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Estratégia e inovação

4 min de leitura

Na era dos robôs inteligentes, quem tem o chip é rei

Seria a valorização de componentes ou de quem faz os componentes? Creio que estamos perto de descobrir

Colunista Eduardo Peixoto

Eduardo Peixoto

26 de Abril

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Artigo Na era dos robôs inteligentes, quem tem o chip é rei

Estamos imersos em uma era onde a tecnologia desempenha papel central em quase todos os aspectos de nossas vidas – da forma como nos comunicamos até como conduzimos nossos negócios. No cerne dessa revolução, está a inteligência artificial (IA), capaz de redefinir os limites do possível e impulsionar a inovação em todas as indústrias.

Por trás dessa força disruptiva da IA, existe uma peça-chave e que muitas vezes passa despercebida: os componentes. Esses pequenos, mas poderosos dispositivos são a espinha dorsal dos sistemas de IA, o que os capacita a processar dados, a aprender e a tomar decisões de maneira autônoma. Sem eles, a IA simplesmente não existiria.

A fabricação de tais componentes assume uma importância estratégica sem precedentes, e deter o controle dessa produção implica vantagens significativas. É aqui que entra a Nvidia, maior produtora de chips do mundo e fornecedora da Amazon, Google e Microsoft, referências globais na criação de softwares de IA.

A esta última e à Apple, a Nvidia se juntou para formar o trio de companhias mais valiosas do mundo – as outras duas, como se sabe, ocupam o topo há anos. De outubro de 2022 para cá, o valor de mercado da "novata" escalou de US$ 230 bilhões para impressionantes US$ 2,3 trilhões (sim, trilhões). Isso pode surpreender alguns, considerando que a Nvidia raramente vende direto ao consumidor final, o que a torna relativamente desconhecida para muitos. Mas não se engane: estamos falando de uma gigante.

Grandeza esta que foi acelerada durante a pandemia de covid-19, quando pudemos constatar a importância e o valor de um chipset componente da placa-mãe responsável por direcionar o fluxo de dados para os componentes certos e garantir que eles operem com eficiência. Na época, diversas fábricas foram fechadas na China, na região conhecida como Vale do Silício Chinês, afetando significativamente a produção global de eletrônicos. Além do impacto no mercado de tecnologia, o setor automotivo enfrentou seus próprios desafios. As montadoras tiveram que investir em inovação para se tornar competitivas, direcionando seus esforços de pesquisa para o desenvolvimento de veículos com novas matrizes energéticas. Hoje ninguém supera a Nvidia como a mais apta a prover infraestrutura de IA.

Parceria com o CESAR e Petrobras

Atualmente, o CESAR, centro de inovação e conhecimento pernambucano e do qual sou CEO, desenvolve um projeto em parceria com a Nvidia e a Petrobras. O SolverBR está envolvido em simulações de explorações de reservatórios para campos de petróleo, abrangendo desde a escolha da localização de um poço até a definição da estratégia de produção e previsão do comportamento financeiro. Trata-se de processos com alta demanda de tempo e poder computacional, bem como quantidade significativa de energia.O objetivo do projeto, que foi tema de um dos paineis do Web Summit Rio 2024, é explorar a viabilidade e os benefícios potenciais de executar uma parte dessas simulações em novos hardwares com arquiteturas inovadoras, especialmente a Advanced RISC Machine (ARM).

Nesse contexto, a Nvidia surge como uma das principais empresas no mercado de hardware de alto desempenho, em um momento em que a corrida pela fabricação dos próprios componentes ganha tração.

As big techs estão em um novo movimento para produzir seus próprios chipsets, sem precisar de fornecedores terceiros e podendo se concentrar em um plano emergencial, caso algo da magnitude da pandemia de covid-19 aconteça novamente. Desde 2020, por exemplo, a Apple substituiu os chips da Intel por chips próprios. Toda linha M para seus computadores são desenho da própria empresa, assim como os chips da linha A, feitos para os smartphones da marca. Em 2023, a gigante de Cupertino já não vendia mais nenhum Mac que não estivesse equipado com a plataforma Apple Silicon.

Nesse cenário, é possível que estejamos assistindo ao retorno da importância do componente e do desenvolvimento do chipset e ao interesse das empresas que antes podiam ser consideradas de software agora colocando investimentos nessa área.

Acompanhar o poder da Nvidia nessa disputa torna-se ainda mais interessante quando reunimos elementos do passado e percebemos para onde ela está caminhando. Com o aumento de dispositivos que usam IA para o funcionamento de diferentes softwares, a empresa comandada por Jensen Huang sustenta o protagonismo do mercado. Se juntar as placas de vídeo da marca, que estão há anos consolidadas, com seus processadores poderosos, feitos para rodar softwares robustos que usam IA, será difícil tirá-la do topo.

A Nvidia entrou como "cérebro" desta nova revolução industrial baseada no aprendizado de máquina. Resta saber se essas alianças estratégicas para a fabricação de chipsets, que envolvem tanto parcerias entre as gigantes da tecnologia quanto o empenho na fabricação própria, é algo isolado ou uma tendência. Seria a valorização de componentes ou de quem faz os componentes? Creio que estamos perto de descobrir.

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Colunista Eduardo Peixoto

Eduardo Peixoto

Eduardo Peixoto é CEO do CESAR e professor da CESAR School. Mestre em Comunicação de Dados pela Technical University of Eindhoven-Holanda, com MBA na Kellogg School of Management e na Columbia Business School. Atua há 30 anos na área de tecnologias da informação e comunicação (TICs). Trabalhou como executivo da Philips, na Holanda, e na Ascom Business System AG, na Suíça.

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