas à gestão e ao desenvolvimento de pessoas nas organizações. Nesse ecossistema de soluções, estão presentes tanto soluções de uso segmentado (sistemas recrutamento e seleção, por exemplo) como plataformas transversais de integração de processos de recursos humanos.
A partir de uma metodologia proprietária, a elaboração do questionário-base do estudo foi orientada pela identificação das principais demandas, percepções de valor e estratégias de aplicações de soluções de HCM no ecossistema de recursos humanos (RH) brasileiro. Dessa maneira, a primeira fase da pesquisa foi composta por entrevistas de profundidade com lideranças e tomadores de decisão de organizações dos mais diversos setores.
Os insights levantados durante as sessões serviram como base para o desenvolvimento do formulário final pela equipe de MIT Sloan Management Review Brasil. O período de coleta de dados foi realizado ao longo de cinco semanas e contabilizou respostas de líderes e gestores de 148 empresas — CEOs, C-Levels, diretores, consultores e gerentes, em sua maioria.
Os resultados foram compilados em três categorias principais: percepção de valor das soluções de HCM, aplicações de negócios e tendências de mercado.
Profissionais de recursos humanos destacam ganhos significativos em eficiência operacional, automação de processos e análises de dados mais assertivas. Esses benefícios não apenas melhoram a rotina do RH, mas também têm um impacto direto no desempenho organizacional.
Ao analisar o panorama completo, fica evidente que as soluções de HCM vão além da otimização de processos de RH. Elas proporcionam uma visão estratégica, apoiam a tomada de decisões e impulsionam o engajamento dos colaboradores. Este último aspecto, em particular, é altamente valorizado por 87,5% dos executivos C-Level no Brasil.
No middle management, o fator redução de custos (66%) aparece como um diferencial relevante oferecido pelos sistemas. Isso demonstra que, além dos benefícios estratégicos, essas ferramentas também trazem impactos financeiros positivos para as organizações.
No quadro geral, a utilização das plataformas é considerada muito importante por cerca de 79% dos tomadores de decisão que participaram da pesquisa.
Ainda existe, no entanto, um gap sobre a percepção de valor e a dedicação de recursos destinados às soluções: embora a maioria dos participantes da pesquisa acreditem em sua necessidade para o sucesso do negócio, apenas 34% de suas empresas planejam investir em novas tecnologias de HCM nos próximos doze meses. Dentre esse grupo, apenas 10% possuem um budget superior a R$ 300 mil para expandir ou aperfeiçoar seu portfólio de ferramentas. Esses números indicam que há espaço para um maior entendimento e aproveitamento dos benefícios oferecidos pelas soluções de HCM no ambiente empresarial brasileiro.
O que alavanca o potencial de soluções de HCM nas organizações
– Fortalecimento da visão estratégica: apontado como um dos principais diferenciais de HCM por lideranças de diversos perfis e setores.
– Formação de uma cultura de dados: essencial para gerar bases de informações qualificadas e permitir análises mais assertivas de desenvolvimento humano.
– Eficiência operacional e automação: entre as maiores vantagens percebidas pelos profissionais de RH.
– Criação de dashboards intuitivos: tendência em ascensão para facilitar a visualização e integração de processos administrativos.
A evolução das tecnologias de HCM, que vêm abrindo novas possibilidades nas frentes de gestão de pessoas e desenvolvimento humano, ainda não alcançou seu potencial na área operacional. Nela, a maioria das aplicações ainda se concentra na automatização de processos básicos que lidam com grandes volumes de informações, como administração de folhas de pagamento (49,32%), recrutamento e seleção (42,57%) e avaliações de desempenho (31,08%).
Oportunidades ligadas, por exemplo, à melhoria do clima organizacional foram citadas por apenas 18,92% dos participantes da pesquisa.
Barreiras culturais e a migração de informações para ambientes on-line ainda são mencionados como desafios para a adoção de ferramentas de HCM. Os altos custos de implantação e a complexidade de integração com outras plataformas também são obstáculos para aplicar essas soluções em camadas mais estratégicas do negócio.
Entre os critérios analisados pelas lideranças na hora de contratar soluções de HCM, o financeiro é o principal (sendo unanimidade entre o C-Suite das empresas), seguido da qualidade do suporte técnico oferecido pelos fornecedores.
As entrevistas preliminares e as opiniões coletadas pelo estudo revelaram duas demandas em ascensão no mercado de HCM:
Em ambos os casos, porém, a relação entre expectativas de geração de valor e aplicações práticas apresenta divergências significativas.
No caso da incorporação das soluções de saúde mental, a necessidade foi identificada como prioritária por 74% dos respondentes da pesquisa. No entanto, as ferramentas de saúde mental e bem-estar estão efetivamente presentes em apenas 18,24% das empresas avaliadas.
Já no caso da incorporação de soluções de inteligência artifiical, a necessidade foi identificada como prioritária por cerca de 75% dos respondentes da pesquisa (em uma classificação de 0 a 10 pontos). No entanto, apenas 20% dos participantes da pesquisa conseguem identificar aplicações claras de IA nos sistemas de HCM contratados por suas organizações. O cenário revela uma oportunidade promissora para a criação de novas abordagens de inovação aberta, que facilitem a integração entre plataformas transversais e soluções de startups voltadas para nichos segmentados de aplicações.
O gap entre potencial de inovação e aplicações em pontas operacionais surge como um dos principais fios condutores da primeira edição do HCM Solutions Brazilian Report.
O volume de investimentos segue como uma barreira crítica para a exploração de novas soluções. Mas as respostas dos participantes apontam sobretudo para os desafios culturais de executar roadmaps de inovação que alinhem necessidades reais de colaboradores com objetivos de negócio.
“Muitas organizações divulgam que as pessoas são o seu principal ativo. Esse discurso não se sustenta quando vemos o baixo valor que as empresas analisadas pretendem investir nas plataformas”, afirma Marcelo Nóbrega, especialista em inovação e tecnologia para RH da Falconi.
Ao mesmo tempo que envolve o comprometimento da alta liderança, trata-se de uma jornada que também passa pelo desenvolvimento de novas competências entre profissionais de recursos humanos, como aponta André Souza, fundador da Futuro S/A, consultoria especializada em projetos de transformação cultural. “Não basta apenas dedicar recursos à contratação das ferramentas. É preciso capacitar as áreas de RH para usar as soluções de maneira que elas possam realmente contribuir para os resultados da organização e para as próprias decisões de investimento”, diz. “Isso envolve o desenvolvimento de competências de pensamento crítico e sistêmico.”
Em meio a esse conjunto de oportunidades e desafios, as tecnologias de HCM continuam como um pilar fundamental para organizar, desburocratizar e facilitar a gestão de capital humano no mercado brasileiro, sobretudo entre empresas de médio e grande porte. A ampliação desse potencial para campos mais estratégicos, por sua vez, ainda apresenta gargalos de investimento, abertura à mudança e integração das operações dos diversos players que compõem esse ecossistema — das grandes plataformas transversais às soluções de cauda longa desenvolvidas por HR Techs. Um caminho, que assim como qualquer movimento de inovação, começa pela definição de novas prioridades de gestão de pessoas e pelo foco de tomadores de decisão em resultados de longo prazo para suas organizações.