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7 min de leitura

Por que executivos se sentem tão desconfortáveis com a IA

Inteligência artificial exige aprendizado contínuo: os líderes precisam abraçar essa realidade desconfortável e priorizar o desenvolvimento da alfabetização em IA

Marc Pinski, Monideepa Tarafdar e Alexander Benlian

29 de Abril

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Artigo Por que executivos se sentem tão desconfortáveis com a IA

Os executivos precisam ter um bom entendimento da tecnologia da informação para fazer com que ela gere valor e para ter uma interação produtiva com os profissionais de TI. No entanto, esses últimos sempre se queixaram do conhecimento limitado de muitos executivos sobre tecnologia da informação.

Por sua vez, muitos executivos (muitas vezes inconscientemente) se recusaram a desenvolver essa alfabetização em TI, preferindo concentrar seu tempo e atenção no domínio de negócios.

No entanto, evidências recentes indicam que as organizações que se abrem para o potencial estratégico da inteligência artificial têm executivos e líderes que seguem o caminho oposto: eles têm um conhecimento mais profundo da funcionalidade da IA.

Com base em vários estudos recentes e em andamento sobre o aprendizado em IA incluindo análises de 6.986 habilidades de IA de executivos, estruturas de 645 empresas e estudos experimentais sobre colaboração entre pessoas e IA, sugerimos um novo direcionamento para o conhecimento de IA por parte dos executivos: fazer do desconforto tecnológico um hábito.

Este artigo apresenta três maneiras de desenvolver e praticar o hábito do aprendizado em IA:

1. Aceite o ônus do aprendizado contínuo sobre IA

Para ser capaz de lidar com as implicações comerciais e tecnológicas da IA, os executivos devem aceitar o ônus de manter o próprio entendimento de IA atualizado pelo topo. Há duas razões para isso. Primeiro, IA é uma denominação genérica, e vem sendo usada em excesso, que engloba ferramentas tecnológicas com propriedades muito diversas. As funções organizacionais precisam de diferentes aplicativos de IA bem adaptados aos seus próprios dados e fluxos de trabalho. Por exemplo, enquanto os aplicativos de chatbot de IA baseados em LLMs podem tornar a equipe de atendimento ao cliente mais produtiva no suporte de vendas e serviços, os algoritmos de árvore de decisão permitem aplicativos que simplificam o trabalho de manutenção preditiva para operações de serviço. Saber a diferença entre essas tecnologias de IA será crucial para os gestores que administram e refinam continuamente os processos.

Segundo, os aplicativos de IA estão mudando a uma velocidade espantosa, e o topo da organização espera que os líderes de negócios acompanhem as oportunidades de transformação que se abrem a partir desses avanços. Por exemplo, menos de meio ano após a popularização do ChatGPT da OpenAI, a empresa francesa de comunicações Bouygues Telecom implantou ferramentas generativas de IA em seu processo de atendimento ao cliente, desafiando os executivos da empresa a entender rapidamente a tecnologia e como ela diferia da IA anterior. Para atender às expectativas, os executivos não precisam desenvolver habilidades profundas de codificação, mas precisam de uma compreensão sólida dos princípios fundamentais de IA. Em alguns casos, isso exigirá que os executivos absorvam mais conhecimento tecnológico do que prefeririam.

Quão atualizados são os executivos em todas as áreas quanto ao seu conhecimento do que significa IA e quais dos seus tipos de aplicativos são relevantes para suas equipes e os riscos e benefícios associados?

Nossa análise baseada nas habilidades de IA autodeclaradas online pelos executivos em 2023 revelou que 8% deles, nos Estados Unidos, têm níveis substanciais de conhecimento conceitual sobre tecnologias de IA como o deep learning. No setor de tecnologia, o número médio de informação em IA sobe para 18%. (Veja abaixo dados de outros setores") Não surpreendentemente, em todas as empresas tidas como unicórnios - empresas de capital fechado com uma avaliação acima de US$ 1 bilhão - têm uma média de conhecimento em IA mais alta, de 23%.

gráfico de pesquisa com executivos

O baixo índice geral de conhecimento é um problema para os executivos de hoje, que enfrentarão cada vez mais processos ou produtos descritos como "movido a IA". Para que possam avaliá-los adequadamente em um contexto maior da estratégia e das operações da organização, e até mesmo para fazer as perguntas certas, exige-se que os executivos tenham um aprendizado maior sobre IA.

Como os executivos podem incluir o aprendizado contínuo em suas rotinas. Eles devem estabelecer contatos regulares com especialistas em IA em suas organizações, participar de programas educacionais de tecnologia feitos para executivos e alocar tempo para o aprenderem sozinhos. A chave para o sucesso é que os líderes precisarão deixar repetidamente suas zonas de conforto porque a IA envolve um conjunto complexo de tecnologias. Mas compreender quais tipos existem, como eles diferem e como eles impactam os negócios é o essencial.

