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O coronavírus e os negócios

9 min de leitura

Liderança em tempos de Covid-19

Neste momento, os líderes empresariais têm como principal responsabilidade fazer as pessoas se sentirem seguras, escreve Mark Nevins, listando 11 medidas que servem de referência

Sobre Mark Nevins

26 de Março

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Artigo Liderança em tempos de Covid-19

As realidades da vida durante e após a Covid-19 ainda não se revelaram inteiramente, mas o enorme impacto em nossas empresas e organizações aparecerá gradativamente no resto de 2020 e depois. Neste momento, precisamos muito de l__iderança sóbria, bem informada, focada, e orientada por valores. Diz um ditado americano que “Crise não constrói o caráter, mas o revela”.

Há 18 meses, publiquei com John Hillen um livro sobre liderança chamado What Happens Now?, cujo argumento central é de que lideres, em particular os muito bem-sucedidos, devem reinventar-se continuamente, ou arriscam-se a ser atropelados pelo próprio negócio. Não importa se ontem você foi eficiente ou eficaz; você vai notar que o amanhã e o depois demandarão de  você novas habilidades como líder. Se não se reinventar e se adaptar, você e sua empresa vão fracassar.

Não existe um script de líder, muito menos para momentos como este que vivemos. Estamos ameaçados individualmente. Isso quer dizer que, além de cada um de nós, nossas famílias, nossos funcionários, fornecedores, clientes, sistemas financeiros e de governo, e – potencialmente – a própria estrutura de nossa sociedade. Não existem soluções mágicas. Mas aqui vão 11 ideias:

1. A primeira orientação é educar-se sobre a Covid-19. Isso va muito além de ver o Jornal da Globo [adaptação do tradutor] todo fim de noite. Inclui evitar ser sequestrado pelo melodrama da mídia, em particular das mídias sociais, e evitar transmitir esse melodrama para os outros. Escolha fontes confiáveis tais como a Organização Mundial de Saúde[ii] para obter informações fidedignas sobre como proteger a si, a sua família, e a seus colaboradores. 

2. Reconheça também que, em termos econômicos e empresariais, as coisas estão mudando diariamente, e às vezes de uma hora para a outra. Uma semana atrás ninguém tinha ideia do que aconteceria hoje. Seja flexível, seja adaptável, e esteja pronto para fazer escolhas difíceis. Como bola de cristal não faz parte da descrição de cargo de nenhum executivo, cerque-se de fontes confiáveis de informação[iii].

3. Em seguida, ancore tudo em torno que que é mais importante: a segurança de todas as pessoas pelas quais você é responsável. Isso inclui, além de seus funcionários e suas respectivas famílias, seus principais fornecedores e principais clientes. Trabalhar em casa é só o primeiro passo. Um cliente meu, presidente de uma grande empresa agressivamente voltada para vendas, é um dos caras mais durões que eu já conheci.  Pois na segunda-feira ele começou uma reunião remota com todos os colaboradores dizendo e repetindo que a coisa mais importante para ele naquele momento era que todos os seus subordinados se sentissem física e psicologicamente seguros

Sua principal responsabilidade neste momento é fazer as pessoas se sentirem seguras

4. Ao mesmo tempo, crie e execute um plano de ação claro para a sua empresa[iv]. Alguns dos meus clientes CEOs enfatizam a importância de planejar em grande detalhe até o final de terceiro trimestre de 2020, porém já sabendo que quase tudo será revisto (revisto frequentemente) daqui para a frente. Ao mesmo tempo, vale a pena focar no plano de ação toda semana, ou todo dia, porque as coisas estão mudando em um ritmo que nunca vimos antes. Se você alguma vez se perguntou o que seria VUCA [v], esse momento chegou!

6. Certifique-se de que esteja alavancando sua equipe. Você não está nisso sozinho, então não tente bancar o super-herói. Um mentor meu gostava de dizer: TodosNós é sempre mais esperto que qualquer UmdeNós”. Junte seus subordinados diretos para garantir alinhamento nos Planos, Prioridades, e Contingências. Juntos, todos devem planejar usando o Método dos Cenários[vi]. Ajude-os a separar o urgente do importante. Pergunte como se sentem, além do que estão pensando; pergunte como suas famílias se sentem: isso ajudará a aumentar o nível de inteligência emocional dos diálogos. Lembre-se de que, mesmo em tempos normais, trabalhar com equipes remotas cria desafios adicionais. 

