Acesse um excelente roadmap que aprendizado contínuo para os gestores, conjugando criatividade e disciplina, e faz uma alerta: se você já ganhou seu primeiro título de diretor, tudo isso fica ainda mais importante
Durante minhas aulas de graduação no MIT, às vezes um de nós perguntava sobre alguma novidade tecnológica que havia lido no jornal ou visto na televisão. Os professores sempre respondiam que podiam falar sobre o assunto, mas depois da aula.
O objetivo do MIT não é ensinar a última novidade tecnológica, o hit do momento, porque isso nos tornaria rapidamente obsoletos depois de sairmos de lá. O objetivo era aguçar nossa curiosidade intelectual enquanto aprendíamos a dominar os fundamentos da ciência e da tecnologia, e assim equipados poderíamos continuar aprendendo pelo resto das nossas vidas.
O assunto hoje é precisamente como fazer isso. E o mundo acelerado atual exige que estejamos aprendendo permanentemente.
Vocês certamente concordarão com o acima. E muitos de vocês dirão também que não estão satisfeitos com seu próprio desempenho com o tema. Mas primeiro permitam-me introduzir um tema paralelo importante, que é….
A ênfase da literatura é no aprendizado, mas quero propor que, para progredirmos nas nossas carreiras profissionais, precisamos também aprender a desaprender certas coisas. Desaprender é um tema central de coaching, e é incorporado pelos nossos clientes de coaching, mas não é um assunto muito bem tratado, e menos ainda entendido, pela comunidade empresarial.
O executivo, a partir de certo nível de senioridade, precisa desaprender além de aprender. E alguns não se dão conta de que comportamentos que deram certo no passado podem não dar certo no presente. Presidentes de empresas grandes me relatam que passam mais tempo desaprendendo que aprendendo! Isso ocorrerá durante toda a carreira de uma pessoa, mas, pela minha experiência, essa transição é mais pronunciada quando a pessoa ganha seu primeiro título de diretor. Eu atribuo isso ao fato de que, enquanto até ali a pessoa precisava dominar muitos detalhes, ao tornar-se diretora não pode mais perder tempo com a maioria deles. A executiva recém-promovida precisa resistir à tentação de olhar em baixo do capô.
A crescente inadequação do sistema educacional convencional
Agora vem uma notícia que pode ser menos bem-vinda para alguns leitores: o sistema educacional convencional está cada vez menos equipado para fornecer este aprendizado contínuo. Imagine encontrar 40 pessoas querendo aprender a mesma coisa, disponíveis para aulas na mesma língua e no mesmo dia e hora, professores capazes/dispostos a ensinar aquele conteúdo, e preparar bibliografias e aulas. É difícil!
Tem mais: para medir desempenho, os professores acabam criando uma competição (em grande parte artificial) entre alunos, que por mais saudável que seja (raramente é) pouco tem a ver com o mundo real, onde a ênfase é, ou deveria ser, a colaboração entre pessoas.
Então: se você descobrir um curso bom em instituição conceituada que forneça o que você procura em língua e horários que funcionem para você, matricule-se! Mas prepare-se para isso não acontecer, e aí você terá que buscar outras soluções que são, digamos, extra-acadêmicas.
Um recente artigo da McKinsey (The most fundamental skill: Intentional learning and the career advantage) propõe que o aprendizado contínuo é uma habilidade como outra qualquer e que, como tal, pode ser aprendida e melhorará se for praticada. Isso inclui a preparação prévia de uma agenda pessoal de aprendizado.
Como praticar aprendizado contínuo?
– Desenvolva um plano com um horizonte de (digamos) cinco anos, que você revisitará uma vez por ano, sempre rolando um ano para a frente. Suas metas tem que ser alcançáveis e mensuráveis, mas principalmente devem significar muito para você. Balanceie metas de resultado (analisar o demonstrativo financeiro de uma empresa) com metas de processo (ler 200 paginas por semana).
– Inclua itens de Desaprendizado: aqueles comportamentos gerenciais seus que deram certo no passado mas que não parecem mais dar certo do presente.
– Não esqueça de incluir itens que não parecem ter nada a ver com seu desenvolvimento profissional, mas que reflete curiosidades intelectuais suas que, quem sabe, podem aprimorar suas habilidades gerenciais. Muita gente tem aproveitado a pandemia para ler a biografia que Skidelsky escreveu de Keynes e os calhamaços de economia do Piketty. Mas também tem muita gente aproveitando a pandemia para lidar com Proust e Joyce, alguns participando de grupos de (intensa) discussão no Zoom sobre esses autores.
– O tema “periódicos” exige atenção especial: muitos executivos não são muito críticos da mídia que consomem. Recomendo: dois serviços de clipping diários, um só com notícias (eu uso canalmeio.com.br) e o outro com notícias específicas do seu setor; um periódico semanal sério (eu não vivo sem a The Economist nas quintas), um periódico semanal de artes/cultura/ entretenimento (idem idem, The New Yorker nas segundas) e um periódico mensal/trimestral sobre meus interesses extraprofissionais.
– Recrute um mentor de aprendizado/desaprendizado. Pode ser alguém que já domina um tema que você quer aprender. Seja criativo: um amigo executivo, que quer lidar melhor com comunicação entre gerações, recrutou uma sobrinha adolescente!
– Não tenha medo das soluções pouco convencionais. Você sabe direitinho, e melhor que ninguém, como exercitar bem seus neurônios! E lembre que muitos inputs intelectuais legais não são leituras: eu conheço um diretor de empresa que tem aulas de saxofone na hora do almoço.”