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Qual blockchain é mais adequado ao posicionamento competitivo das empresas?

Questão ajuda a desmitificar o debate do blockchain público versus privado, mostrando ainda que o conhecimento sobre o uso da tecnologia ainda precisa evoluir

Tatiana Revoredo
12 de julho de 2024
Qual blockchain é mais adequado ao posicionamento competitivo das empresas?
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“Vimos nos artigos anteriores a relação entre blockchain e modelos de negócio em rede, interface off line e registro blockchain, o papel do blockchain nos NFTS, o uso de dApps nos negócios e, por fim, como contratos inteligentes podem otimizar negócios.

Hoje, vamos explorar alguns casos de uso com o objetivo de aclarar qual o melhor blockchain para o modelo de negócio da sua empresa. Nosso enfoque será no tipo de blockchain. Os modelos de permissão serão tratados em outro artigo.

O debate blockchain público versus privado

Para empresas que estão lançando novos projetos blockchain, uma das considerações mais preocupantes é a escolha de um blockchain público ou privado, e quais os modelos de permissão.

O tipo de blockchain a ser adotado é uma decisão crucial no projeto, dado que afeta a funcionalidade, a segurança, a compatibilidade com os sistemas de outros stakeholders e, principalmente, o posicionamento competitivo das empresas.

Aqui é importante observar que o espaço blockchain geralmente está cheio de controvérsias decorrentes da maturidade inicial da própria tecnologia, e do consequente desalinhamento de definições, inclusive quanto ao próprio termo blockchain significando coisas diferentes para pessoas diferentes.

Para se ter uma ideia, alguns especialistas dizem que um critério vital para classificar um blockchain como público ou privado é se ele realmente é descentralizado. Outros defendem que deveria existir um espectro de descentralização mais ajustado.

Contudo, ao olharmos a fundo os casos de uso ao longo dos últimos anos, percebe-se que os blockchains públicos e privados são úteis para alcançar objetivos diferentes e atender aos requisitos específicos de cada projeto.

Muitos veem que no curto prazo, os blockchains privados são o caminho mais provável para determinado setor ou indústria começar a usar a tecnologia blockchain. E realmente as redes privadas ajudam a aclimatar culturas organizacionais, compliance, dentre outros fatores.

No entanto, à medida que determinado setor se torna mais confortável com o blockchain, essa tecnologia deixa de ser uma incógnita aos players. Assim, percebe-se que a busca por cadeias públicas ou cadeias privadas se dá de acordo com a necessidade de cada projeto.

Para compreender melhor, vejamos alguns casos de uso, começando com um exemplo na área portuária.

O Porto de Genova, uma comunidade empresarial que em 2018, lançou um projeto que visava a introdução da tecnologia blockchain nos processos portuários. O projeto incluiu a criação de um blockchain privado e a instrumentação do Port Community System para registro no blockchain de transações correspondentes às operações portuárias entre as entidades do porto em tempo real.

Nesse passo, a escolha do blockchain privado pelo Porto de Gênova foi justificada pela necessidade da criação rápida de um blockchain, para se concentrar nos aplicativos e não na tecnologia em si.

Com o tempo, entretanto, percebeu-se a necessidade de criar uma linha de pesquisa paralela ao projeto com o fim de investigar a migração para um blockchain público, bem como a possibilidade de integração e interoperabilidade com outros blockchains. Comentei detalhadamente sobre os estágios da interoperabilidade na evolução dos blockchains.

Na hipótese, a escolha tecnológica do tipo de blockchain, com a constatação posterior de possível migração para um blockchain público, levou em consideração: governança, proteção de dados pessoais, desempenho do sistema, interoperabilidade e segurança cibernética.

Outro exemplo, importante para desmistificar a premissa “o melhor blockchain para empresas é sempre um blockchain privado?”, é uma solução que usa o blockchain público do Bitcoin no setor de logística.

A DexFreight, empresa de logística com sede na Flórida, buscou uma solução blockchain construída sobre a tecnologia RSK, que adiciona funcionalidades de contratos inteligentes mais sofisticadas ao blockchain público do Bitcoin. Como a DexFreight lida com pagamentos entre diferentes partes em criptomoeda e usa contratos inteligentes para ajudar a verificar a identidade e criar um sistema de reputação objetivo entre remetentes, corretores e transportadoras.

Para tanto, o DexFreight armazena hashes de atributos sensíveis, como conhecimentos de embarque, confirmações de taxas, provas de retirada, entrega e pagamento no blockchain público do bitcoin. Todas as informações originais, aliás, são armazenadas na nuvem corporativa.

No caso do DexFreight, a escolha tecnológica do tipo de blockchain levou em consideração: (1) acesso aos dados; (2) integridade e segurança dos dados e desempenho. A solução é resistente à censura, e a natureza pública do blockchain significa que os stakeholders não tem poder para adulterar os registros após inseridos no blockchain (a imutabilidade é mais robusta num blockchain público).

Nessa discussão, o importante é que a indústria passe do debate público versus privado para um embate mais sólido que se concentre profundamente na implantação de soluções onde requisitos específicos das empresas possam ser atendidos. Uma solução blockchain específica para determinado caso de uso deve preencher requisitos como:

1 – Integridade operacional;

2 – Conformidade (como KYC/ AML, questões regulatórias cruciais para provedores de pagamento e serviços financeiros);

3 – Interoperabilidade (interação com outros processos e sistemas existentes);

4 – Requisitos de segurança (segregação de dados, privacidade, etc.);

5 – Escalabilidade.

Nesse passo, os tomadores de decisão devem observar o contexto do seu caso de uso específico e considerar os requisitos acima com uma abordagem proativa, considerando que a tecnologia blockchain não é estática.

Dentro das indústrias fortemente regulamentadas, no curto prazo, as redes privadas tendem a ser mais prevalentes, vez que os dados podem ser protegidos de maneira mais controlada e centralizada para fins de conformidade. Todavia, à medida que a tecnologia vai se desenvolvendo, soluções inovadoras como Zero Knowledge Proof e Homomorphic Encryption irão possibilitar a proteção de dados críticos também nos blockchains públicos.

Ainda, se o ideal para seu caso de uso é explorar tanto a imutabilidade e a difusão global de dados (proporcionados pelos blockchains públicos) quanto à alta velocidade das transações e o controle mais rigoroso do registro de dados (propiciados pelos blockchains privados), por que não usar um blockchain híbrido?

Não existe o melhor blockchain. Existe a solução blockchain mais adequada para o posicionamento competitivo da sua empresa.

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Tatiana Revoredo
Tatiana Revoredo é especialista em aplicações de negócios blockchain e em estratégia de negócios em inteligência artificial pela MIT Sloan School of Management, em inteligência artificial pelo MIT CSAIL e em mitigação de riscos cibernéticos pela Harvard University. Estrategista de blockchain pela Saïd Business School, University of Oxford, ela é professora do curso “Blockchain para negócios“ no Insper e autora de três livros sobre esses temas.

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