fb

Tecnologia e inovação

4 min de leitura

Blockchain e a confiança nas relações negociais

A relação ente consenso e a tecnologia blockchain pode ser catalisadora de uma profunda mudança social

Colunista Tatiana Revoredo

Tatiana Revoredo

06 de Janeiro

Compartilhar:
Artigo Blockchain e a confiança nas relações negociais

Muitos países têm buscado eliminar progressivamente as criptomoedas que usam “proof of work” (mineração de criptomoedas) nos seus limites territoriais, sob o argumento do alto consumo energético.

E para viabilizar isso, alguns governos têm lançado proposições legislativas para banir ou para a criação de uma moratória de alguns anos sobre as operações de mineração, a menos que 100% de sua energia venha de fontes renováveis.

Paralelamente a isto, tem se intensificado as campanhas em prol dos blockchains verdes, conceito que surgiu do movimento ESG e das críticas ao alto consumo de eletricidade e das emissões de carbono pela mineração de bitcoin.

Nessa toada, grupos como o Grupo Ambiental de Trabalho do Greenpeace USA buscam pressionar quem defende a prova de trabalho do bitcoin através de ações de marketing focadas no seguinte slogan: “Change the Code, Not the Climate” ("Mude o Código, Não o Clima", na tradução em português).

Também na linha do movimento ESG, vimos iniciativas como o the merge, que substituiu a mineração pelo proof-of-stake no blockchain Ethereum, além de atores importantes da indústria cripto - como o criptógrafo britânico Adam Back, e o criador do Twitter, Jack Dorsey - lançando iniciativas de mineração focadas em tecnologia solar no Texas.

No entanto, se fôssemos resumir em uma só palavra, o que realmente está por trás do debate mineração X meio ambiente, qual seria?

Quem acompanha desde o início essa discussão, com certeza diria que a palavra aqui seria “consenso”.

O que é consenso? Porque ele é importante?

Consenso é um conceito que descreve um acordo produzido por consentimento entre todos os membros de um grupo ou entre vários grupos.

Note que consenso se diferencia de uma maioria, porque para haver uma maioria é preciso existir uma minoria que discorda, enquanto no consenso, por definição, não há discordâncias.

Um consenso garante que os membros de uma coletividade cheguem a um acordo que beneficie o grupo como um todo.

O consenso é importante porque ele nos traz a unidade e a confiança, que são os dois pilares que levam grandes nações a prosperarem.

Dito isto, a tecnologia blockchain é revolucionária por tornar possível o consenso em redes distribuídas, através de algoritmos de consenso como a mineração do bitcoin.

A confiança nas relações negociais

A confiança é peça fundamental em qualquer sociedade, pois é pré-requisito para que qualquer relação entre indivíduos aconteça.

E obtemos confiança nas relações negociais de dois modos:

  • Via intermediários: que, através de um contrato legal, garantem confiança às relações entre duas partes em um sistema centralizado;
  • Via matemática: que, através de algoritmos de consenso, garante confiança às relações entre duas partes em um blockchain.

Pois bem, tendo em conta que blockchains são uma rede descentralizada (sem intermediários ou contratos legais), a confiança em uma rede blockchain é obtida por algoritmos de consenso (máquina, código de software) como o proof-of-work (mineração) do Bitcoin.

Sem os algoritmos de consenso, teríamos apenas uma rede descentralizada ignorante, sujeita a fraudes, e incapaz de garantir segurança e imutabilidade às transações nela registradas.

Como o consenso obtido via tecnologia blockchain revoluciona as relações negociais?

Pela primeira vez na história, a titularidade de quem confere confiança às relações negociais não pertence mais aos validadores tradicionais de confiança, mas à matemática e aos algoritmos.

A tecnologia blockchain tornou possível o consenso nas redes descentralizadas, via algoritmos e a matemática, o que possibilitou novos modelos de negócios e mercados.

Dito de outro modo, blockchain retira uma parcela de poder antes destinada aos intermediários e validadores de confiança, transferindo-a às pessoas que efetivamente participam de determinada transação validada em um blockchain.

