fb

Diversidade e inclusão

3 min de leitura

Mulheres no mercado de trabalho: por que o avanço é tão lento?

Em comparação com a década de 1980, mesmo com um avanço tímido, atualmente as mulheres podem alcançar postos de liderança dentro das organizações; e embora ocorra uma ascensão em diversidade, muitas empresas falham em inclusão e equidade

Colunista Daniele Botaro

Daniele Botaro

30 de Novembro

Compartilhar:
Artigo Mulheres no mercado de trabalho: por que o avanço é tão lento?

Escutei uma pesquisadora comentar sobre o absurdo que é referir-se ao tema de equidade de gênero como um tema emergente. Segundo ela, não tem como 52% da população mundial representar um tema que acabou de surgir. No entanto, antes de avançarmos sobre esse assunto, precisamos contextualizar o cenário atual.

Nos últimos tempos, vimos as mulheres conquistarem importantes avanços em educação, ascensão profissional, aumento de renda e poder de consumo. A diferença salarial entre gêneros diminuiu e a porcentagem de mulheres subindo na hierarquia corporativa tem aumentado de maneira constante, apesar de muito tímida. Em 1980, não havia mulheres nas primeiras posições executivas das empresas Fortune 500 e hoje (já?) são 35.

E mesmo que os números tenham avançado lentamente, pelo menos a percepção de que o tema é urgente, já chegou na maioria das empresas. Há pelo menos uma mulher participando de cada conselho de empresa participante do S&P 500 (as 500 empresas gigantes listadas na Bolsa de Nova York), e isso só se deu porque as empresas entenderam os benefícios de diversidade e inclusão. A pressão de investidores para que as empresas adotem políticas e práticas de diversidade surgiram após inúmeros estudos comprovando melhores resultados financeiros das empresas inclusivas.

No entanto, o progresso tem sido irregular no que tange a interseccionalidade, por exemplo. Mesmo com o aumento no número de mulheres negras no ensino superior, graças aos programas de ações afirmativas, elas ainda são minoria nos cargos de liderança, representando apenas 2,4% (cargos de gerência sênior ou diretoria) no Brasil. Empresas têm criado programas específicos e possível observar que um número expressivo de vagas afirmativas para mulheres e pessoas negras; é um primeiro passo.

O gap da inclusão

No entanto, apesar dessa realidade que nos traz um pouco de esperança, do lado das empresas, os esforços têm focado muito na diversidade e pouco na inclusão. Desde o onboarding, integração com os times, programas de desenvolvimento e até plano de carreira, são poucas as ações efetivas para reter as candidatas que você lutou tanto para atrair. Líderes despreparados, dia a dia de muita pressão, desafios do trabalho remoto e falta de processos representam verdadeiros serial killers da inclusão de mulheres nas empresas.

Em 2020, vimos o mundo se transformar por causa da pandemia. O que parecia promissor para as mulheres com o advento do home office — e da tão desejada flexibilidade — acabou se voltando contra elas com o fechamento das escolas e a sobrecarga de trabalho doméstico e cuidado familiar. No Brasil, só durante a pandemia, mais de 8 milhões de mulheres deixaram a força de trabalho brasileira e 26% delas afirmaram não poderem trabalhar pelo fato de terem que cuidar dos afazeres domésticos e cuidados com familiares. Do total de homens que perderam emprego, só 2% alegaram a mesma razão.

Além disso, vimos mulheres mais afetadas por estarem em profissões e atividades que foram muito impactadas, como a indústria de eventos, turismo e serviços de beleza, vestuário e alimentação em geral. Mais um alerta de que as mulheres precisam buscar ocupações e profissões menos ameaçadas por crises econômicas, como é o caso das carreiras em tecnologia, por exemplo.

De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), o mercado de TI deve criar 420 mil novas vagas até 2024. No entanto, a estimativa é que, por falta de profissionais qualificados, 150 mil vagas não vão ser preenchidas. E não faltam programas gratuitos de formação em tecnologia para mulheres.

Contudo, vocês sabem que eu sempre vejo o lado bom das coisas. Diversas pesquisas têm mostrado o crescimento constante da aliança e da sororidade entre mulheres no mundo corporativo. Isso, por si só, já me enche de esperança de um futuro com mais equidade e promissor para as mulheres.

Este artigo compõe uma série de publicações divulgadas no site/app e nas redes sociais da MIT Sloan Review Brasil ao longo deste mês, até dezembro, em celebração ao segundo mês dedicado às mulheres além de março, que engloba o Dia Internacional do Empreendedorismo Feminino (19 de novembro) e o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher (25 de novembro).

Compartilhar:

Colunista

Colunista Daniele Botaro

Daniele Botaro

Head de diversidade e inclusão da Oracle para a América Latina, ela também é embaixadora da Gaia+. Foi empreendedora, e sócia-diretora, da Impulso Beta, consultoria especializada em programas de diversidade.

Artigos relacionados

Imagem de capa O que o "dinheiro inteligente" diz sobre CEOs negros

Diversidade e inclusão

22 Março | 2024

O que o "dinheiro inteligente" diz sobre CEOs negros

Nos EUA, investidores institucionais já respondem mais positivamente à nomeação de CEOs negros do que o mercado de ações mais amplo e até aumentam suas posições acionárias. Será que isso será realidade um dia no Brasil?

Curtis L. Wesley II, Hermann A. Ndofor, Enrica N. Ruggs e Derek R. Avery

7 min de leitura

Imagem de capa Nudges pró-diversidadeAssinante

Diversidade e inclusão

01 Fevereiro | 2024

Nudges pró-diversidade

Pesquisas mostram que, para alterações mais profundas no ambiente de trabalho, times que optam por começar pelo treinamento individual antes do coletivo têm melhores resultados

Paola Cecchi Dimeglio