Mudanças climáticas, sociais e familiares nos impulsionam a reimaginar a nossa casa – conheça os cinco pilares de um lar preparado para o futuro
Estamos vivendo um momento de mudanças profundas, causadas por diversos fatores – que vão desde o clima, o bem-estar e a saúde mental das pessoas até o lado social. Juntos, esses aspectos impactam outro aspecto muito importante: como será o futuro do morar?
Como futurista, tenho acompanhado de perto as transformações que estão moldando o futuro do morar ao redor do mundo. Após viver em 22 países e explorar uma variedade de culturas e de estilos de vida para entender o que nos espera, encontrei inspiração para reimaginar o conceito de lar em um contexto global em constante evolução – e vou compartilhar essas ideias com vocês neste artigo.
Conectada a todas essas mudanças, a casa que imaginamos daqui a alguns anos deve ser multifuncional e atender a todas as áreas das nossas vidas. Hoje, o aspecto mais importante do lar é a capacidade de celebrar e relaxar, conforme responderam 54% das pessoas entrevistadas em um estudo realizado pela Ikea, gigante global na área de móveis e decoração.
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O bem-estar requer espaços adaptados para transmitir serenidade e calma, o que contribui para a qualidade do sono das pessoas – cerca de 80% dos brasileiros relatam ter algum problema na hora de dormir, segundo a Associação Brasileira do Sono. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) confirma esse problema: 72% dos brasileiros lidam com algum distúrbio do sono, e insônia é uma queixa comum, o que torna o transtorno um problema de saúde pública.
O problema não é exclusivo do Brasil; é um reflexo de uma tendência global. Por isso, será preciso pensar em um ambiente que ajude a melhorar o sono e combater os desequilíbrios de saúde que causam cansaço.
O futuro do morar deve levar em conta outro fator muito importante: as mudanças climáticas. Segundo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), há 80% de probabilidade de que o aumento da temperatura média global anual exceda temporariamente em 1,5°C os níveis pré-industriais durante pelo menos um dos próximos cinco anos.
Portanto, à medida que o clima global aquece, as casas vão precisar se adaptar para enfrentar eventos extremos, como secas prolongadas, inundações devastadoras e ondas de calor intensas. Com isso, as construções terão que ser adaptadas tanto para o frio como para o calor, com uso de materiais mais impermeáveis e resistentes a altas e baixas temperaturas.
Ainda nessa linha, a sustentabilidade emerge como outro pilar fundamental, integrando materiais de construção eco-friendly e soluções de descarte responsáveis. Ao mesmo tempo, promove-se um ambiente saudável por meio da biofilia, que integra elementos naturais ao design das residências. Outro ponto importante é a eficiência energética, com a adoção de tecnologias de energia renovável e sistemas de gestão de energia para minimizar o desperdício.
Poliamor e famílias sem filhos, por exemplo, são novas dinâmicas familiares que exigem um design intuitivo e versátil para acomodar diferentes formas de convivência e de interação.
Além da preocupação com a construção em si, será preciso pensar em ambientes mais seguros, limpos e estéreis para nos protegermos de futuras epidemias e novos vírus, como aprendemos com a covid-19. As pessoas também irão valorizar a proximidade com a natureza, para uma melhor qualidade de vida, bem-estar e saúde mental.
Essa preocupação com a saúde mental vem crescendo no Brasil e no mundo pelo menos desde 2018. Dados da pesquisa “Global Health Service Monitor 2023”, realizada pela Ipsos, apontam que cinco em cada dez brasileiros (52%) acreditam que a saúde mental é o principal problema do país em termos de bem-estar.
Assim, produtos de limpeza orgânicos, purificadores de ar e um ambiente propício à saúde mental serão essenciais para promover um estilo de vida equilibrado e sustentável no futuro. Da mesma forma, a conectividade e a tecnologia irão desempenhar um papel vital, facilitando não apenas a automação e a segurança dos lares mas também promovendo um estilo de vida muito mais fluido, conectado e adaptável.
A adaptação não se limita apenas ao ambiente físico, mas também ao social. Novos formatos de famílias e de relacionamentos ressignificam os conceitos tradicionais e exigem espaços flexíveis e adaptáveis. Poliamor e famílias sem filhos, por exemplo, são novas dinâmicas familiares que exigem um design intuitivo e versátil para acomodar diferentes formas de convivência e de interação. Por fim, a popularização do trabalho híbrido ou remoto demandará espaços ainda mais multifuncionais, aliando moradia, entretenimento e trabalho.
Levando em conta todas essas mudanças, como podemos reimaginar o nosso morar? Cada experiência que vivi ao longo de dois anos nos países que visitei contribuiu para uma compreensão mais profunda de como nossas casas podem – e devem – evoluir para enfrentar os desafios do século 21.
Todas essas vivências foram essenciais para vislumbrar como será esse futuro do habitar. Desde Aarhus (Dinamarca), onde conheci um dos edifícios mais sustentáveis do mundo, até o dinamismo dos co-livings em Hong Kong e Singapura e a vanguarda da tecnologia em uma das primeiras casas automatizadas do mundo, na ilha de Jeju, na Coreia do Sul – e também a colaboração total de um kibutz em Israel.
Com base nessas experiências, fiz uma análise profunda das tendências emergentes e investi em um projeto real, que seja um catalisador para a mudança em direção a um estilo de vida mais sustentável, conectado e consciente.
Por isso estou aplicando o meu conceito de “apartamento do futuro” para transformar meu próprio lar em um laboratório vivo, onde pretendo testar novas tecnologias, conceitos de design e soluções práticas que poderiam inspirar outras pessoas a transformar seus lares em moradias do futuro. Além de ser um espaço de conteúdo sobre as experimentações do meu dia a dia, será também um ambiente aberto e compartilhado com os outros.
Com foco em tecnologia e design, o apartamento do futuro abraça produtos, serviços e acessórios pensando sempre no bem-estar dos moradores – como janelas acústicas e cortinas tecnológicas com tecido UV, que bloqueia a luz e os raios ultravioleta. Os ambientes terão design, cores, iluminação indireta e texturas pensados para promover a sensação de calma e ter um efeito antiestresse, também usando a tecnologia para configurar o mood que a pessoa desejar para o seu bem-estar.
Neste projeto, que estará em constante experimento, sempre com novas atualizações e acompanhando todas as tendências mundiais, eu integro cinco pilares fundamentais que sustentam a concepção de um lar preparado para o futuro:
Acredito, firmemente, que no futuro nossas casas não serão apenas refúgios, mas centros de inovação, bem-estar, convivência e entretenimento.