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Fjord Trends #3: Códigos de barra ambulantes

As interfaces estão se dissolvendo e a tecnologia tem cada vez mais jeitos de nos identificar, e de identificar nosso comportamento. Sua empresa também pode aproveitar isso

Aaron Hurst
25 de junho de 2024
Fjord Trends #3: Códigos de barra ambulantes
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Podemos não gostar muito, mas ficamos cada vez mais à vontade com a ideia de deixar pegadas digitais online, aonde quer que formos. 

Hoje, o reconhecimento facial e corporal tem se tornado comum, deixamos uma trilha de cookies em todos os lugares por onde passamos no mundo real. 

Com o 5G chegando existe um potencial enorme de criar produtos e serviços que lidem com os desafios da coleta de dados no mundo físico e da personalização de conteúdo, usando soluções do mundo real e experiências aprimoradas.

O que está acontecendo?

Já faz algum tempo que somos rastreáveis pelos dados gerados por nosso comportamento online. 

Agora, a entrada da tecnologia na vida real significa que nosso comportamento físico também começou a gerar dados rastreáveis, nos conectando a um ecossistema digital maior que monitora as ruas. 

Conforme notou recentemente o jornal The Economist, conforme características físicas passam a ser lidas por máquinas, nosso rosto pode ser lido como um código de barras. Nosso corpo se transforma numa assinatura.

A linguagem de reconhecimento facial e corporal já permite interações contínuas como desbloqueio de aplicativos, curadoria personalizada de mensagens e conteúdos, pagamento de compras. 

A seguradora suíça FaceQuote, por exemplo, permite que o pagamento de uma apólice de seguro seja feito por meio de uma selfie.

Governos também têm se interessado pelo assunto. Nos Estados Unidos, o Pentágono está investindo em tecnologia que pode identificar uma pessoa de longe por seus batimentos cardíacos, que são tão únicos quanto uma impressão digital.

Inevitavelmente, desenvolvimentos como esses despertam questões sobre privacidade e, em alguns casos, inovações que não saem do papel. 

Em maio de 2019, a cidade de San Francisco baniu a tecnologia de reconhecimento facial em resposta a defensores dos direitos civis. Por ter supostamente armazenado milhares de biometrias faciais sem a autorização das pessoas, a Vimeo foi processada nos Estados Unidos. 

Ao mesmo tempo, críticas feitas à ImageNet (um banco de dados com 12 milhões de imagens e 22 mil categorias visuais disponíveis publicamente para pesquisa e uso educacional) forçaram a empresa a remover mais de meio milhão de imagens dos seus arquivos. 

Dois produtos da linha smart da Amazon, os Echo Frames (óculos inteligentes) e o Echo Loop (um anel que pode ser usado o tempo todo e até faz chamadas telefônicas para o usuário) também provocaram discussões sobre privacidade.

Em meio a protestos políticos recentes, o governo de Hong Kong decidiu invocar uma lei de emergência da era colonial que proíbe usar máscaras faciais, para poder reconhecer o rosto dos manifestantes. 

A decisão causou revolta. Testes chineses com tiaras criadas para monitorar os níveis de atenção dos alunos, com envio dos dados para os professores e pais, também receberam críticas pesadas. 

O Facebook AI Research já criou o primeiro programa de “desidentificação” para vídeos, para que as pessoas se tornem invisíveis aos softwares de identificação facial.

Porém, nem tudo tem viés negativo. Reconhecimento facial e corporal podem entregar novos e importantes serviços. 

A start-up britânica de saúde Babylon une inteligência artificial com a expertise médica das pessoas para oferecer assistência médica melhorada – a IA ajuda a identificar a condição do paciente e depois avalia a reação dele para determinar se entendeu as orientações que recebeu. 

A CTRL-Labes, recente aquisição do Facebook, é uma start-up nova-iorquina especializada em permitir que as pessoas controlem seus computadores usando o cérebro.

O que vem a seguir?

A tecnologia 5G pode possibilitar um leque infinito de conexões criativas entre pessoas, sensores e máquinas. 

