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Os 12 trabalhos de Greta

Algumas medidas práticas de alguns governos poderiam, sim, aumentar o orçamento de carbono do planeta. Que tal se mobilizar por elas?

Carlos de Mathias Martins
29 de julho de 2024
Os 12 trabalhos de Greta
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Estamos num desmatamento sem cachorro. Os 3,5 bilhões de anos de design inteligente e de patriarcado impuseram à raça humana um orçamento de carbono que mais parece contingenciamento do ministério da fazenda. Segundo o painel de especialistas em mudanças climáticas da ONU (IPCC), o orçamento de carbono do planeta é de 420 bilhões de toneladas de CO2. Explicando: se a humanidade estourar o orçamento de carbono, existe uma alta probabilidade de nos depararmos com um cenário no qual o aumento da temperatura da superfície terrestre extrapole o limite considerado seguro de 1,5 °C.

Baseado em informações garimpadas em estudos científicos e na grande imprensa golpista resolvi preparar uma lista de iniciativas que poderiam ser adotadas rapidamente por países e instituições engajadas no combate às mudanças climáticas. As medidas propostas neste artigo científico praticamente dobram o orçamento de carbono disponível para os terráqueos. Muitas destas iniciativas já foram mapeadas por especialistas renomados. Algumas, entretanto, não passam de ideias. Uma ideia é apenas uma ideia, se bem que a revolução francesa era apenas um amontoado de ideias até que um belo dia um homem branco chamado Rousseau escreveu um livro cheio de ideias. A segunda edição deste livro foi encadernada utilizando o escalpo daqueles que riram da primeira. Mas eu divago. Gostaria de levar estas ideias o mais longe possível. Se a Terra for de fato um planeta esférico, talvez minhas ideias possam circundar o mundo. Mas eu preciso de ajuda. Fazendo uso do aforismo popularizado no maior mangá de todos os tempos que deu origem à série de TV _Speed Racer_: Go Greta, Go!

Avaliado a indústria de geração de eletricidade, eu tentaria convencer a Alemanha a reverter o de-comissionamento das plantas de energia nuclear no país. A legislação alemã que promove a transição energética ou _Energiewende_ na língua tedesca, acabou penalizando a energia nuclear em favor dos combustíveis fósseis. Basta verificar que caso o governo alemão houvesse decidido manter em operação as plantas de energia nuclear de-comissionadas em 2010, todas as térmicas movidas a carvão do país estariam desligadas no final de 2019. Vale reiterar que não existe registro de fatalidades em países de primeiro mundo diretamente atribuídas à energia nuclear causadas pela chamada Síndrome Aguda da Radiação. Na mesma linha, embora o mundo não consiga fazer com que os japoneses parem de caçar baleias eu tentaria convencê-los a desligar as térmicas movidas a carvão e religar as plantas de energia nuclear. Repetindo: não existe registro de uma única fatalidade no Japão diretamente atribuída à Síndrome Aguda da Radiação após o acidente de Fukushima ocorrido em 2011. Segundo especialistas da Universidade Columbia, estas iniciativas na Alemanha e no Japão acrescentariam pelo menos 3,6 bilhões de toneladas de CO2 ao nosso orçamento de carbono.

Em termos de exploração de combustíveis fósseis eu argumentaria com os mandatários da Noruega e do Canadá para que ambos os países parassem de extrair petróleo das suas polpudas reservas. O orçamento de carbono do planeta aumentaria em 70 bilhões de toneladas de CO2. Adicionalmente, eu não mediria esforços para manter Nicolás Maduro na presidência da Venezuela. Desde a sua eleição em 2013, a produção da estatal venezuelana de petróleo caiu pela metade. Manter Maduro no poder significa que as maiores reservas declaradas de petróleo do mundo nunca serão exploradas. Este grito de soberania sul-americana aumentaria o nosso orçamento de carbono em aproximadamente 120 bilhões de toneladas de CO2.

Segundo a IATA (Associação Internacional de Transportes Aéreos), as emissões originadas no setor de aviação civil atingiram aproximadamente 900 milhões de toneladas de CO2 no ano de 2019. Baseado em estimativas fidedignas do ministério da fazenda do Brasil, aproximadamente 50% da população global apresenta genótipo e fenótipo adequado para o exercício da atividade de empregada doméstica. Em um exercício aritmético simples, caso as empregadas domésticas deixassem de viajar de avião, o orçamento de carbono da Terra aumentaria aproximadamente 5 bilhões de toneladas de CO2 nos próximos dez anos.

Com relação ao mercado financeiro, segundo a IRENA (Agência Internacional para as Energias Renováveis), estão planejados aproximadamente US$95 trilhões de investimentos no setor de energia até 2050. Vivemos em uma emergência climática. Não temos tempo para um acordo global para limitar investimentos em combustíveis fósseis. A solução mais uma vez passa pelo Brasil. Sugiro que o BIS – o banco central dos bancos centrais – revogue a licença de operação todas as instituições financeiras que hoje transacionam com empresas de exploração de petróleo. Somente bancos brasileiros continuariam autorizados a financiar a indústria de combustíveis fósseis. Num átimo, as taxas de juros para o mercado fóssil ascenderiam a patamares de cheque especial. A vantagem das energias renováveis restaria imbatível e a indústria de combustíveis fosseis entraria em colapso. Caso o cenário de transição energética proposto pela IRENA venha a ser executado, o nosso orçamento de carbono aumentaria aproximadamente 300 bilhões de toneladas de CO2 até 2050.

Por fim, uma penúltima alternativa. É fato que documentários brasileiros tem o condão de mudar a realidade. Sugiro buscarmos cineastas herdeiros de empresas de petróleo que por sua vez bancariam uma película negando as mudanças climáticas e seus efeitos nefastos. Vai que cola.

Carlos de Mathias Martins
Carlos de Mathias Martins é engenheiro de produção formado pela Escola Politécnica da USP com MBA em finanças pela Columbia University. É empreendedor focado em cleantech.

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