7. Invista pesado em comunicação.  Meus amigos e clientes sabem que gosto de repetir: nu**nca nenhum executivo foi criticado porque se comunicou demais. Mas sua comunicação tem que passar credibilidade e otimismo. Aprenda a ser ao mesmo tempo realista e positivo. Agora que quase todos estão trabalhando remotamente, crie múltiplas maneiras de manter todos em contato[vii]. Aprimore seu estilo e táticas de comunicação[viii] Você pode decidir ter um evento regular (semanal?) para transmitir novidades, mudanças de rumo e ênfase. Seja claro nas suas mensagens (o que as pessoas precisam ouvir?) e não se incomode em repetir exaustivamente os temas-chave. Ajude as pessoas a focar no que cada um pode de fato controlar: este talvez seja um bom momento para aprender a praticar a l**iderança estóica [ix]

8. Ainda sob o item “Comunicação”, seja cuidadoso na forma, frequência e conteúdo de suas comunicação. Por exemplo, o programa de radio de Churchill, mesmo no auge da Segunda Guerra Mundial, não ia ao ar todas as noites. Nem você deve fazer isso. Claro que em momentos de crise a comunicação é fundamental, mas ninguém aguenta e-mails endereçados a todos mais de uma vez por dia, nem convocações de todos os funcionários mais de uma vez por semana. Insista com seus subordinados diretos quais são as mensagens cruciais a transmitir, e o que se espera de cada colaborador, lembrando que haverá mudanças quase que diárias em ambos. E todos os líderes de uma empresa têm de ter confiança, compaixão e otimismo ao passar as mesmas três mensagens: (a) dizer que colaboradores e suas famílias devem ficar em segurança, (b) explicar como todos trabalham juntos, e (c) indicar o que é essencial para a empresa, seus clientes e fornecedores.

9. Descubra formas de criar conexões. Conforme já dito, comunique-se o máximo possível, em particular de maneira informal, e certifique-se de que as pessoas têm como alcançá-lo: não há nada mais frustrante que um líder que desaparece quando há uma crise em andamento. Esteja disponível, e igualmente confortável com temas pessoais e da empresa. Se sua empresa não tem uma infra instalada de reuniões remotas, este é um bom momento para faze-lo. Algumas ferramentas são gratuitas ou quase (Zoom, Whereby, Skype, WhatsApp, FaceTime) e algumas empresas (Microsoft, Google) estão no momento oferecendo gratuitamente ferramentas corporativas de teleconferência[x].  

10. Lembre-se de ser autêntico. Não esqueça as razões pelas quais as pessoas desenvolveram confiança em você. Em momentos de crise as pessoas procuram o que lhes é familiar. Então agora não é uma boa hora para você mudar de estilo! Você não tem que ser Winston Churchill nem John Kennedy para ser um líder eficaz em tempos de crise. Não esconda as más notícias. Tenha em mente que honestidade inclui dizer “não sei” quando não souber. Você não precisa ter todas as respostas, mas precisa dedicar tempo para compreender o que seus subordinados estão perguntando e por que estão perguntando aquilo. 

Eis algumas perguntas para você se fazer, bem como sugerir a seus subordinados diretos, segundo Kathleen Smith:

  1. Nos últimos dias, você reduziu o contato com familiares e colegas para não ser contaminado pela ansiedade deles?
  2. Presumiu que alguém precisava de ajuda antes de perguntar se queria a tal ajuda?
  3. Disse para alguém como ele/ela devia fazer seu trabalho?
  4. Disse a alguém o que pensar antes de lhes perguntar em que estão pensando?
  5. Comprou coisas de que realmente não precisava?
  6. Superreagiu/sobreajudou um subordinado com sua tarefa?
  7. Implorou para seus pais/avós não saírem de casa?
  8. Foi para uma reunião em pessoa sabendo que era arriscado?
  9. Deixou de cumprir uma responsabilidade sua porque sabia que outra pessoa o faria>
  10. Ligou para alguém para acalmá-lo/a antes de tentar se acalmar a si proprio/a?
  11. Focou mais nas atitudes dos outros frente à pandemia em vez de lidar primeiro com as suas?
  12. Incorporou as soluções dos outros antes de considerar sua própria solução?

