Dominar a IA é relativamente fácil, basta se ocupar com ela, aprender como funciona. Dominar a mente é outro tipo de desafio, muito mais complicado
Afinal, como a inteligência artificial deverá mudar as nossas vidas? – é a pergunta que ora ou outra se vê nos canais de notícia. Opiniões não faltam.
Uma matéria publicada lá em abril de 2023 na The Economist predizia: a inteligência artificial (IA) mudará a forma como as pessoas acessam conhecimento, como se relacionam com ele e como pensam sobre si mesmas.
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Bem antes disso, nos idos de 2019, havia perspectivas mais obscuras. Stephen Hawking ponderava sobre a incontrolabilidade da IA. Elon Musk previa a necessidade de uma regulamentação para evitar seu uso indevido. Em uma de suas entrevistas, ele afirmou que a IA não precisaria ser má para destruir a humanidade – “se a IA tiver um objetivo e a humanidade simplesmente estiver no caminho, a IA destruirá a humanidade, sem sequer pensar nisso, sem ressentimentos”.
Há, de outra sorte, os entusiastas da IA. Em 2022, Bill Gates, por exemplo, previa uma vida mais desonerada, com tempo livre para as pessoas aproveitarem e expressarem sua criatividade. Visão tão positiva como a de Kai-fu Lee, que profetizou que “a IA nos conhecerá melhor do que nós mesmos. Sites, aplicativos e outros dispositivos digitais conhecerão nossa psique e motivações não apenas por meio de cada clique, compra e pausa (que são capturados hoje), mas também de cada ação, movimento e fala (que serão capturados no futuro, de forma segura, protegendo nossa privacidade)”.
Tanto a perspectiva apocalíptica quanto a apologética assumem que, seja lá o que vier a acontecer, a determinante será a IA. Não creio que seja assim.
Penso que a inteligência artificial é como o leme de um barco: é preciso que alguém o maneje de maneira adequada.
O leme da IA é como um martelo ou uma chave de fenda. Um martelo não pode ser empunhado por ele mesmo. Nem a chave de fenda. Nos dois casos, é preciso ao menos uma empunhadura humana que possa torná-los úteis.
Contudo, no caso do leme da IA, há diferentes formas de empunhá-lo. O usuário o controla de modo a cuidar para que o efeito esteja de acordo com a sua função. Já para aquele que desenvolve os algoritmos, a empunhadura permite controlar a amplitude das possíveis manobras do usuário. Os algoritmos, por sua vez, necessitam de dados para serem treinados, e alguém precisa coletá-los e prepará-los. É uma empunhadura que controla a precisão de funcionamento do algoritmo segundo o projeto do desenvolvedor, manejando, assim, a amplitude do controle que este último tem sobre as manobras do usuário.
Abaixo um embed para retirar depois:
É claro que podemos substituir os agentes humanos do processo de coleta e preparação dos dados, bem como o desenvolvedor do algoritmo, pela própria IA. Nesse caso, restaria apenas a mão do usuário para controlar o leme.
No caso da IA generativa, a empunhadura não dá conta apenas da nossa manobra para fazê-la funcionar de modo a gerar conteúdos digitais, como textos do ChatGPT ou vídeos do Sora. A empunhadura também refere o valor que damos para estes conteúdos e para o tempo que nos ocupamos com eles.
É um axioma simples: a IA muda as nossas vidas segundo o que prevalece na mente de quem a usa. Ou seja, a razão pela qual ocupamos mais nosso tempo com conteúdos gerados pela IA do que com conteúdos humanos, o propósito que encontramos ali e o quanto esses conteúdos contribuem para a nossa autoestima serão determinantes para o nosso futuro. Afinal, o que prevalece na mente são essas correntezas incitadas por razões, propósitos e autoestima. Não há água parada.
A hipnose do TikTok – que cinicamente proclama “make your day” (do inglês, ganhe o seu dia) como razão de ser – é um bom exemplo. Basta um pequeno mergulho, um contato inicial com qualquer conteúdo da referida rede social, e já a correnteza da mente nos oferece uma sensação de cinesia reconfortante. Encontramos uma razão para estar ali, um propósito, uma sensação de bem-estar e, por horas a fio, nossa mente corre em direção ao seu próprio correr, desaguando sempre com pressa, distraída das margens, do tempo e de si mesma.
Uma IA autônoma que gera conteúdos sintéticos com aparência de conteúdos reais, que se refina e se treina sem a intervenção de agentes humanos, empunhando o seu leme, deixa sobrar apenas a empunhadura do usuário. O que não deixa de ser também o lugar da possibilidade de escolher uma direção oposta à correnteza natural da mente.
De certo modo, é exatamente ali que poderemos encontrar a resposta para como a IA deverá mudar as nossas vidas. É bastante simples: do modo que a gente deixar. Dominar a IA é relativamente fácil, basta se ocupar com ela, aprender como ela funciona. Dominar a mente é outro tipo de desafio, muito mais complicado.
Se aprendermos a conter estas correntezas mentais, libertando-nos dos conteúdos sintéticos gerados por algoritmo, cuja única função-objetivo é corresponder às nossas necessidades de razão, propósito e autoestima, então a IA não mudará muito as nossas vidas. Continuará sendo apenas aquilo que ela já é – mais uma tecnologia acessória.