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Gestão de pessoas não pode ser futebol

A política de diversidade e inclusão pode acabar virando uma grande Copa do Mundo dentro da sua organização; é preciso tratá-la com mais cuidado e estratégia

Daniele Botaro
29 de julho de 2024
Gestão de pessoas não pode ser futebol
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_“If we have data, let’s look at data. If all we have are opinions, let’s go with mine.”-_ _Jim Barksdale_

Horas e horas de treinamento físico e tático e na final do campeonato o craque do time não joga bem. Ou o meio de campo parece morto e o número de passes errados nos primeiros minutos do jogo já supera o número de gols que a Alemanha fez no Brasil em 2014. Ou ainda pior, o artilheiro erra as pouquíssimas chances de gol que chegaram para ele. Culpa de quem? Claro que é do técnico, pelo menos é o que dizem comentaristas, jornalistas, torcedores do time amado e do time rival e todas as outras pessoas do planeta.

Não importa quanto conhecimento e esforço o técnico tenha feito, a opinião das pessoas sempre serão de que ele falhou e o resultado esperado não veio. E isso não para quando o jogo acaba. São horas e horas de programas esportivos, conversas de bar, cafezinhos de escritório e memes de grupos de WhatsApp só dando palpites do que o técnico deveria ter feito e como deve fazer de agora em diante.

É exatamente assim que vejo o tema de Diversidade e Inclusão. Poucas pessoas estudam o tema, mas todos têm uma opinião de como as coisas deveriam ser feitas para alcançar os resultados. Isso porque quando falamos de futebol e de questões que envolvem causas e pessoas, todos nós nos envolvemos emocionalmente e o que sentimos sobre aquele assunto nos leva a ter um posicionamento sobre ele. Diferente do marketing ou da área de finanças, por exemplo, onde ninguém que não entenda do assunto vai chegar dizendo coisas como “eu não concordo com o conteúdo desse evento para clientes que vocês fizeram” ou “eu acho que vocês estão criando um efeito contrário nas pessoas ao implementar esse sistema de controle de despesas ao invés do antigo Excel”. A área de pessoas costuma ser alvo de palpiteiros e pessoas que tentam ajudar a trazer diferentes pontos de vista (visão de pontos diferentes), mas que em sua maioria, não possuem conhecimento técnico e profundo sobre o tema. E isso pode acabar virando uma grande Copa do Mundo dentro da sua organização.

A questão é que quando falamos de pessoas a equação nem sempre é exata e a resposta não é zero e um. Pessoas são diversas, possuem pensamentos, experiências e origens muito diferentes. Isso tudo misturado à momentos de vida, questões pessoais, pressão por resultados e incertezas constantes acaba terminando em poucas ações que geram resultados verdadeiros. Se não estamos baseando nossas ações e tomadas de decisão em dados, estudos e conhecimento técnico, corremos o risco de só discutir opiniões e não sair do lugar. A inclusão é um paradoxo, pois há que abrir espaço para diferentes visões, mas ao mesmo tempo, se não há estratégia e conhecimento sólido sobre o assunto, deixamos de aproveitar os pontos de vista diversos e viver eternamente em uma reunião de ideias filosóficas.

Tudo bem torcer cegamente para seu time de futebol no final de semana e ter uma opinião do que deveria fazer o técnico. Futebol é paixão, e seu papel é justamente despertar paixão. Mas quando falamos sobre gestão de pessoas e sustentabilidade de negócios em um mundo cada vez mais diverso, é necessário ter um pouco mais de cuidado e estratégia. Deixe a torcida para o futebol e busque conhecimento na hora de gerenciar pessoas. Você certamente não vai querer ver nenhum dos seus times na segunda divisão.

Daniele Botaro
Head de diversidade e inclusão da Oracle para a América Latina, ela também é embaixadora da Gaia+. Foi empreendedora, e sócia-diretora, da Impulso Beta, consultoria especializada em programas de diversidade.

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