A quem respondeu “Sim” a algumas das questões acima, você pode fazer mais  perguntas para aprofundar a reflexão – e isso vale para você mesmo, inclusive:

  1. Como você tem lidado com sua ansiedade quanto à Covid-19?
  2. Qual foi a eficácia dessas ações? Elas refletem o melhor dos seus pensamentos?
  3. Existe uma forma melhor de agir?
  4. O que lhe causa desconforto nesta forma alternativa de ação?

11. Sobretudo, gerencie a si próprio/a. Você é um ser humano, no momento estressado (talvez mais que a maioria de nós), e possivelmente de formas que mal desconfia. Não se permita chegar aos seus extremos de esgotamento físico e emocional. Invista em estar tão preparado quanto possível, mas mantenha o equilíbrio: alimente-se e exercite-se adequadamente, e invista tempo e energia em relacionar-se com as pessoas que são mais importantes para você. Familiares e amigos precisam de sua atenção e liderança tanto ou mais que seus colaboradores. 

Encerrando, seja um líder memorável. Seus funcionários se lembrarão por um longo período de como foram tratados durante esta crise. Nada motiva mais uma pessoa que saber que “meu chefe se preocupa comigo como ser humano”. Como líder você deve tratar a crise da Covid-19 como um momento decisivo para você a sua empresa. Compareça e lidere de acordo. 

Tradução de Augusto Dias Carneiro (que fez algumas poucas edições, aprovadas pelo autor, voltadas para o leitor no Brasil). Nevins faz e__speciais agradecimentos a John Hillen, Fred Voccola, e Kurt Elia, que fizeram contribuições substanciais a este artigo, e aos autores citados.

REFERÊNCIAS

[i] Hillen, J. e Nevins, M.: What Happens Now? Reinvent Yourself as a Leader Before your Business Outruns You. New York: Select Books, 2018. Disponível também em formato e-book.

[ii] World Health Organization, em inglês via Whatsapp +41 79 893 18 92. Depois de criar a conexão, digite “Hi” e virá um menu com 8 opções. A opção 1 é Proteja-se. A 2 é Números mais recentes.

[iii] Nota do tradutor: embora a lista do artigo original seja substancial, o leitor no Brasil certamente terá ideias fortes sobre o que configura “fonte confiável” na mídia local. Então eu preferi deixar por conta de cada um, mas não resisto mencionar o Meio, e-mail gratuito que chega 2a-6a às 8:00, com um resumo dos principais jornais: www.canalmeio.com.br

[iv] A McKinsey (www.mckinsey.com/COVID-19) tem adicionado quase que diariamente material de grande valia para as empresas criarem um plano em nível operacional que inclui itens que ninguém está mencionando (exemplo: como estabilizar a cadeia de suprimentos depois que o vírus passar). Alguns artigos estão em português (exemplo: setor varejista)

[v] holos.org.br O que é VUCA: 5 aspectos dessa visão de mundo

[vi] amazon.com.br Woody Wade Planejando Cenários: Um Guia Prático Para Se Preparar Para o Futuro do Seu Negócio– 2013

[vii] hbrbr.uol.com.br Equipes globais que funcionam Tsedal Neeley10 de outubro de 2015

[viii] forbes.com.br 10 segredos para se comunicar como os grandes líderes Redação14 de maio de 2018

[ix] blogs.gazetaonline.com.br: Estoicismo e lições para a liderança 10/jul/2019 Victor Maia

[x] www.neilpatel.com Home Office:18 Dicas para você trabalhar melhor de casa.  E hbr.org: How to Get People to Actually Participate in Virtual Meetings byJustin Hale andJoseph Grenny March 09, 2020

[xi]Kathleen Smith  www.theanxiousoverachiever.substack.com

[xii] businessroundtable.org Redefines the Purpose of a Corporation

*** Este artigo foi publicado originalmente na Forbes norte-americana em 19 de março de 2020 e reproduzido neste blog com a autorização do autor.

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Autoria

Sobre Mark Nevins

Consultor e coach de líderes, Mark Nevins trabalha com empresas como American Express, athenahealth, Boeing, Boehringer-Ingelheim, Citibank, Comcast, DoubleClick, Exxon-Mobil, Ford Motor Company, Guardian Life, Google, L'Oreal, Medco, NBCUniversal, Nokia, Schindler, Scripps, Sony, Thyssen-Krupp, Thomson Reuters, Time Warner, Time Warner Cable, Tory Burch, UBS, UnitedHealth, Yodle e 24/7 Media, entre outras.

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