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Tecnologia e inovação

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Estratégia e governança para adoção da IA

Investimentos em automação sem alinhamento com a estratégia empresarial e com políticas de GRC, possivelmente, significam gastos altos e retornos pequenos demais

Angela Miguel

12 de Novembro

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Artigo Estratégia e governança para adoção da IA

Não é apenas hype. O emprego de inteligência artificial em variados processos internos e externos dos negócios tem muito valor, especialmente para empresas que desejam preparar o terreno para inovações e responder rapidamente ao risco ou ao erro. No entanto, investimentos em automação sem alinhamento com a estratégia empresarial, possivelmente, significam gastos altos e retornos pequenos demais – pior ainda se não houver qualquer ligação com a governança corporativa.

Segundo Thiago Labliuk, COO & principal innovation da Bravo GRC, não basta que a adoção de IA tenha como objetivo auxiliar, por exemplo, na eficiência operacional ou na transparência da gestão, a não ser que esses sejam claramente objetivos da empresa. Para ele, nenhuma tecnologia de IA irá magicamente “virar o jogo” para as organizações.

“Costumo dizer: se você não souber qual questão se quer responder, não importa ter todos os recursos tecnológicos, pois você estará num caminho sem destino. Ou seja, qualquer caminho serve. Toda IA precisa ter um back office de aprendizado. Seja como for, é preciso saber o que está tentando responder”, afirma.

A recomendação do executivo, portanto, é que as empresas adotem uma linha de atuação que tenha maior confiabilidade e que saibam explorá-la bem, de forma a aprender como lidar com todos os processos e, então, evoluir em outras frentes. “Apesar de ser possível, uma pizza de oito sabores pode custar caro e não atender alguém completamente. Comece pequeno, exercite muito e busque validações dos modelos que estão sendo desenvolvidos, para validação da linha de atuação.”

Governança e estratégia em pé de igualdade

Diante do distanciamento social, centenas de empresas brasileiras correram para incrementar suas operações com IA. Porém, há uma diferença entre estratégias com IA e estratégias para IA, e o ideal é combiná-las, pois são complementares. É interessante utilizar a IA para determinar os objetivos estratégicos da empresa, assim como vale a pena empregar a IA nos processos com o público interno e assegurar maior eficiência.

Porém, para estratégias com ou para IA, a governança exerce papel fundamental. Segundo Labliuk, em 2020, com a mudança massiva dos modelos de negócio para o mundo digital, a estrutura de GRC (governança, risco e compliance) ganhou ainda mais importância.

“A viabilização e a democratização de oferta de serviços são ótimas, mas traz consigo riscos de segurança ou indisponibilidade sistêmica por questões de arquitetura ou infraestrutura, que comprometem de forma direta a resiliência operacional destes negócios. Esses são fatos que, evidentemente, necessitam de controle, monitoramento, atenção e contínua observância, ou seja, governança”, emenda.

O COO da Bravo GRC continua: “depois de tantas evidências e da grande transformação no formato de fazer negócios, que tende a ser cada vez mais realizado em alguma nuvem, é impensável imaginarmos que sua governança ainda reside em planilhas Excel, processos manuais ou qualquer método que não tenha o apoio da mesma tecnologia que transformou seu contexto de negócios”.

Assim, a estratégia empresarial deve caminhar lado a lado com as políticas de GRC – e esta deve vir antes dos investimentos em IA. Labliuk conta que exercícios foram realizados em contextos empresariais sem a estrutura de GRC adequada. Embora o objetivo fosse avançar em analytics, o resultado foi sempre o mesmo: incapacidade de aplicar IA.

Maturidade e atualização tecnológicas

Não é de hoje que a Bravo GRC observa que grandes resultados vêm da combinação de processos, pessoas e tecnologia. Quando há um desequilíbrio entre essas variáveis, a probabilidade de uma IA se sustentar e garantir o retorno esperado é baixa. A maturidade tecnológica, portanto, tem peso na criação das estratégias.

“Investir em tecnologias que atendam sua necessidade hoje, mas certamente precisarão ser substituídas na linha do tempo por limitações de expansão podem prejudicar os resultados e sempre têm um ar de reconstrução como pano de fundo”, pondera o COO.

“Ao mesmo tempo, acreditamos que o aprendizado digital do board irá exigir melhor capacitação de seus times táticos, para que as frases ‘ainda estamos iniciando’ ou ‘ainda somos imaturos’ não sejam aceitas como desculpa pela falta de avanço metodológico e tecnológico. Não dá para culpar a ferramenta sempre. Isso será mais evidente em pouco tempo.”

Habilidades e competências nada artificiais

O preparo para lidar com uma inteligência artificial não se resume ao conhecimento técnico ou tecnológico. Para além da especialização sobre aspectos da máquina, que pode ser maximizado com ferramentas de aprendizado contínuo, Thiago Labliuk ressalta a importância de todo o time – inclusive do board das empresas – cultivar habilidades e competências como maior afinidade com dados, conexões, business intelligence e mentalidade colaborativa. “Saber muito sobre determinado framework e não saber implementar de forma conjunta não é mais suficiente”, determina o executivo.

Essa proficiência em dados e nos negócios, além de uma boa dose de interesse (e por que não, curiosidade) digital são grandes parceiros daqueles que detêm o entendimento profundo da IA, das tarefas, dos fluxos e da lógica dos processos. Tomar decisões acertadas e saber como encontrar os dados mais valiosos torna-se muito mais fácil quando há um time falando a mesma língua.

“Acreditamos que a evolução holística da tecnologia que abraça nosso cotidiano irá empurrar essa mudança de comportamento. Hoje, não temos novidades sobre o fato de termos boa parte das nossas necessidades atendidas dentro de um celular. E isso é transportado para o mundo dos negócios, que essa pandemia reforçou o quanto está misturado com o nosso mundo pessoal, o que certamente precisa ser controlado, com seus riscos muito bem gerenciados”, conclui Labliuk.





ANTES DE AUTOMATIZAR

Os autores Thomas Davenport, professor do Babson College, e Senén Barro, diretor-executivo do Centro Singular de Investigación em Tecnologias Inteligentes da Universidad de Santiago de Compostela, acreditam que há cinco reflexões que os negócios precisam fazer antes de embarcar de cabeça na automação de processo em busca da inovação. São elas:

1. Educação para gestores: executivos precisam ser responsáveis ao tomar decisões estratégicas sobre tecnologias inteligentes. Sem conhecimento, é provável que as lideranças subestimem o potencial das tecnologias.

2. Road map para iniciativas futuras: não basta saber onde se quer chegar; o como é tão importante quanto. Para isso, descreva os objetivos, recursos e cronogramas para implantar toda e qualquer iniciativa.

3. Escolha inteligente para projetos de valor: não é porque todos estão buscando soluções em IA que a sua empresa precisa apostar, caso não haja qualquer experiência prévia significativa no tema. Vá devagar.

4. Capacitação interna: não são apenas os gestores que devem absorver conhecimento; colaboradores curiosos podem atuar como aliados na criação e desenvolvimento das iniciativas.

5. Atualização infinita: Labliuk têm razão – inovação baseada em automação precisa estar em constante processo de atualização.

Fonte: “Pessoas e máquinas: parceiras na inovação”, edição 1, MIT Sloan Review Brasil.



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Autoria

Angela Miguel

Angela Miguel é editora de conteúdos customizados na Qura Editora para as revistas MIT Sloan Management Review Brasil e HSM Management.

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