Serviços de convivência – sofisticados e sensíveis ao contexto em que estão inseridos – passarão do mundo digital para o mundo real. 

A Internet dos Corpos será acrescentada à Internet das Coisas, facilitando novos modelos de negócios como a venda de pacotes de serviços ou produtos e a criação de propagandas mais eficazes. 

Incentivará empresas a trabalhar em tempo real e transformará indústrias –estima-se, por exemplo, que as receitas anuais de mídias de celular vão dobrar nos próximos dez anos e atingir US$ 420 bilhões. 

Interfaces cérebro-computador e outros aparelhos que desfocam a linha tênue entre mente e máquina também têm um potencial extraordinário.

É preciso ressaltar, porém, que o desenvolvimento desses novos produtos e serviços não deve repetir os erros do ambiente digital. 

Os cuidados com a privacidade e o consentimento precisam ser levados muito a sério porque, quando se trata de dados biométricos, qualquer erro ou problema de segurança prejudica uma pessoa para sempre – uma senha pode ser trocada, mas não uma impressão digital.

Entender o comportamento humano criará oportunidades e ajudará a superar desafios. Empresas precisarão saber como criar o opt-out no mundo real, como formatar eticamente as atividades das pessoas e resolver outras preocupações e restrições.

Há uma dinâmica crescente na autogestão de soluções identitárias que permite que as pessoas controlem as informações que compartilham, com quem e por quanto tempo – incluindo a capacidade de revogar o acesso às informações. 

Este é o foco de uma iniciativa-chave do World Economic Forum que envolve um grande consórcio de stakeholders e experts públicos e provados, focados no futuro da identidade digital.

Quanto tempo vai demorar até usarmos o reconhecimento facial para liberar catracas nas empresas, portas de armário nas academias e saques em caixas eletrônicos? O que podemos fazer com outras formas de reconhecimento corporal? 

Por exemplo, acompanhar a velocidade com a qual idosos se locomovem nos ambientes que frequentam ou usar machine learning para reconhecer sinais de fragilidade física.

Lucrar com pessoas transformadas em códigos de barras ambulantes não será fácil. 

Cada vez mais viveremos em locais com sistemas inteligentes automatizados que acessarão nossos dados para aprender como nos comportamos. 

Conforme isso se tornar mais comum notaremos uma queda na interação por telas, como as dos totens digitais, e as empresas precisarão considerar isso quando desenvolverem serviços. 

As pessoas vão necessitar de um indicador tangível de que transmitiram dados pessoais – algo que substitua a função do bip sonoro do leitor do código de barras nos caixas das lojas. 

Isso talvez signifique redirecionar energia para momentos humanamente significativos, a fim de que as pessoas sintam que de algum modo valeu a pena alimentar uma máquina com informações pessoais.

Pense

Que serviços poderiam ser desbloqueados por biometria (de acordo com as regulamentações e leis do seu setor, claro)? O que você poderia fazer com o reconhecimento facial ou corporal para reduzir a fricção no dia a dia das pessoas? Observe a experiência humana desses serviços. Quem eles mais beneficiam? Como as pessoas autorizam acesso aos seus dados? Como uma melhor comunicação entre máquinas – via 5G – criaria mais oportunidades de serviço?

Diga

Seja um defensor do minimalismo de dados e eduque os seus clientes sobre consentimento do uso de dados pessoais e privacidade – as consequências de uma possível violação de dados com o uso da biometria podem ser muito piores.

Faça

Torne o invisível visível, para que as pessoas percebam quando um escaneamento, uma transação ou um pedido de autorização ocorreu. Garanta que elas possam ser as curadoras de suas próprias experiências personalizadas – construa uma plataforma para as pessoas expressarem, descobrirem e receberem o que querem –, de acordo com as leis de privacidade, como o Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), prevista para entrar em virgor no segundo semestre no Brasil (mas que deve ser adiada).

Aaron Hurst
Aaron Hurst é CEO e cofundador da Imperative e autor de *The Purpose Economy* (Elevate, 2014).

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