Precisamos alterar a rota de produção e de distribuição do sistema capitalista, criando ações mais empáticas para enfrentarmos problemas sociais e ambientais
“De uma forma simplista, o nome capitalismo surgiu quando se criou a ideia de um sistema socialista. O mercantilismo era a base, ou seja, um conjunto de práticas econômicas em que as pessoas trocavam produtos e serviços de forma voluntária (exceto a parte da escravidão).
O socialismo nomeou o mercantilismo como o sistema do capital. Mas o que chamamos hoje de capitalismo nada mais é que um sistema em que os meios de produção e lucro são controlados por empresas privadas.
Tradicionalmente, tínhamos a ideia de que no capitalismo os produtos e serviços são comercializados de acordo com as regras de demanda e oferta, tendo como objetivo a maximização do lucro. Hoje já é possível entender que essa ideia evoluiu.
Atualmente, é possível conviver num sistema capitalista que seja criado com um alicerce social e nos perguntarmos, por exemplo: qual é o mínimo necessário para viver sem exceder um teto ambiental?
Apesar dessa evolução, nem todos acompanham de forma consistente a mudança. Ainda temos líderes com a mentalidade do século passado, motivados por ego, ambição e ganância. Ou seja, o comportamento que está ou estava nos levando a destruição da raça humana no planeta. Sim, o planeta não vai a lugar nenhum.
Bom, vamos olhar o que o capitalismo nos ofereceu durante esses últimos 200 anos, em especial a promoção da inovação tecnológica.
Mercados abertos e competitivos oferecem um grande incentivo para que as mentes criativas do mundo desenvolvam soluções criativas para os problemas que enfrentamos, inclusive para problemas ambientais sem que seja necessária uma intervenção.
No modelo capitalista, quando chegamos ao limite de algum recurso, a inovação trabalha a favor da criação de alternativas e fomenta a inovação. Um excelente exemplo disso são as diversas tecnologias que reduzem custos de forma dramática, como a iluminação de LED, placas de energia solar, e assim por diante. Conforme a demanda aumenta, e a competição também, as soluções tecnológicas são viabilizadas e se tornam mais acessíveis.
O capitalismo é um sistema que cria incentivos para ser mais eficiente. A livre concorrência permite que organizações trabalhem para oferecer soluções mais qualificadas por melhores preços.
Alguém lembra da época que a telefonia era operada pelo governo e uma linha custava US$ 10 mil e 50% das PJs não tinham telefone? Hoje temos mais linhas telefônicas que habitantes.
Em teoria o ganho de eficiência deveria estar associado a benefícios sociais e ambientais também, mas isso é uma preocupação mais recente de criar um capitalismo de stakeholders onde todos percebem valor.
Capitalismo ainda é o melhor sistema que temos. O socialismo demonstrou ser um mecanismo ainda mais devastador para o meio ambiente. O que precisamos é fomentar uma perspectiva ambientalista para reinventar o capitalismo. Por falta de tempo para criar um sistema novo, precisamos impulsionar um capitalismo que saia da ideia de maximizar resultado para o acionista (supremacia do acionista) para uma abordagem de otimização de valor para todos envolvidos (capitalismo de stakeholders).
O custo real da produção precisa considerar impactos sociais e ambientais, ou seja, as externalidades seguem no meio de nós. Além disso, a globalização nos levou a um nível de interdependência radical.
Por outro lado, para ajustar o capitalismo, precisamos mudar a forma com a qual nos comportamos:
O capitalismo, por uma ideia absurda de crescimento exponencial, nos leva a um consumo descontrolado e excessivo. Vivendo em um planeta com recursos limitados, é ilógico acreditar que tudo pode ter um crescimento exponencial. Se continuarmos assim, seremos o nosso propósito câncer que nos matara. O câncer tem crescimento exponencial e se não tratado a tempo mata seu hospedeiro, matando a si mesmo. Não é possível que aceitemos a ideia de crescimento exponencial para tudo. Isso ainda é uma sequela da supremacia dos acionistas com a intenção de maximizar lucro a qualquer custo.
A outra necessidade contínua de cortar custos gera um custo excessivo para o meio ambiente. O excesso de competição leva a uma consequência irremediável, as externalidades de um negócio acabam impactando todo seu ecossistema e por consequência voltam a afetar o seu próprio negócio de forma negativa. Não temos mais como escapar desse impacto.
Um terceiro ponto negativo do capitalismo é a exploração de comunidades, perpetuando assim a desigualdade e criando senso de injustiça social, o que representa uma bomba prestes para explodir.
Para que essa mudança aconteça, precisamos retomar a essência do que um negócio realmente representa: fazer algo melhor para o mundo (melhor já toma uma dimensão muito maior do que antes, pois inclui o social e o ambiental). Se não fizermos o melhor, não vamos nos estabelecer. O que é fazer melhor? É ter clareza de sua causa. O propósito, a razão pela qual se empreende.
Em seguida precisamos entender que não existem mais externalidades. Mais do que nunca, estamos radicalmente interdependentes. Tudo está conectado e precisamos assegurar que geramos valor para todos envolvidos. E não existe uma área de impacto negativo, pois não existe compensação. Imagine você indo comprar comida e o supermercado te oferece gasolina, pois, nesse momento, não tem alimentos disponíveis para você. Isso não resolve a fome.
Enfim, essa transformação precisa começar na liderança, que precisa deixar o ego e a ganância de lado para entender que somo parte de um ecossistema interdependente. A partir disso, uma liderança precisa criar uma cultura mais colaborativa, menos competitiva, mais consciente, menos consumista e assim por diante.
Só iremos mudar se formos capazes de criar e fomentar um movimento de mudança através de novos comportamentos. Precisamos olhar para o modelo cooperativo e reconhecer que é possível produzir bem (onde o socialismo falhou) e distribuir bem (onde o capitalismo está falhando). Estamos falando de um capitalismo mais consciente.
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