A partir de um conjunto de referências, procuro mostrar como será o hospital do futuro; a projeção extrapola as barreiras dos espaços físicos e acomoda o uso de tecnologias virtuais incessantes no cotidiano dos pacientes, no conforto do lar
“Dia 20 de junho de 2045, São Paulo, Brasil. Após uma série de avaliações clínicas e exames complementares, enfim o grande dia: Marcos estava pronto para realizar seu transplante renal. Aos 106 anos, e com saúde até então inabalada, Marcos vinha há algum tempo aguardando por esse momento.
De casa, Marcos havia agendado a internação por meio da sua assistente digital, enquanto tomava o café da manhã. O sistema do hospital, integrado ao seu prontuário digital individual, extraiu todas as informações de que precisava e deixou prontos os lembretes: “preparos para a internação”, “avisos para os familiares” e “agendamento de um serviço de transporte por veículos aéreos”, que o levaria até o hospital em 5 minutos. O que Marcos precisava era apenas separar algumas roupas e seus itens pessoais.
Tudo funcionou perfeitamente, conforme o planejado. Ao chegarem ao hospital, Marcos e Adriana, sua esposa, foram recebidos pela Juliana, que a partir daquele momento acompanharia todos os seus momentos no hospital. Sofia, uma recepcionista robô, encarregava-se dos procedimentos de admissão e encaminhava Marcos e Adriana até o quarto. Ao chegarem, Sofia transmitiu a lista de opções de entretenimento: “gostariam de fotos pessoais em alguma parede?”; “Quais eram seus tipos de filmes preferidos?”; “Alguma restrição alimentar para o casal?”.
Marcos ficou encantado. Com proteções acústicas, paredes claras, ambiente aconchegante e som ambiente agradável, o quarto do hospital não lembrava em nada com aqueles do passado. Ao lado da cama, uma assistente digital informava toda a agenda de Marcos durante a internação e tirava dúvidas de saúde, ou sobre o procedimento a ser realizado. O relógio de Marcos, conectado ao sistema hospitalar, enviava em tempo real informações sobre sua frequência cardíaca, saturação de oxigênio, eletrocardiograma e outros dados vitais.
Em poucos minutos após a internação, Marcos e Adriana foram visitados pelos Drs. Roberto e Cristina, médicos responsáveis pelo procedimento, acompanhados dos seus robôs assistentes. Por meio de realidade virtual, o casal foi apresentado a todas as etapas do procedimento, conhecendo com mais detalhes os rins que seriam implantados, produzidos por impressão 3D e sob medida para o organismo de Marcos.
O diálogo entre eles e os médicos assistentes foi gravado, de forma segura e criptografada, e transcrito para o prontuário eletrônico individual de Marcos, integrado ao sistema hospitalar e facilmente acessível pelos celulares e assistentes digitais dos médicos.
Com a ajuda de cirurgiões robôs, o procedimento transcorreu sem qualquer intercorrência. Marcos retornou para o quarto em seguida e poucas horas depois já estava pronto para conversar com a família e seu médico particular por meio de modernos sistemas de telemedicina com hologramas, facilitando a comunicação com seus filhos e netos na Austrália, Chile e Tailândia.
No dia seguinte, Marcos estava pronto para voltar para sua residência. Após as orientações finais, entrou com sua esposa no veículo aéreo e, em poucos minutos, o casal estava pronto para descansar no conforto do seu lar. Seu relógio continuou transmitindo as informações vitais para o sistema do hospital e para os médicos assistentes.
Ao receber uma notificação no celular, Marcos era lembrado dos momentos de realizar seus testes laboratoriais: na mesma hora, coletava uma gota de sangue da ponta do dedo, analisada em tempo real por um pequeno aparelho conectado ao celular.
A verdade é que o hospital do futuro será completamente diferente do modelo atual. Longas filas, sistemas burocráticos e ambientes frios e impessoais serão coisas do passado. A tendência é que hospitais sejam muito mais voltados para realizar grandes cirurgias, atendimentos de urgência e exames diagnósticos mais complexos.
Por meio da tecnologia, a maior parte dos cuidados com a saúde será feita no ambiente doméstico, com dados vitais coletados por relógios inteligentes e testes rápidos de análises clínicas realizados em poucos minutos.
No cenário hospitalar, a tendência é que tenhamos ambientes muito mais acolhedores, sem longas filas, esperas ou trâmites burocráticos. Robôs ajudarão não apenas na recepção dos pacientes, mas também em procedimentos cirúrgicos, suporte para a enfermagem e na desinfecção de quartos e outros ambientes hospitalares.
Soluções baseadas em inteligência artificialestarão por todo lado, inclusive auxiliando pacientes com dúvidas sobre saúde, bem-estar e qualidade de vida. Centros de comando, semelhantes aos da indústria de aviação e de centros de mídia, também serão realidade, acompanhando diversos pacientes simultaneamente, checando sinais vitais e cruzando os dados por meio de sistemas inteligentes de análise e predições de risco e prognóstico.
A arquitetura hospitalar será toda pensada para promover satisfação e uma boa experiência aos pacientes, desde funcionários do hospital e corpo clínico até os ambientes espaçosos, agradáveis e acolhedores.
Por fim, a telemedicina facilitará não apenas a comunicação entre médicos e pacientes, mas também para manter próximos os parentes que moram longe e não podem estar presentes em momentos preciosos para todos.
26 de novembro de 2048. Casa decorada, comes e bebes preparados e trilha sonora a pleno vapor: chegara o dia de festejar mais um aniversário de Marcos. No jardim, além de muitos amigos e familiares, hologramas dos que não puderam comparecer interagiam com o anfitrião e seus convidados.Um pequeno alerta no celular de Adriana avisava que sua glicemia estava ótima, assim como pressão arterial, frequência cardíaca e oxigenação sanguínea.
Diabética desde a infância, ela não se lembrava mais dos períodos de descontrole da glicose, graças ao monitoramento contínuo por dispositivos vestíveis. No entanto, isso é tema para nossa próxima coluna; agora, é hora de comemorar a vida, a saúde e os 110 anos de Marcos.
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