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Inteligência artificial: uma poderosa aliada na preservação ambiental

Entenda como a análise de dados e a IA ajudam na conservação de biomas e espécies – e saiba o que o Brasil tem feito nessa área

Roberta Fofonka

17 de Agosto

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Artigo Inteligência artificial: uma poderosa aliada na preservação ambiental

No mundo corporativo, o uso eficiente dos dados e da inteligência artificial (IA) permite às equipes traçar estratégias, otimizar processos e melhorar os resultados. A análise dos dados, a IA, e as redes inteligentes também têm feito a diferença em um aspecto que diz respeito a todos nós, a preservação do planeta.

Um exemplo disso vem da Austrália, que usa sensores inteligentes para evitar a extinção de coalas. Depois dos incêndios e inundações que atingiram o país em 2019 e em 2020, as mortes e a destruição do habitat destes animais deixaram a espécie em risco de extinção – algo que, agora, entidades e empresas trabalham conjuntamente para conter. Em Latrobe Valley, no estado australiano de Victoria, a fabricante de sensores Attentis e a companhia de análise de dados SAS criaram uma rede inteligente de mapeamento florestal. “Com incêndios e inundações, cada segundo importa. Ao combinar os sensores inteligentes e soluções de análise de dados para internet das coisas (IoT), estamos acelerando a velocidade e a precisão para responder às ameaças ambientais”, afirma Jason Mann, vice-presidente de IoT do SAS.

Como as soluções avaliam de maneira contínua o volume dos rios, as precipitações e a umidade do solo, os órgãos de socorro podem acompanhar os acontecimentos em tempo real. “Ao monitorar e analisar de perto esses dados, as autoridades podem agir rapidamente com base em novos insights e emitir alertas antecipados de inundação para pessoas em áreas de alto risco, que podem ser afetadas pelo clima severo”, observa Mann.

Em terras nacionais também temos avanços. Uma pesquisa desenvolvida pela Universidade Federal do Ceará (UFC) tem como objetivo criar uma rede inteligente de dispositivos estrategicamente posicionados, capaz de detectar a presença de humanos intrusos em áreas de proteção ambiental. “Assim será possível coibir a ação de caçadores e incendiários, identificando, ainda, focos de incêndio florestal e emitindo alertas aos brigadistas”, diz Victor Hugo de Albuquerque, professor do Laboratório de Engenharia de Sistemas de Computação (LESC) da UFC.

“A chave para a IA funcionar bem é conseguir perceber o ambiente à sua volta da maneira mais detalhada possível”, avalia Jefferson Silva Almeida, que tem uma pesquisa de doutorado orientada por Albuquerque. No estudo, Almeida desenvolve um protótipo de câmera inteligente para uso específico em área florestal baseado em deep learning. Em comum, estas tecnologias têm como finalidade a prevenção e descoberta precoce de incidentes ambientais. De quebra, os esforços vêm ao encontro do tema “Alerta antecipado e ação antecipada”, estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) este ano no dia em que foi celebrado o Dia Mundial da Meteorologia, 23 de março. Na data, a ONU anunciou que irá liderar novas ações para garantir a proteção dos habitantes do planeta por sistemas de alerta precoces nos próximos cinco anos.

Assim como acontece na UFC, os estudos que correlacionam IA e meio ambiente avançam em outras universidades brasileiras. “Entretanto, ainda há muito o que fazer e pesquisar nessa área, principalmente no Brasil, que abriga vários biomas e a maior floresta tropical do mundo”, acrescenta Albuquerque. “Sempre haverá algo novo a se fazer utilizando IA para promover benefícios à natureza”, conclui.

A análise de dados na preservação das baleias-jubarte

Na Bahia, a inteligência artificial tem sido usada para monitorar as baleias-jubarte. No litoral do estado, a densidade dessa espécie no período de reprodução é alta: entre junho e novembro, cerca de 20 mil animais circulam pela região da Área de Proteção Ambiental do Banco dos Abrolhos. A recuperação gradual do baleal, que em determinado momento do século 20 chegou a ser de apenas 500 animais, se deve a ações de preservação e monitoramento do transporte marítimo no local, entre outros esforços. “O primeiro passo para reduzir o risco de colisão é evitar que a baleia e o navio estejam no mesmo lugar, ao mesmo tempo. Quanto a isso, só o que se pode alterar é a rota dos navios”, explica Milton Marcondes, coordenador de pesquisa do Instituto Baleia Jubarte (IBJ).

Desde junho, o IBJ passou a acompanhar o movimento das baleias com uma câmera térmica, capaz de reconhecê-las em tempo real. A ideia é garantir a segurança dos animais à noite, período em que as embarcações não contam com a presença de um observador de baleias. O IBJ e as duas empresas que operam no local, Norsul (da área de logística) e Veracel (de celulose), ambas financiadoras da tecnologia, já mantinham um grupo de trabalho orientado a minimizar os riscos de atropelamento. Uma vez adotado, entretanto, o sistema de IA agora é usado em todos os turnos.

“Entramos na fase de experimentos e calibragem da eficácia do equipamento em diferentes condições marítimas. Assim, podemos descobrir até qual limite de ondulação a câmera consegue captar”, detalha Marcondes. O equipamento está conectado ao sistema de radar do navio, que dispara um alarme ao localizar quaisquer obstáculos. O dispositivo está programado para detectar a baleia no raio de 1km de distância da embarcação. Quando isso acontece, o alarme do radar soa para que o comandante decida como proceder.

Embora o recurso seja pioneiro em navios comerciais no Brasil, esta não é a única solução de IA usada pelo IBJ. Outro exemplo é o Happy Whale, ferramenta desenvolvida pelo fotógrafo e biólogo americano Ted Cheeseman. Ela usa IA para reconhecer as baleias através de um banco de imagens colaborativo, o qual pessoas do mundo inteiro podem acessar e contribuir. No caso das baleias-jubarte, a tecnologia cruza as informações da pigmentação de pontos brancos e pretos e do serrilhado da cauda, que são únicos em cada animal. “O sistema tem feito a comparação de fotos muito mais rápido do que por análise humana, e com 95% de acerto”, comemora Marcondes.

O uso desta tecnologia possibilitou descobertas inéditas, como o registro de cinco baleias originárias do Brasil vistas na África do Sul e a identificação de animais brasileiros na península Antártica. Exemplos de que a análise de dados, IA e meio ambiente caminham juntos.

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Autoria

Roberta Fofonka

Roberta Fofonka é colaboradora da MIT Sloan Review Brasil