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A Ordem Internacional dos Alimentos

Está mais do que na hora de o Brasil entender – e, portanto, fazer valer – sua liderança

Colunista Suelen Schneider

Suelen Schneider

31 de Dezembro

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Artigo A Ordem Internacional dos Alimentos

A ordem internacional dos alimentos, ou o regime internacional dos alimentos, refere-se ao conjunto de políticas que coordenam e criam especificações, especialidades e preços que são usados como padrões para o consumo e o comércio internacional dos alimentos. Este regime estabelece quais mercados criam estruturas produtivas dentro da economia mundial, bem como o fluxo de distribuição dos alimentos.

As políticas dos alimentos no mundo são pautadas nas políticas agrícolas, fonte primária dos alimentos, e ditadas pelos países desenvolvidos, como os Estados Unidos e os países da Europa. Porém, as demandas por alimentos são puxadas pelas regiões com grandes populações e produção agrícola deficitária, como Ásia, Oriente Médio e África. Os governantes dessas regiões precisam importar alimentos para garantir a sobrevivência de suas nações.

Os aspectos fundamentais

Os dois aspectos impactantes da ordem internacional dos alimentos e, por consequência, para as empresas que atuam nessa indústria são: o nível de intervenção do governo e a direção do fluxo do comércio internacional.

O primeiro aspecto, que se refere ao nível de intervenção dos governos, inclui aplicação de tarifas ou impostos, subsídios governamentais, incentivos à pesquisa no setor, tratados e acordos entre países, cotas de importação e exportação, entre outros mecanismos reguladores. A atuação dos governos por meio de um conjunto de políticas determina tanto o grau de liberdade do comércio internacional quanto o nível de proteção que um governo pretende garantir à sua nação.

O segundo aspecto fundamental para a ordem dos alimentos é o fluxo do comércio internacional. A direção desse comércio é o que ajuda a determinar a produção, a distribuição e o consumo dos alimentos na economia mundial. Esse fluxo é influenciado pela distribuição de recursos como, por exemplo, as terras agriculturáveis. Mas também é impulsionado por outros fatores como as condições climáticas favoráveis à agricultura ou as tecnologias usadas para o cultivo agrícola. Neste aspecto da ordem internacional de alimentos, são delineadas as divisões de trabalho, que é de central importância para as economias nacionais. Como seu objetivo final, a distribuição dos alimentos estipula como os países mantém a segurança alimentar de seus povos.

Entendendo as contradições

A ordem internacional dos alimentos apresenta contradições que as empresas precisam entender.

A primeira delas diz respeito à intervenção dos governos neste setor. Os economistas defensores do livre comércio dizem que o governo deveria deixar que os mercados se autorregulassem. Um termo comumente usado para descrever este mecanismo é laissez-faire, do francês, que significa dar liberdade aos mercados e seus atores, sem intervenções. Entretanto, o movimento “protecionista” dos governos é o que tem protegido terras e milhares de pessoas da destruição que um livre comércio pode oferecer. Em outras palavras, ao fazer isso, o governo está tentando garantir, no curto e médio prazo, a subsistência de sua população e a manutenção de empregos e de da riqueza nacional.

Uma segunda contradição é sobre quem dita as “regras” do jogo. Como escrevi no início deste artigo, atualmente são os países desenvolvidos que ditam as políticas da ordem internacional dos alimentos.

Porém, este é um cenário que tende a mudar. A hegemonia centrada nos países desenvolvidos está perdendo sua força, e os países subdesenvolvidos, como o Brasil, ou aqueles fora do eixo capitalista, como a China, ganham relevância e voz na determinação de uma nova ordem dos alimentos. Uma evidência dessa mudança é o que ocorreu com a China, ante a febre suína que dizimou quase um quarto de seu plantel de animais. Na ocasião, a China aumentou o fluxo de importações para abastecer sua população. O país importou carne de diversos países, incluindo o Brasil.

Os chineses abriram algumas especificações e ampliaram acordos com outros países para que pudessem receber ainda mais volume de carne. Com esse movimento, o preço da carne subiu drasticamente devido à alta demanda, o que causou uma necessidade de adequação do regime internacional dos alimentos.

A posição do Brasil

O Brasil é o segundo maior exportador mundial de alimentos. Nosso país exporta para 180 diferentes países. Mesmo durante a pandemia da Covid-19, foram as exportações agrícolas e de alimentos que contribuíram fortemente para a economia brasileira. Isso porque o Brasil possui terras agriculturáveis, mão-de-obra e tecnologias que permitem sua adaptação às necessidades do mercado atual.

Portanto, é preciso dizer que o Brasil e as empresas aqui estabelecidas já mostraram que são capazes de responder às demandas mundiais. Além disso, considerando os recursos, expertise e o fator cambial, o posicionamento das empresas brasileiras é positivo e relevante na ordem internacional dos alimentos. Hoje, sem a grande exportação que é provida pelas empresas brasileiras, a insegurança alimentar seria ainda mais severa.

Em suma, o Brasil já conquistou seu espaço e seu direito a voz no cenário internacional. A pergunta que fica é: nossos representantes e empresas estão fazendo uso do poder que têm em suas mãos?

A descrição apresentada aqui sobre a ordem internacional dos alimentos é baseada no livro: Winders, Bill. The Politics of Food Supply.

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Colunista

Colunista Suelen Schneider

Suelen Schneider

Especialista em liderança, estratégias e operações. Suelen Schneider tem experiência de mais de 20 anos, onde ocupou posições-chave de liderança em uma das maiores empresas do Brasil. Hoje, é consultora empresarial e mentora de líderes na empresa que ajudou a fundar, a MultiConcept. Suelen é doutoranda em Liderança e Mudanças Globais pela Pepperdine na Califórnia, tem mestrado pela FGV e especializações pela University of Califórnia em Irvine, Indian Institute of Management Bangalore na Índia, Yale School of Management nos EUA e Koç Universiti na Turquia. Já conduziu diversas pesquisas relacionadas ao futuro da liderança, participação feminina na liderança e inclusão.

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