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Que problema o CFO está resolvendo?

CFOs e outros profissionais de finanças estão diariamente em busca de respostas para solucionar inúmeros desafios. No entanto, e se antes de procurarmos as respostas fizéssemos as perguntas corretas? O escritor e professor Hal Gregersen tem um conceito ideal sobre essa questão

Colunista Paulo Mendes

Paulo Mendes

22 de Junho

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Artigo Que problema o CFO está resolvendo?

A pergunta no título deste artigo parece trivial, afinal, se há algo que os CFOs resolvem são problemas. No entanto, a questão se conecta diretamente tanto ao lema do Massachusetts Institute of Technology, “Mens et Manus” – que em tradução livre do latim significa, “Mente e Mão” –, quanto a um de seus preceitos mais conhecidos: what problem are we solving for?

Nelson P. Repenning, reitor associado de liderança e projetos especiais do MIT, mencionou oportunamente em artigo de sua autoria esta questão e refletiu que “fazer as perguntas certas podem desbloquear energia e inovação em sua equipe”.

Essa provocação está conectada de forma muito oportuna aos desafios que CFOs e profissionais de finanças de todo o mundo têm enfrentado nos últimos anos, seja nas formas de gerar valor ao acionista, seja na perenidade e sustentabilidade do negócio ou na gestão de seus times e no enfrentamento de novos desafios.

Sabemos que no mundo corporativo todos estão em busca de respostas. No entanto, e se invertêssemos essa lógica, trazendo para discussão primeiramente as perguntas?

Catalytic questioning

Durante meus estudos em Boston, no curso advanced management program, tive a oportunidade de conviver, por cinco semanas de intenso aprendizado, com pessoas de 14 nacionalidades. Saímos impactados pelo escritor e professor Hal Gregersen, que nos provocou com a aplicação do conceito do catalytic questioning.

Em um primeiro momento, estranhei o termo. Entretanto, ao ouvir a explanação dele, compreendi o quanto esse conceito se enquadra na atualidade, especialmente no que se refere à tomada de decisão do CFO e à necessidade de possuirmos uma visão mais ampla dentro das organizações.

Hal Gregersen resume em cinco passos o ‘questionamento catalítico’, uma maneira de, segundo ele, resolver problemas significativos de maneira criativa:

1. Limpe a ‘lousa mental’, pegue uma lousa branca (flip-chart) e estimule o processo de formulação de perguntas por sua equipe;

2. Escolha um problema para o qual verdadeiramente sua equipe não tenha a resposta. Envolva a cabeça e o coração neste problema. A busca pela resposta se tornará mais intrigante;

3. Realize uma rodada em grupo envolvendo apenas perguntas (não vale reagir às perguntas ou enviesar a resposta);

4. Defina em sua lista quais perguntas parecem mais ‘catalisadoras’, que tenham mais potencial para perturbar o status quo;

5. E mãos à obra. Após os quatro passos anteriores, encontre respostas e estimule a sessão de brainstorming.

Novo mundo, novas reflexões

Uma das conclusões sobre a metodologia de Gregersen é de que as perguntas podem ser um catalisador para a solução dos desafios que o mercado e a sociedade impõem a todos nós. Mais do que isso, o ‘questionamento catalítico’ nos traz uma reflexão sobre a importância de pensar, planejar e refletir sobre qual problema, de fato, queremos ou precisamos resolver.

Como CFO de uma empresa de tecnologia, a SAP Brasil, constantemente me disciplino a fazer perguntas para tomar, com o máximo de precisão e dentro do cenário possível, as melhores e mais ágeis decisões. Normalmente, as perguntas das pessoas quem não necessariamente estão envolvidas diretamente no problema são as que mais colaboram.

Nesse sentido, o ‘novo CFO’, termo que temos ouvido bastante, se encaixa no conceito proposto por Gregersen. Ser um bom líder de finanças envolve tomar boas decisões, baseadas em dados e sustentadas por projeções que indiquem caminhos assertivos, seguros e benéficos para a saúde financeira da organização.

Assim, o trabalho consiste em saber fazer perguntas e balancear a necessidade de tomar decisões rápidas, mas ao mesmo tempo precisas, não deixando de realizar a devida gestão de riscos. O uso intensivo de tecnologia, no processo de tomada de decisão, não deve perder de vista o poder das perguntas, como sugere o professor Hal.

Algoritmos, alavancados pela inteligência artificial e machine learning, certamente podem rapidamente indicar respostas, mas nada substitui o olhar humano do profissional de finanças, considerando sua experiência, visão de negócio, leitura dos stakeholders internos, gestão da mudança e, como destacamos aqui, o poder catalisador das perguntas.

Que tal tentar esse exercício em seu próximo desafio? As perguntas podem ser surpreendentes, e as respostas, mais ainda.

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Autoria

Colunista Paulo Mendes

Paulo Mendes

É vice-presidente global de finanças e CCO da área de customer success da SAP Brasil. Com formação em administração de empresas pela EAESP/FGV, é mestre em economia pelo Insper e especialista em gestão, inovação e tecnologia pelo MIT Sloan School of Management, além de membro da diretoria executiva do IBEF-SP e conselheiro da Bluefields Aceleradora. Foi eleito pelos pares como “top 20 CFO – Anuário Análise” em 2018, 2019 e 2020.

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