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Subindo os morros da transformação digital inclusiva

As publicações sobre transformação digital alimentam uma bolha: são criadas e voltadas aos grandes players; assim, é preciso incluir métodos, aprendizados e linguagens de transformação digital para os nano e micro negócios espalhados à margem no mercado

João Souza
30 de julho de 2024
Subindo os morros da transformação digital inclusiva
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Há 1 ano, compartilhava com vocês algumas ideais sobre a revolução dos polegares opositores e como o “joinha” se transformou em um dos símbolos da era digital. No entanto, como todo processo evolutivo, isso não é apenas biológico, mas também social e, desse modo, segue o fluxo das erosões do tempo, dos territórios e das dinâmicas políticas. A evolução do digital segue esse fluxo.

Com a atualidade dos teras e bites, a digitalização de formas e métodos se tonou algo necessário em escala global. E isso é importante. Entretanto, como incluir todos os tipos de trabalhos e tamanhos de negócios nesse ambiente e transformá-los e digitalmente de maneira sustentável?

Desde o início da pandemia, para evoluirmos na digitalização de ações essenciais para a sustentabilidade do negócio, tivemos que acelerar diversos processos internos no FA.VELA, organização de educação empreendedora no qual sou diretor de novos negócios e parcerias. No entanto, na medida em que avançávamos, surgia a necessidade de canalizar essas etapas para nossa comunidade empreendedora. Afinal, estávamos e continuamos no mesmo barco.

Quando começamos a refletir e desenhar sobre esse processo de transformação digital, a maioria dos materiais e publicações sobre assunto era feita por grandes players do setor da tecnologia e gestão, sendo destinada para esse mesmo nicho de negócio. Assim, esses discursos, métodos e linguagens desapareciam quando esbarrava nos nano e micro negócios espalhados pelas periferias e centros urbanos, pois os corres e perspetivas dessa galera são outros. Ou seja, enquanto os grandes estão numa situação de presença e manutenção de mercado, os nanos vivem apenas querendo colocar o feijão na lata e ter uma estabilidade nas contas.

Nessa linha, de acordo com pesquisa disponibilizada pelo Sebrae e elaborado pela Global Entrepreneurship Monitor (GEM), o número de pequenos e micro negócios ativos, que era por volta de 22,3 milhões até em 2019, chegou a12 milhões em 2020. O relatório também apontou que o índice de empreendedorismo entre adultos caiu para 31,6% em 2020 em relação aos 38,7% de 2019. A percentagem de 2020 representa o menor patamar dos últimos oito anos. Muito desses números pode ser atribuído à falta de planejamento gerencial, mas também pelos desafios impostos pela transformação digital.

Desse modo, começamos a entender que, mais do que a transformação digital, é preciso primeiramente pensar em inclusão. Aí é que o bicho pega.

Escola como plataforma de impulsionamento

A pandemia e o isolamento social aceleraram várias mudanças e colocou outras em curso nas dimensões dos negócios, sobre como inovar e o quanto entendemos os desafios, e as respostas que criamos para eles. A pandemia intensificou os desafios que a economia digital e uma inclusão digital precarizada trazem. Entretanto, a peste trouxe também um olhar cuidadoso da inclusão como fator decisivo nesses processos.

Mas como botar esse olhar na prática?

Em maio de 2020, redesenhamos o Escola para um formato completamente digital um programa de formação continuada, oferecido aos empreendedores da nossa base. Temos seis produtos gratuitos para ler, ouvir e aprender, como podcasts, e-books, mentorias e aulas online. O Escola foi a nossa gasolina numa grande máquina de aprendizado, tendo as engrenagens da transformação digital inclusiva como peças-chave.

O olhar atento para incluir a perspectiva da aprendizagem, linguagem e da aplicação ou assimilação de qualquer novo conceito, prática ou metodologia, é o nosso pilar. E fazemos toda a diferença ao falarmos da base para a base.

Em seis meses de execução, nosso Escola já estava em mais de nove estados brasileiros e com mais de 100 pessoas em nossa sala de aula virtual. Hoje, nossa plataforma já produziu mais de 18 horas de conteúdo audiovisual que impactaram mais de 380 empreendedores de 18 estados do País.

Esse resultado de produtos, abordagens e também de estratégia vem de um processo de aprendizagem interna e também de um olhar sobre tendências e demandas reais de quem vai se beneficiar e está (ou pode estar) ao nosso lado. No entanto, como todo veículo, ao longo desse período, muitas peças foram sendo trocadas e outras tivemos que dar aquele upgrade.

E seguimos com o Escola, acelerando e subindo morros. E por aí, como anda a transformação digital?

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João Souza
Futurista negro, head da plataforma de inovação social Futuros Inclusivos, é empreendedor social reconhecido pela rede global Ashoka. É sócio e diretor-presidente do FA.VELA, um hub de inovação social, aprendizagem inclusiva e empreendedorismo que atua na aceleração de pessoas, territórios e negócios, fundado em 2014.

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