O analista financeiro que conseguir ser também um analista de dados tem grandes chances de se manter relevante no mercado. E a tecnologia é uma grande aliada nessa transformação
O relatório Futuro do Trabalho lançado neste ano pelo Fórum Econômico Mundial trouxe notícias pouco agradáveis para profissionais de finanças. De acordo com o documento, que indica as principais mudanças nos postos e tendências de trabalho, profissões nas áreas de contabilidade e atendimento financeiro, por exemplo, estão entre as mais propensas a desaparecer nos próximos anos, dando lugar a novos cargos ligados à transformação digital, inteligência artificial (IA) e dados. O movimento não é novidade, mas ainda assim gera preocupações em quem atua na área. Acompanho o setor de finanças há mais de dez anos e uma das principais hipóteses que defendo é que o analista financeiro que conseguir ser também um analista de dados tem grandes chances de se manter relevante no mercado.
Recentemente, o estudo Global DNA of the CFO, realizado pela EY, apontou que diretores financeiros precisam ser capazes de fornecer às diretorias executivas das empresas, em que atuam, insights relevantes a partir dos dados financeiros, para melhorar as relações de confiança e contribuir com as tomadas de decisão. Porém, como fazer essa mudança se, atualmente, segundo outra pesquisa da EY, colaboradores gastam 800 horas por ano em planilhas e retrabalho? Em um mundo que avança no digital, profissões baseadas em atividades manuais repetitivas estão em enorme desvantagem no mercado.
A tecnologia, claro, é um caminho para essa transformação. Hoje em dia, com a automação de dados financeiros, equipes são capazes de finalizar em minutos a etapa de preparação de dados, algo que é impossível de ser feito manualmente. Porém, o papel da tecnologia não é o de assumir o papel desse funcionário, mas sim de reduzir sua atuação em funções repetitivas para que ele tenha mais tempo para focar no que realmente importa: a estratégia. Afinal, o que os dados financeiros estão mostrando sobre a empresa? Há correções a serem feitas? Onde é possível reduzir gastos e onde investir? Todas essas reflexões devem ser feitas pelo colaborador.
É nesse aspecto que a mudança de um profissional de finanças para um profissional de finanças e dados deve ser feita. O analista precisa saber aproveitar o potencial oferecido pela tecnologia para entender como ser estratégico no local onde atua. Existem várias formas de fazer isso: visualizando transformações, compreendendo seus impactos nos processos, ajudando a organização a entender os dados gerados, identificando riscos internos e externos para garantir que as informações coletadas estão corretas, avaliando as necessidades dos clientes financeiros por meio de um engajamento proativo.
E esses são apenas alguns exemplos. É importante reforçar que essa mudança não acontece da noite para o dia e demanda bastante atenção da diretoria, que deve ser a impulsionadora dessa transformação. Se bem-feita, poderá gerar impacto em três frentes. A primeira, no nível de maturidade da empresa em relação ao uso de tecnologias, tanto no aprimoramento da utilização de ferramentas, quanto no desenvolvimento de uma nova mentalidade, mais digital e menos analógica. A segunda, na estratégia em relação ao mercado. Com insights mais rápidos e seguros, a empresa será mais resolutiva nas decisões e poderá construir uma eficiência operacional sólida.
Finalmente, há o impacto no desenvolvimento do funcionário. Além do evidente ganho de bem-estar ao não ter que gastar parte de sua jornada em tarefas repetitivas, o profissional torna-se mais capaz de atravessar as mudanças do mercado de trabalho, sempre sabendo como gerar mais valor tanto para a empresa, quanto para si mesmo. É verdade que não há futuro do trabalho sem o uso da tecnologia. Mas também não há futuro do trabalho sem profissionais capacitados para tirar o máximo proveito das soluções tecnológicas. Aqueles que souberem adotar uma mentalidade voltada para os dados tirarão inúmeros benefícios desse cenário.