O consenso via plataformas blockchain permite a interação direta entre desconhecidos, ou pessoas que não conhecem entre si, em uma rede distribuída e sem a necessidade de um validador tradicional de confiança (como corporações, instituições), eliminando incertezas e introduzindo uma nova maneira de conferir confiança às interações humanas.

Mas tendo em conta o alto gasto energético de alguns mecanismos de consenso e a campanha “Change the Code” - mencionados no início deste artigo -, um blockchain que utiliza mineração para obter consenso, deve mudar o código como sugere a campanha?

Consenso, alto consumo energético e blockchain como catalisador de uma profunda mudança social

A tecnologia blockchain é um catalisador de uma profunda mudança social.

Pela primeira vez na história da humanidade, as pessoas podem interagir de forma direta, e em tempo real, sem a necessidade ou com número bem reduzido de intermediários.

É verdade que o consenso, em alguns blockchains, é obtido com muito gasto energético.

Mas o problema aqui é o alto consumo de energia ou o tipo de fonte energética utilizada?

E se os blockchains que usam a mineração, passassem a se utilizar de fontes de energias renováveis, que não poluem o meio ambiente?

Isto não eliminaria a maior crítica à principal forma de obtenção de consenso e desintermediação nos blockchain? Como será o futuro da mineração em um mundo ambientalmente sustentável?

Conhecimento é poder. Nos vemos em breve!

Perdeu algum artigo desta coluna? Confira aqui.

Compartilhar:

Colunista

Colunista Tatiana Revoredo

Tatiana Revoredo

Tatiana Revoredo é LinkedIn Top Voice em Tecnologia e Inovação. Especialista em aplicações de negócios Blockchain pelo MIT Sloan School of Management, em Inteligência Artificial pelo MIT CSAIL, em estratégia de negócios em Inteligência Artificial pelo MIT Sloan School of Management e em Cyber-Risk Mitigation pela Harvard University. Estrategista Blockchain pela Saïd Business School, University of Oxford. Professora do curso Blockchain para negócios no Insper. Autora de três livros “Blockchain- Tudo o Que Você Precisa Saber”, “Bitcoin, CBDC, Stablecoins e DeFi”, e “Cryptocurrencies in the International Scenario”.

Artigos relacionados

Imagem de capa Aceite as limitações dos LLMsAssinante

Tecnologia e inovação

19 Dezembro | 2023

Aceite as limitações dos LLMs

Superestimar a capacidade dos grandes modelos de linguagem, como o ChatGPT, pode levar a resultados pouco confiáveis. Para lidar melhor com eles, é importante entender primeiro como funcionam

Mikhail Burtsev, Martin Reeves e Adam Job
Imagem de capa Open source contra os hackers da IA generativaAssinante

Tecnologia e inovação

19 Dezembro | 2023

Open source contra os hackers da IA generativa

A contratação de serviços de inteligência artificial pode expor seus dados e deixar sua empresa nas mãos das big techs. Mas existem alternativas. Estamos vivendo o início de uma fase semelhante à que deu origem ao Linux nos anos 1990, quando desenvolvedores do mundo todo se dedicaram a enfrentar os desafios da nova tecnologia com soluções de código aberto, disponíveis para todos – e veja cinco modos de administrar os respectivos

Aron Culotta e Nicholas Mattei
Imagem de capa Como aplicar IA generativa na inovação corporativaAssinante

Tecnologia e inovação

17 Dezembro | 2023

Como aplicar IA generativa na inovação corporativa

A nova tecnologia pode trazer eficiência e criatividade para a inovação em grandes empresas. Uma pesquisa recente mostra a realidade brasileira, os estágios de adoção em diversos setores, as oportunidades no horizonte e as barreiras de adoção

Maximiliano Carlomagno e Felipe Scherer
Imagem de capa Gestão pública 4.0: tecnologia para atender as demandas dos cidadãos

Tecnologia e inovação

15 Novembro | 2023

Gestão pública 4.0: tecnologia para atender as demandas dos cidadãos

A transformação digital pode ajudar na revolução da gestão municipal, melhorando a eficiência das instituições e fortalecendo a participação cidadã e a prestação de serviços mais ágeis, a partir dos aplicativos governamentais multiplataformas

Ana Debiazi e Aryana Valcanaia

2 min de leitura