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Por que empresas ainda são negacionistas do ESG, apesar das tragédias ambientais e sociais?

Estudo do BID revela que empresas comprometidas com a agenda ESG são mais resilientes em crises econômicas e correlaciona sustentabilidade com proteção a riscos e crescimento no longo prazo

Daniela Garcia
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Mesmo diante de crises ambientais devastadoras e de profundas desigualdades sociais, muitas empresas continuam a ignorar ou minimizar a importância das práticas de ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança). Essa atitude negacionista não apenas agrava os problemas, como também faz com que as organizações percam oportunidades de se adaptar e prosperar no longo prazo. O ESG não é uma tendência passageira; trata-se de uma abordagem estratégica essencial que pode impulsionar o sucesso empresarial ao mesmo tempo em que gera impactos positivos para a sociedade e o meio ambiente.

Diversos estudos mostram as vantagens de integrar o ESG nas operações de uma empresa. De acordo com uma pesquisa realizada pela Harvard Business Review, empresas que adotam boas práticas de ESG apresentam um desempenho financeiro 2,5 vezes superior ao de suas concorrentes que não as implementam.

Além disso, o Global Sustainable Investment Alliance revela que os ativos globais em investimentos sustentáveis já ultrapassavam a marca de US$35 trilhões em 2020, o que na época representava mais de um terço dos ativos financeiros globais. Isso demonstra como o mercado vem direcionando capital para as organizações que adotam práticas responsáveis e sustentáveis.

No Brasil, os números também são contundentes. Segundo um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), empresas brasileiras que implementaram políticas de sustentabilidade reduziram em até 30% seus custos operacionais, graças à eficiência no uso de recursos como energia e água. Os dados, de 2020 a 2022, também dão conta de que empresas comprometidas com a agenda ESG foram mais resilientes durante crises econômicas, como a da pandemia de covid-19, provando que a sustentabilidade não só protege contra riscos, mas também contribui para a sobrevivência e o crescimento no longo prazo.

Meio ambiente

Quando falamos especificamente de impactos ambientais, a adoção de práticas ESG pode resultar em melhorias significativas tanto para o meio ambiente quanto para a própria organização. É possível, por exemplo, reduzir drasticamente as emissões de carbono e, ao mesmo tempo, melhorar a eficiência de seus processos produtivos. 

A organização Carbon Disclosure Project (CDP) relata que empresas que trabalham para reduzir suas pegadas de carbono obtêm um retorno financeiro 18% maior que aquelas que ignoram essa prática (o dado provém de estudos globais realizados até 2021). Adotar a agenda ESG vai além de reduzir os danos ao meio ambiente, mas também aproveitar as oportunidades financeiras que advêm de incentivos fiscais, da inovação para o desenvolvimento de produtos e serviços mais sustentáveis e do acesso a mercados mais exigentes em termos de sustentabilidade.

Sociedade

No campo social, os benefícios também são amplos. Organizações que priorizam práticas inclusivas e éticas têm maior retenção de talentos e uma equipe mais engajada. Um levantamento do Deloitte mostra que 80% dos millennials consideram o compromisso com o ESG um fator decisivo na hora de escolher seu empregador.

Além disso, a diversidade entre as lideranças tem mostrado uma relação direta com a inovação e o desempenho financeiro das organizações, resultando em um aumento de 19% nas receitas, segundo pesquisa de 2020 da McKinsey & Company. Isso mostra que políticas sociais alinhadas ao ESG são não apenas éticas, mas estrategicamente vantajosas.

Governança

Em termos de governança, empresas que adotam boas práticas de ESG tendem a ser mais transparentes e ter processos decisórios mais eficazes, o que reduz riscos de fraudes e aumenta a confiança dos investidores. De acordo com um relatório da S&P Global, baseado em dados acumulados até 2021, organizações com altos padrões de governança têm 50% menos probabilidade de se envolver em escândalos corporativos ou financeiros. 

Além disso, a governança robusta e transparente contribui para uma reputação corporativa mais sólida e para uma melhor percepção da imagem da organização, o que gera um ciclo virtuoso que aumenta seu valor de mercado e reduz o custo de capital.

Resistência ao ESG

A resistência ao ESG ainda é fruto de uma visão de curto prazo, que prioriza lucros imediatos em detrimento de um crescimento sustentável e ético. No entanto, empresas que alinham seu propósito e gestão a demandas sociais e ambientais têm demonstrado maior longevidade. 

Um estudo da Oxford University Smith School of Enterprise and the Environment com dados de 2021, mostrou que empresas com práticas ESG integradas tendem a ter um desempenho financeiro de 3% a 5% maior, em média, do que o retorno médio do mercado. Uma margem significativa, que prova que sustentabilidade e lucratividade não são mutuamente excludentes.

O propósito também desempenha um papel central nesse contexto. Organizações que têm um propósito claro, alinhado às necessidades da sociedade, não apenas atraem funcionários e consumidores mais engajados como também criam uma cultura organizacional forte e coesa, o que contribui para aumentar sua competitividade e resiliência.

A crescente pressão regulatória e as expectativas dos consumidores por práticas responsáveis também estão acelerando essa mudança. Governos em várias partes do mundo, incluindo a União Europeia e o Brasil, estão impondo regulamentações mais rígidas em termos de emissões de carbono e práticas sociais. Ignorar o ESG não é apenas uma questão de falha na estratégia empresarial, mas um risco que pode resultar em sanções legais e perda de mercado.

Daniela Garcia
Daniela Garcia é CEO do Capitalismo Consciente Brasil. Profissional com 30 anos de experiência em operações B2B2C, atuando nos três setores da economia. Diretora de Vendas e Atendimento Digital por duas décadas, especialista em estratégias digitais desde 1996. Estrategista focada em Customer Experience e ESG. Primeira mulher CEO do Capitalismo Consciente no Brasil, articuladora de negócios entre segundo e terceiro setor, especializada em desenho de projetos de impacto socioambiental. Sempre entusiasmada em continuar a jornada criando experiência e soluções inovadoras e socialmente responsáveis.

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