Saiba como ter uma compreensão clara tanto das habilidades quanto dos gaps que existem na organização
Se você acessar o dossiê de cada um dos seus colaboradores no RH, é possível que ainda encontre — além dos documentos burocráticos de praxe — o mesmo currículo que foi apresentado lá no momento da contratação. Talvez até algumas anotações dos entrevistadores, avaliações de desempenho e só.
O problema é que as pessoas mudam, suas necessidades e aspirações também. E muitas empresas, que também têm suas prioridades em constante evolução, acabam não acompanhando essas transformações. E não para por aí: sem mapear e gerenciar os talentos que existem dentro da organização, o risco é buscar fora o que já se tem.
Por isso, recomendo que as organizações realizem um censo interno anual com todos os seus colaboradores para averiguar os seguintes aspectos:
Esse levantamento deve ser anual, mas o colaborador deve poder atualizar seus dados quando quiser — por exemplo, ao completar um treinamento, ao vivenciar uma mudança na vida pessoal que possa impactar a vida profissional futura, entre outras circunstâncias. Cada novo registro do censo interno deve ser incorporado ao dossiê das pessoas no RH.
Organizar e tratar esses dados no “banco de talentos futuros” da organização tende a ser mais eficiente com a adoção de uma ferramenta de inteligência artificial (IA). Esta deve ser projetada para facilitar a vida de qualquer pessoa que precise consultar os talentos já disponíveis na empresa para um projeto específico e aqueles que se tornarão necessários em um futuro próximo.
Os envolvidos na realização do censo interno precisam, antes de nada, compreender que os registros do censo interno correspondem às expectativas (sem filtro) dos colaboradores.
O mais comum é deparar-se com relatos escritos sob elevada carga emocional, como entusiasmo ou tristeza, o que pode dificultar o entendimento de qual habilidade ou aspiração está sendo descrita pelo colaborador. Embora com menos frequência, também é possível esbarrar em relatos de pessoas que têm uma percepção “inflada” de si. Em ambos os casos, a falta de clareza pode ser resolvida com uma entrevista.
Agumas empresas grandes, como Shell e Nokia, não se sentem mais obrigadas a encontrar a próxima posição de seus colaboradores. Cabe a cada um procurar dentro da organização — e, no geral, também fora — sua seguinte posição e candidatar-se a ela, competindo com alguma vantagem sobre os candidatos de fora.
Sem dúvida, este é um sinal dos tempos. Há dez anos, eu já era convidado por empresas para dar palestras sobre planejamento de carreira e deixar claro para os participantes que não mais contassem com a organização para planejar suas carreiras.
Isso não invalida a necessidade da empresa de conhecer as habilidades que tem a bordo. Pelo contrário. Reforça a importância de o colaborador fazer uma reflexão cuidadosa sobre sua trajetória nos próximos 2 a 5 anos, dentro e fora da empresa, e registrá-la no censo interno.
Certas empresas onde trabalhei como headhunter ou coach que implementaram o censo interno como um exercício anual. Em algumas, o processo inclui uma conversa informal com o gestor direto logo após o preenchimento do censo. Outras utilizam o censo apenas como suporte para programas de desenvolvimento de talentos de alto potencial. Há ainda aquelas que optaram por aplicar o censo apenas a profissionais de áreas específicas, como finanças e suprimentos.
Para aprofundar-se no tema, recomendo a leitura do artigo “Inventário de habilidades” (em inglês), da Pwc. Um ativo, aliás, que ajudaria as empresas a ter uma visão completa das habilidades de que dispõe, mas que a maioria ainda não têm.