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Fjord Trends #4: Pessoas líquidas

Mais e mais as pessoas vêm reavaliando a si mesmas, a vida que levam e o impacto que têm no mundo ao seu redor. Todos estamos começando a nos questionar sobre o que significa ser um cliente ou um funcionário. O que está além do consumismo? O que está além da noção de trabalho simplesmente como uma forma de ganhar dinheiro?

Aaron Hurst
25 de junho de 2024
Fjord Trends #4: Pessoas líquidas
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Ainda gostamos de consumir, claro. Mas já começamos a buscar outras maneiras de definir e mostrar quem somos sem precisar exibir posses materiais.

O mesmo vale no ambiente profissional. Ainda trabalhamos duro para empresas das quais podemos gostar ou não, tentando entender nosso próprio valor por meio do que fazemos durante muitas horas do dia. Mas já vemos sinais de que isso está mudando e, consequentemente, empresas precisam aos poucos redefinir a compreensão que têm dos seus clientes e dos seus colaboradores, para permitir que encontrem um senso de relevância maior. 

O que está acontecendo?

Não, o consumo não morreu. Porém, está passando por mudanças: as pessoas têm se tornado consumidores dia a dia mais conscientes. 

Ainda consomem, mas, agora, muita gente faz isso para apoiar uma causa e/ou evitar ao máximo possíveis danos ao planeta ou à sociedade. Mesmo porque, atualmente quem não faz as escolhas “certas” corre o risco de ser criticado.

Assim, o valor agregado que o mercado busca há décadas vem mudando de formato rapidamente, e se conectando a formas imprevisíveis, mas importantes, de autoatualização. 

Empresas começam a seguir esse caminho, também.Por exemplo, a startup brasileira Beleaf, conhecida antigamente como Vegan Já, é uma das várias empresas da indústria de alimentos à base de plantas que mudou seu nome para ampliar a sua atratividade para os consumidores de carne. 

Nos Estados Unidos, cerca de 95% das pessoas que compram produtos sem carne na Impossible Foods são carnívoras. 

A venda de comida vegana para viagem é a que mais cresce no Reino Unido atualmente, e uma pesquisa recente da YouGov indicou que uma dieta flexível e consciente pode se tornar em breve a mais comum no reino.

O que vem a seguir?

As “pessoas líquidas” não são um resultado de novas definições de crescimento corporativo – trata-se de algo muito mais pessoal e profundo. 

Inicialmente, terão maior evidência em mercados ocidentais mais desenvolvidos, mas a longo prazo seu impacto será mais extenso. 

Eventualmente, produtos que as pessoas consideram como um desperdício ou sem função específica serão recategorizados e terão seu valor redefinido por elas.

Ouviremos falar mais sobre ansiedade ética – uma expressão bastante em voga hoje. 

Teremos essa ansiedade como pano de fundo conforme navegarmos por trade-offs não somente entre demandas éticas concorrentes (Qual distância esse produto percorre da fábrica à loja? Qual a qualidade de sua produção?), como também entre essas demandas e nossas vontades e desejos. 

Uma designer da Fjord nos contou que o colega com quem divide uma casa não quis se juntar a ela na redução do uso de plástico porque ele “já fazia o suficiente” por ser vegano.

Por enquanto, o consumo consciente pode não ser para todos, mas conforme ele se transforma numa nova moeda social, vai se popularizar em alguns mercados – e empresas precisam estar prontas para reagir a isso quando o momento chegar.

O termo “pessoas líquidas” sugere que precisamos juntar cada vez mais as experiências dos clientes às dos funcionários, de um modo como jamais fizemos. S

e clientes e funcionários estão buscando metas semelhantes, por que não conectá-los de forma implícita ou explícita nessa busca? E se os funcionários sentissem maior satisfação no trabalho entregando novos tipos de valor agregado aos clientes? 

Afinal, 60% dos jovens no início de suas carreiras querem um emprego que cause impacto social. 

Conforme a discussão sobre a força de trabalho do futuro aumenta, por que não definir, por exemplo, uma meta de redução de consumo de energia e uma forma de os funcionários ajudarem os clientes a atingir tal meta? Ou para bancários auxiliarem seus clientes a alcançar metas de poupança?

Claro que nem todos querem poupar. Quando as necessidades das pessoas mudam, quem oferece produtos e serviços precisa adotar novos jeitos de entendê-las e de ajudá-las a definir quem são e a tomar boas decisões. 

Empresas devem compreender as prioridades e preocupações particulares de diferentes indivíduos – bem como o ponto onde prioridades e preocupações se cruzam.

No mundo todo, estima-se que o número de pessoas com mais de 65 anos irá dobrar até 2050. E elas precisarão de quem as ajude a lidar, prática e emocionalmente, com as mudanças que virão pela frente. 

Empresas podem aproveitar a oportunidade para desenvolver produtos e serviços que ajudem os aposentados em sua busca por um novo senso de quem eles são agora. 

Ao mesmo tempo, as empresas devem ter cautela no que se refere a fazer suposições com base apenas na idade ou na fase de vida de seus clientes. 

A preferência pelo consumo consciente e por produtos, serviços e trabalhos com valores alternativos – e sem impacto negativo no mundo – vale tanto para gente na faixa dos 30-40 anos quanto para adolescentes e jovens na casa dos 20 anos.

Essa tendência não é algo geracional, ou seja, não engloba apenas os millenials. Quanto mais entendem a si mesmas e a responsabilidade que têm em relação ao nosso planeta, cada vez mais pessoas de todas as idades pensarão em consumo consciente. 

Portanto, todas as organizações precisam pensar com muito cuidado sobre os produtos que desenvolvem e sobre a forma como se comunicam com clientes e funcionários de todas as idades.

Pense

Como a sua marca possibilita que as próprias pessoas definam o que consomem, o trabalho que fazem ou a renda que possuem? Como a sua empresa enxerga as pessoas além dos rótulos “cliente” ou “funcionário”?

Diga

Tire a palavra “cliente” do seu vocabulário. Forneça às pessoas escolhas que permitam a elas explorar e conhecer sua própria identidade.

Faça

Crie equipes de análise humana, não de análise do cliente – foque menos o número de pessoas que está tomando uma ação específica e mais o contexto da tomada de decisão delas. Ajude as pessoas a lidar com as decisões éticas que as cercam.

Aaron Hurst
Aaron Hurst é CEO e cofundador da Imperative e autor de *The Purpose Economy* (Elevate, 2014).

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