O fim da lua de mel com o ChatGPT
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A partir de um conjunto de referências, procuro mostrar neste artigo como será o hospital do futuro; a projeção extrapola as barreiras do espaço físico e acomoda o uso de tecnologias virtuais incessantes no cotidiano dos pacientes, no conforto do lar
Gustavo Meirelles
28 de Junho
Dia 20 de junho de 2045, São Paulo, Brasil. Após uma série de avaliações clínicas e exames complementares, enfim o grande dia: Marcos estava pronto para realizar seu transplante renal. Aos 106 anos, e com saúde até então inabalada, Marcos vinha há algum tempo aguardando por esse momento.
De casa, Marcos havia agendado a internação por meio da sua assistente digital, enquanto tomava o café da manhã. O sistema do hospital, integrado ao seu prontuário digital individual, extraiu todas as informações de que precisava e deixou prontos os lembretes: “preparos para a internação”, “avisos para os familiares” e “agendamento de um serviço de transporte por veículos aéreos”, que o levaria até o hospital em 5 minutos. O que Marcos precisava era apenas separar algumas roupas e seus itens pessoais.
Tudo funcionou perfeitamente, conforme o planejado. Ao chegarem ao hospital, Marcos e Adriana, sua esposa, foram recebidos pela Juliana, que a partir daquele momento acompanharia todos os seus momentos no hospital. Sofia, uma recepcionista robô, encarregava-se dos procedimentos de admissão e encaminhava Marcos e Adriana até o quarto. Ao chegarem, Sofia transmitiu a lista de opções de entretenimento: “gostariam de fotos pessoais em alguma parede?”; “Quais eram seus tipos de filmes preferidos?”; “Alguma restrição alimentar para o casal?”.
Marcos ficou encantado. Com proteções acústicas, paredes claras, ambiente aconchegante e som ambiente agradável, o quarto do hospital não lembrava em nada com aqueles do passado. Ao lado da cama, uma assistente digital informava toda a agenda de Marcos durante a internação e tirava dúvidas de saúde, ou sobre o procedimento a ser realizado. O relógio de Marcos, conectado ao sistema hospitalar, enviava em tempo real informações sobre sua frequência cardíaca, saturação de oxigênio, eletrocardiograma e outros dados vitais.
Em poucos minutos após a internação, Marcos e Adriana foram visitados pelos Drs. Roberto e Cristina, médicos responsáveis pelo procedimento, acompanhados dos seus robôs assistentes. Por meio de realidade virtual, o casal foi apresentado a todas as etapas do procedimento, conhecendo com mais detalhes os rins que seriam implantados, produzidos por impressão 3D e sob medida para o organismo de Marcos.
O diálogo entre eles e os médicos assistentes foi gravado, de forma segura e criptografada, e transcrito para o prontuário eletrônico individual de Marcos, integrado ao sistema hospitalar e facilmente acessível pelos celulares e assistentes digitais dos médicos.
Com a ajuda de cirurgiões robôs, o procedimento transcorreu sem qualquer intercorrência. Marcos retornou para o quarto em seguida e poucas horas depois já estava pronto para conversar com a família e seu médico particular por meio de modernos sistemas de telemedicina com hologramas, facilitando a comunicação com seus filhos e netos na Austrália, Chile e Tailândia.
No dia seguinte, Marcos estava pronto para voltar para sua residência. Após as orientações finais, entrou com sua esposa no veículo aéreo e, em poucos minutos, o casal estava pronto para descansar no conforto do seu lar. Seu relógio continuou transmitindo as informações vitais para o sistema do hospital e para os médicos assistentes.
Ao receber uma notificação no celular, Marcos era lembrado dos momentos de realizar seus testes laboratoriais: na mesma hora, coletava uma gota de sangue da ponta do dedo, analisada em tempo real por um pequeno aparelho conectado ao celular.
A verdade é que o hospital do futuro será completamente diferente do modelo atual. Longas filas, sistemas burocráticos e ambientes frios e impessoais serão coisas do passado. A tendência é que hospitais sejam muito mais voltados para realizar grandes cirurgias, atendimentos de urgência e exames diagnósticos mais complexos.
Por meio da tecnologia, a maior parte dos cuidados com a saúde será feita no ambiente doméstico, com dados vitais coletados por relógios inteligentes e testes rápidos de análises clínicas realizados em poucos minutos.
No cenário hospitalar, a tendência é que tenhamos ambientes muito mais acolhedores, sem longas filas, esperas ou trâmites burocráticos. Robôs ajudarão não apenas na recepção dos pacientes, mas também em procedimentos cirúrgicos, suporte para a enfermagem e na desinfecção de quartos e outros ambientes hospitalares.
Soluções baseadas em inteligência artificial estarão por todo lado, inclusive auxiliando pacientes com dúvidas sobre saúde, bem-estar e qualidade de vida. Centros de comando, semelhantes aos da indústria de aviação e de centros de mídia, também serão realidade, acompanhando diversos pacientes simultaneamente, checando sinais vitais e cruzando os dados por meio de sistemas inteligentes de análise e predições de risco e prognóstico.
A arquitetura hospitalar será toda pensada para promover satisfação e uma boa experiência aos pacientes, desde funcionários do hospital e corpo clínico até os ambientes espaçosos, agradáveis e acolhedores.
Por fim, a telemedicina facilitará não apenas a comunicação entre médicos e pacientes, mas também para manter próximos os parentes que moram longe e não podem estar presentes em momentos preciosos para todos.
26 de novembro de 2048. Casa decorada, comes e bebes preparados e trilha sonora a pleno vapor: chegara o dia de festejar mais um aniversário de Marcos. No jardim, além de muitos amigos e familiares, hologramas dos que não puderam comparecer interagiam com o anfitrião e seus convidados. Um pequeno alerta no celular de Adriana avisava que sua glicemia estava ótima, assim como pressão arterial, frequência cardíaca e oxigenação sanguínea.
Diabética desde a infância, ela não se lembrava mais dos períodos de descontrole da glicose, graças ao monitoramento contínuo por dispositivos vestíveis. No entanto, isso é tema para nossa próxima coluna; agora, é hora de comemorar a vida, a saúde e os 110 anos de Marcos.
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É fundador, investidor e conselheiro de startups, principalmente na área da saúde. Médico radiologista, com especialização, doutorado e pós-doutorado no Brasil e no exterior. Tem experiência como executivo de grandes empresas de saúde, com MBA em gestão empresarial. Mais informações em: www.gustavomeirelles.com.
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