2. Impulsione o aprendizado em toda a diretoria

Alguns executivos podem não estar interessados em saber por que a IA é relevante para a organização e podem ver esse aprendizado como algo penoso. No entanto, ele não é opcional: a IA está impulsionando mudanças tão profundas nos processos em toda a empresa, que essas podem se tornar riscos e oportunidades estratégicas significativas dentro das áreas de responsabilidade de cada executivo.

Por essa razão, parte de se promover o aprendizado da IA para executivos é mostrar que o conselho todo deve se sentir desconfortável com o desconhecimento. Aqueles que já enxergam essa necessidade devem defender junto aos seus pares que cada pessoa precisa se tornar letrada em IA.

Pode-se esperar que pessoas em uma posição de CDO (chief data officer) trabalhem com o CTO para desenvolver um plano de incorporação da IA. No entanto, nossa análise de estruturas de conselhos de 645 empresas mostrou que as empresas que estão se destacando na adoção de IA têm conselhos com um alto nível geral de conhecimento em IA. Um conselho com muitos executivos nessa condição é capaz de trazer várias perspectivas sobre IA para a discussão, o que leva a um exame de mais alternativas e possibilidades e decisões estrategicamente superiores relacionadas à IA.

Enquanto, em média, apenas 3% dos executivos das empresas do S&P 500 tem um aprendizado adequado em IA hoje, algumas empresas, como a FedEx, já têm uma taxa de conhecimento em IA de 29%. A IA deve ser vista em geral como um esporte coletivo, mas as empresas de hoje ainda não entenderam totalmente que todos os membros da equipe executiva precisam fazer parte dela.

Como os executivos podem impulsionar o aprendizado em todo a diretoria. Eles têm de se esforçar para construir uma minicomunidade de aprendizagem. Por exemplo, podem se comprometer com o desenvolvimento mútuo, tornar as implicações de IA parte dos requisitos de relatórios de cada membro e convidar especialistas no tema para falar nas reuniões do conselho. Abordar coletivamente a IA não apenas promove uma cultura de aprendizado contínuo, mas também garante que ela seja vista como parte integrante da visão estratégica da organização. Ao abraçar o desconforto relacionado à tecnologia como um esforço coletivo, as equipes executivas podem aproveitar suas diversas perspectivas para identificar possíveis armadilhas e oportunidades apresentadas pela IA.

3. Prepare-se para efeitos inesperados

A IA pode causar resultados inesperados e contraintuitivos. Por exemplo, ao estudar colaborações entre humanos e IA, vimos que pessoas podem ter um desempenho mais com a colaboração da IA, mas isso também pode diminuir a intenção de uma pessoa de usar a IA – potencialmente devido à percepção da tecnologia como uma ameaças ao trabalho. Apesar da tendência da gestão para evitar o inesperado, os executivos devem avançar no desenvolvimento de IA, mas se preparar o máximo possível para consequências não previstas.

Por exemplo, implantar soluções de IA generativas que produzem alucinações (ou seja, fornecem informações imprecisas ou sem sentido) pode causar problemas jurídicos à empresa. Quando as ferramentas têm uma taxa de alucinação significativa, isso pode desencorajar seu uso e frustrar os técnicos, que precisarão atualizar frequentemente seus conhecimentos de desenvolvimento à medida que as ferramentas de IA evoluem. Devido a esses impactos na organização, os executivos devem explorar continuamente os efeitos benéficos e não benéficos da IA. O desconforto produtivo inclui desafiar sua capacidade de antecipar as consequências da IA.

Como você pode assumir a tarefa do aprendizado contínuo. Aprenda com seus pares, estude as implementações de IA de outras organizações. A Amazon descontinuou sua ferramenta de recrutamento baseada em IA em 2018, quando perceberam que discriminava mulheres. No entanto, há muitas falhas de IA com as quais aprender – e para os executivos que estão construindo essa alfabetização em IA, o tempo usado para estudar os sucessos e fracassos de projetos de IA e como eles poderiam ser emulados, mitigados ou evitados é tempo bem investido.

A ERA DA IA EXIGE UMA MUDANÇA de paradigma no pensamento executivo. Os líderes não podem mais se contentar com uma compreensão periférica dos aplicativos de TI. Ao buscar ativamente o desconforto relacionado à tecnologia e transformá-lo em uma busca incansável pelo conhecimento sobre a IA, os executivos podem levar suas organizações ao sucesso. O desafio é vasto, mas as recompensas potenciais para aqueles dispostos a abraçar esse ônus são enormes.

SOBRE O ASSUNTO LEIA TAMBÉM: Lideranças, IA e a síndrome de Benjamin Button

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Autoria

Marc Pinski, Monideepa Tarafdar e Alexander Benlian

Marc Pinski é pesquisador de sistemas de informação na Technical University of Darmstadt, na Alemanha. Monideepa Tarafdar ensina sistemas de informação na Amherst's Isenberg School of Management da University of Massachusetts, EUA. Alexander Benlian é professor titular de sistemas de informação e serviços eletrônicos na Technical University of Darmstadt.

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